Por decisão do presidente Obama, mais 300 marines dos Estados Unidos foram mandados para a Província de Helmand, no Afeganistão – é a primeira vez em três anos que a zona de conflito recebe soldados do exército dos Estados Unidos. Quase todo o distrito de Helmand, a não ser pela sua capital, Lashkar Gah, ou está envolvido em batalhas pesadas ou totalmente controlado pelo Talibã. A província é o principal produtor de ópio do país.
Apesar de todas as promessas de retirada, permanecem no Afeganistão 8.400 tropas que ali ficarão mesmo depois que Obama deixar o gabinete em 20 de janeiro. Caso os (norte)americanos deixem o país, dificilmente o governo afegão atual continuará no poder.
Já há 15 anos as forças (norte)americanas estão engajadas em ações de combate – de longe a mais longa guerra travada pelos Estados Unidos – e não há previsão para o fim das hostilidades.
Depois que os soldados do Talibã realizaram tentativas de invadir a capital, cerca de 200 soldados da OTAN, principalmente italianos, também foram mandados para a instável província de Farah, a oeste do país.
Cerca de um terço do país, do país – mais território que em qualquer tempo desde 2001 – ou está sob controle dos insurgentes ou em risco de cair em breve. Em várias cidades estrategicamente importantes, as forças do Talibã estão desafiando as forças afegãs de segurança. Há dúvidas sobre a capacidade do governo em controlar o país, desde que há conflitos em 24 das 34 províncias do Afeganistão.
Em dezembro passado, o general John Nicholson, comandante em chefe dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão disse que o governo afegão controla atualmente cerca de 64% da população do país, de 30 milhões de pessoas, abaixo dos 68% que controlava no início de 2016.
De acordo com Robert Grenier, que foi o oficial sênior do contraterrorismo da CIA e chefiou a base da agência em Islamabad, no Paquistão, de 1999 a 2000, parece inevitável que grandes partes do país, principalmente no Sul e no Leste, caiam nas mãos dos Talibãs, que deverão estabilizar seu controle sobre essas áreas. As forças afegãs sofreram mais de 15.000 baixas nos oito primeiros meses de 2016, entre elas mais de 5.500 mortes.
Enquanto líderes regionais e senhores da guerra ganham proeminência, o governo de Kabul perde coesão. Segundo a ONU, sete milhões de afegãos necessitam de ajuda e 2.2 milhões sofrem de desnutrição. A pobreza e o desemprego fazem que os jovens fiquem propensos a se juntar a grupos extremistas.
Depois que a infraestrutura de extração de petróleo em mãos do Estado Islâmico foi destruída na Síria pelas forças da Federação Russa, a questão do controle das rotas de heroína na Afeganistão tornou-se crucial para o grupo extremista. Os militantes do Estado Islâmico fazem US$ 1 bilhão por ano com a heroína afegã, de acordo com o Serviço de Controle de Drogas da Rússia (FSKN). A possibilidade de uma aliança entre o Talibã e o Estado Islâmico é um pesadelo cada vez mais real.
Oficiais afegãos se aproximaram da Rússia, solicitando a retomada de cooperação. Estes representantes do país acreditam que a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) pode ajudar a administrar a crise. Oficiais da OTAN também fizeram declarações apoiando uma retomada de cooperação entre a Rússia e a OTAN no Afeganistão. Depois que a Crimeia se tornou mais uma vez parte da Federação Russa em 2014, essa cooperação foi interrompida.
Moscou permitiu que cargas não militares atravessassem seu território, oriundas de países da OTAN e de países da ISAF (International Security Assistance Forces – Forças Internacionais de Assistência para a Segurança) não pertencentes à OTAN. A OTAN se utilizou do centro de trânsito em Ulyanovski. Um programa comum de treinamento e prevenção para o comércio de drogas foi implementado pelas partes na Ásia Central.
A Rússia concordou em vender equipamento e munição para apoiar as operações da OTAN no Afeganistão. Por exemplo, em 2010 a OTAN comprou 31 helicópteros MI-17 da Rússia, para renovar o estoque do exército afegão.
Contra o pano de fundo do sensacionalismo que cresce nos Estados Unidos quanto à “ameaça” que vem de Moscou, Washington teve que levantar parcialmente as sanções contra a cooperação russa na manutenção dos helicópteros. E não foi só dessa vez. Os Estados Unidos quebraram o seu próprio regime de sanções para permitir a aquisição de tecnologia russa para seu programa espacial.
O governo afegão precisa desesperadamente de mais helicópteros russos para repelir os ataques do Talibã e do Estado Islâmico. Em 2016 pediram formalmente ao governo russo que iniciasse as entregas.
Caso a Rússia entregue seu equipamento de aviação para o Afeganistão, claro que necessitará treinar pessoal afegão. Formalmente, é exatamente o que estão fazendo a OTAN e os Estados Unidos no Afeganistão nesse exato momento – eles estariam no país em missão de aconselhamento e treinamento. Na realidade, tudo isso significará o reinício da cooperação enquanto estiverem EUA/Rússia trabalhando na mesma missão.
O presidente russo Vladimir Putin recentemente expôs sua preocupação sobre a situação do Afeganistão e pediu por esforços urgentes para resolver o problema. A instabilidade no país se espalha para a Ásia Central, representando uma ameaça direta para a segurança da Rússia. Quase 2.000 militantes que operam nas províncias ao norte do Afeganistão vieram de países do espaço pós União Soviética.
Há um crescente risco de ataques extremistas em países aliados a Moscou. Militantes com experiência de combate recebida na Síria já foram vistos no Vale de Fergana, no Uzbequistão. A infiltração do Estado Islâmico para o Afeganistão ameaça o Cáucaso Norte da Rússia e a região do Volga. Além disso, a heroína oriunda do Afeganistão mata 25.000 russos anualmente.
Apenas um esforço internacional poderá resolver a questão quentíssima do Afeganistão. Trata-se de assunto de interesse comum para a Rússia e para a OTAN. A situação do país poderia ser discutida dentro do quadro de trabalho do Conselho Rússia/OTAN. Em quatro de janeiro o Ministro russo de Relações Exteriores fez uma declaração importante, ao dizer que a Rússia está pronta para restaurar suas relações com a OTAN. O Afeganistão pode se tornar o ponto de reinício no caminho para reconstruir o relacionamento quebrado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Traduzido por B.T.P. Silveira, o importante artigo foi enviado por Sergio Caldieri. Mostra que o democrata Obama Barack ganhou o Prêmio Nobel da Paz injustamente. A partir de sexta-feira, vamos saber como vai se comportar Donald Trump, o empresário e apresentador de TV que conseguiu se tornar o homem mais poderoso do planeta e também pode ser candidato ao Nobel, se não for considerado a Piada do Ano. Vamos aguardar. (C.N.)
18 de janeiro de 2017
Peter Korzun
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