Os quatro candidatos à presidência da Câmara têm uma característica comum: Rodrigo Maia (DEM-RJ, Jovair Arantes (PTB-GO), Rogério Rosso (PSD-DF) e André Figueiredo (PDT-CE), todos eles estão dispostos a apoiar a bancada da corrupção, que é amplamente majoritária na Câmara e domina também o Senado. Como se sabe, Maia tem muita chance; Arantes, alguma chance; Rosso e Figueiredo, nenhuma chance. Mas nada disso importa. Seja qual for o vencedor, serão recolocados em pauta os projetos destinados a inviabilizar a Lava Jato, defendidos pelo Palácio do Planalto e pela bancada da corrupção, claro.
Enquanto a presidente Dilma Rousseff esteve no poder, os interessados no impeachment demonstravam algum pudor em atacar a Lava Jato. Mas depois que a Câmara aceitou abrir o processo e o vice-presidente Michel Temer assumiu, a situação mudou inteiramente e começaram a surgir os criativos projetos da chamada Operação Abafa.
A maioria dos deputados e senadores só pensa naquilo. mas o grande problema é a internet. O governo sabe como dar um jeito de conseguir a compreensão da grande mídia, digamos assim. No entanto, não há como silenciar sites e blogs ou bloquear e-mails, mensagens, redes sociais e whatsapp, que realmente fazem a diferença.
GRAÇAS À INTERNET – No Congresso, estava tudo praticamente certo para uma anistia ampla, geral e irrestrita, como se dizia na época do regime militar. Mas a reação de dois deputados da oposição – Miro Teixeira (Rede-RJ) e Ivan Valente (PSol-SP) – conseguiu abortar a primeira tentativa, armada por Rodrigo Maia para isentar de punições os crimes de caixa 2 em campanhas eleitorais, em sessão convocada para segunda-feira à noite.
A bancada da corrupção tem votos para aprovar facilmente qualquer proposta desse tipo, mas está faltando coragem, porque a repercussão na internet foi tão contundente que os mentores da Operação Abafa tiveram de recuar. E no dia 28 de novembro, em pleno domingo, o presidente Michel Temer convocou uma entrevista coletiva juntamente com Rodrigo Maia e Renan Calheiros, para garantir que não haveria anistia ao caixa 2 eleitoral. A decepção dos três, ao anunciar o recuo, foi constrangedora e reveladora.
PEQUENO DETALHE – Sintomaticamente, os três mosqueteiros (que são quatro, mas Eliseu Padilha faltou) não tocaram nos demais pontos defendidos pela bancada da corrupção – abuso de autoridade, leniência para inocentar empresários e políticos envolvidos em corrupção, fixação de data-limite para escuta telefônica com autorização judicial, rejeição de provas não-autorizadas, mesmo obtidas de boa fé etc. Como se vê, no pacote da Operação Abafa a anistia ao caixa 2 eleitoral é apenas um pequeno detalhe, como diria a ex-ministra Zelia Cardoso de Melo.
Os dois candidatos com chances de vitória na Câmara – Rodrigo Maia e Jovair Arantes – já deram declarações anunciando que colocarão em pauta os projetos contra a Lava Jato. O petebista Arantes abriu o jogo e foi logo dizendo que vai pautar a anistia ao caixa 2, se for eleito. O democrata Maia foi mais cauteloso e disse que pretende colocar em pauta a proposta sobre abuso de autoridade. Mas é só um jogo de palavras, um lance de faz-de-conta, porque na hora da votação é só apresentar uma destaque instituindo a anistia ao Caixa 2, e estamos conversados.
NOVA REAÇÃO – O jogo já começou, com cartas marcadas. Não fará a menor diferença o julgamento das ações apresentadas ao Supremo para impedir a candidatura de Rodrigo Maia à reeleição. Se ele não puder disputar, Jovair Arantes vai comandar a Câmara e fazer um verdadeiro festival, assumindo claramente a liderança da bancada da corrupção, sem o menor pudor.
A nova geração de integrantes do Ministério Público, da Polícia Federal, da Justiça e da Receita Federal está mostrando que é possível combater a corrupção administrativa. Mas os políticos querem inviabilizar as operações saneadores, como Lava Jato, Zelotes, Janus etc.
A única maneira de impedir que se concretize a Operação Abafa é armar uma nova reação na internet, usando todas as armas – sites, blogs, e-mails, redes sociais, mensagens e whatsapp. Como dizia o célebre almirante Francisco Barroso, este pais espera que cada um cumpra seu dever.
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PS 1 – Um dos projetos da Operação Abafa chegou a ser aprovado pela Câmara, que adulterou a proposta das 10 medidas contra a corrupção, redigida por membros do Ministério Público Federal. A bancada da corrupção no Senado também ia transformar em lei essa monstruosidade (apelidada de Projeto Frankenstein), quando o ministro Luiz Fux, do Supremo, determinou que o texto voltasse a ser discutido pelos deputados, ou seja, que a tramitação retornasse à estaca zero. A decisão foi liminar, o plenário do Supremo ainda decidirá se mantém ou não a decisão do ministro. E aí saberemos se tudo está dominado também no STF.
PS 1 – Um dos projetos da Operação Abafa chegou a ser aprovado pela Câmara, que adulterou a proposta das 10 medidas contra a corrupção, redigida por membros do Ministério Público Federal. A bancada da corrupção no Senado também ia transformar em lei essa monstruosidade (apelidada de Projeto Frankenstein), quando o ministro Luiz Fux, do Supremo, determinou que o texto voltasse a ser discutido pelos deputados, ou seja, que a tramitação retornasse à estaca zero. A decisão foi liminar, o plenário do Supremo ainda decidirá se mantém ou não a decisão do ministro. E aí saberemos se tudo está dominado também no STF.
PS 2 – Se o genial Plínio Marcos ainda estivesse por aqui, certamente escreveria uma nova versão de sua peça mais famosa, desta vez em homenagem a Rodrigo Maia e Jovair Arantes: “Dois perdidos numa política suja”. (C.N.)
18 de janeiro de 2017
Carlos Newton
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