"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O ESTUDO SOBRE OS 8 BILIONÁRIOS E A METADE MAIS POBRE DA POPULAÇÃO MUNDIAL NÃO É CONFIÁVEL





Não passa de uma propaganda esquerdista disseminada por toda a imprensa

Carlos Góes é presidente do Conselho Executivo do Instituto Mercado Popular, um laboratório de políticas públicas que oferece uma visão libertária da realidade. Assim como o Implicante, ele olhou com estranheza a notícia de que 8 bilionários somariam sozinhos mais grana do que metade da população mundial.

Isso tinha um cheiro forte de pauta plantada por uma organização esquerdista para vender a ideia de que o capitalismo deixa o mundo mais desigual. 
Em texto publicado no perfil pessoal dele no Facebook, a farsa foi desmontada.

A principal malandragem da Oxfam estava na definição da massa mais pobre do planeta. Para tanto, subtraía do patrimônio dos cidadãos as dívidas que contraíam. Desta forma, como explica Góes, um estudante americano que conclui os estudos nas mais caras escolas dos Estados Unidos, por ainda não ter patrimônio, mas uma dívida enorme por quitar, entra na estatística como pobre. 
Assim como qualquer cidadão que possui dívidas maiores que o próprio patrimônio.

O próprio entendimento sobre dívidas é equivocado. Pois ele tem dois significados bem opostos. Podem tanto representar um péssimo pagador, que vai acumulando débitos, como um ótimo pagador, que, de tão confiável, consegue até mesmo dever muito mais do que ganha ou possui.

Ao final, sempre com links para as fontes citadas, o autor conclui: “o mundo está se tornando mais rico, mais justo e mais igual“. Contudo, o texto de Góes merece ser lido por completo. E o Implicante toma a liberdade de publicá-lo mais abaixo:





Eu não sou daqueles que dizem que desigualdade de renda não importa - até por isso parte dos meus escritos acadêmicos se concentram sobre ela. Para a imensa maioria das pessoas, desigualdades injustas naturalmente incomodam. Por exemplo, há evidências de experimentos em psicologia social que mostram que crianças preferem ficar sem brinquedos a ver a outra criança na sala arbitrariamente ganhar uma quantidade desporporcionalmente maior de brinquedos [1]. Por isso, se as pessoas acharem que a elas está sendo negada a oportunidade de conseguir vencer na vida por motivos injustos (por exemplo, por causa de elites que compram o apoio de políticos com doações eleitorais ou que proíbem que negros tenham acesso a boas escolas de brancos), elas vão se sentir revoltadas. Isso é natural.

Mas é importante que a gente trate esse assunto com seriedade. De fato, como documentado por Piketty e seus co-autores, a desigualdade de renda tem aumentado *nos países ricos* [2]. Quando consideramos *o mundo como um todo*, contudo, as melhores estatísticas que nos temos mostram que a desigualdade no mundo vem caindo há pelo menos quarenta anos [3] [4]. É o que mostra o gráfico ao lado.

É importante enfatizar isso: as manchetes fatalistas que usam dados da Oxfam não são confiáveis nem representam o estado da arte da evidência científica sobre a área. Há dois problemas fundamentais com os dados produzidos pela Credit Suisse que foram utilizados pela Oxfam.

A primeira é de ordem técnica. Ao contrário de dados sobre a renda, a grande maioria dos países não tem dados sobre os estoques de riqueza, uma vez que o que se taxa normalmente é a renda e não a riqueza. Esse fato limita a confabilidade das estatísticas sobre a riqueza. Os autores do relatório que produzem os dados dizem isso de forma explícita: "nenhum país no mundo tem uma fonte compreensiva que agrega informações sobre riqueza pessoal; e muitos países renda baixa e média não tem quase nenhuma evidência direta sobre o assunto" [5].

Ainda segundo o relatório da Credit Suisse, somente 23 países tem estimativas completas de riqueza do setor privado (conhecidas como "household balance sheets"). Outros 25 países tem dados parciais, detalhando a riqueza financeira mas não sobre a riqueza não financeira do setor privado. Isso é um problema por que, nos EUA, p.ex., a riqueza não financeira (imóveis, maquinários, etc.) é de cerca de 1/3 da riqueza total, o que significa que ignorar a parte não financeira é ignorar boa parte da realidade. Para os outros 150 países do estudo, os economistas da Credit Suisse fizeram extrapolações - que não são inúteis, mas tem suas limitações, já que não trazem informações completas [5].

O relatório original da Credit Suisse tem vários problemas além do mencionado acima. Entre eles: (a) não inclui riqueza informal (as casas nas favelas e bairros pobres brasileiros, por exemplo, que muitas vezes valem dezenas de milhares de reais apesar de não serem formalizados com um título estatal) – riqueza esta que economista Hernando de Soto estima em cerca de 10 trilhões de dólares [6]; e (b) não inclui riqueza implícita – como aquela prevista por sistemas de seguridade social dos países ricos, que se fossem administrados privadamente seriam parte de poupança dos cidadãos. O próprio relatório da Credit Suisse diz que o estudo sobre a riqueza global está "em sua infância". Na melhor das hipóteses, essas estimativas são pouco confiáveis e devem ser tomadas com bastante cuidado.

O segundo problema é de ordem conceitual. Eles utilizam o conceito de riqueza **líquida** (ou seja: patrimônio menos dívidas). Segundo essa metodologia alguém que se formou em Harvard, vive num apartamento de cobertura em Nova Iorque e ganha 100 mil dólares por ano mas tem 250 mil dólares em dívidas estudantis é mais pobre do que um camponês indiano que tem uma bicicleta, vive com um dólar por dia e não tem dívida. Não importa se o cara de Harvard gasta centenas de dólares tomando McCallahan's 18 anos todas as vezes que sai pra balada. Pra Oxfam, ele é mais pobre que o camponês indiano. Isso faz sentido pra definir quem é pobre e quem é rico?

Nem todas as desigualdades são iguais. Às vezes, quando o ponto de partida é muito ruim, a desigualdade é simplesmente fruto da melhoria de vida de algumas pessoas. Angus Deaton, que ganhou o Nobel de Economia ano passado, traz um exemplo interessante em seu livro mais recente [7]: imagine que, dentre 100 judeus em um campo de concentração, dez conseguem fugir. Isso causou uma desigualdade, já que agora alguns estão em liberdade e outros não. Mas isso não é uma situação inerentemente pior à situação de plena igualdade em que todos estavam no campo de concentração, é? Talvez essa desigualdade inicial dê esperança para os que lá ficaram e faça com que eles fujam. Por outro lado, talvez os guardas punam os que ficaram para desincentivar fugas futuras. De todo modo, não há nada óbvio em relação à desigualdade. Ela pode ser boa ou ruim: sempre depende.

Desigualdade é como colesterol: há uma boa e outra ruim. A boa é aquela que deriva dos talentos, esforços e inventividade das pessoas e gera bons incentivos. Quando alguém cria valor para os outros ela deve ser recompensada por isso – porque isso gera dinamismo econômico, inovação e menos pobreza (pense no arquétipo do Steve Jobs). Se ela não for recompensada, ela não vai ter incentivo pra continuar inovando. A ruim é aquela de uma sociedade estamental – de comando e controle – onde as pessoas não enriquecem por causa de sua inventividade ou pelo valor que geram para à sociedade, mas pelos privilégios que têm junto aos poderosos (pense no arquétipo de Eike Batista). Temos que corrigir as desigualdades injustas que existem no mundo – e elas existem de montão. Mas para isso precisamos de análise séria. E não retóricas travestidas de números.

Existem diversos problemas recentes de exarcebação das desigualdades nos países desenvolvidos - e é por isso que estudos como os da Oxfam têm tanta repercussão. Mas, numa perspectiva global, não há dúvidas: o mundo está se tornando mais rico, mais justo e mais igual.



18 de janeiro de 2017
implicante

[1] LoBue, Vanessa, et al. "When getting something good is bad: Even three‐year‐olds react to inequality." Social Development 20.1 (2011): 154-170.

[2] Piketty, Thomas and Gabriel Zucman (2015). “Wealth and Inheritance in the Long Run”. In: Handbook of Income Distribution, v. 2A. Ed. by Jan Fagerberg, David C. Mowery, and Richard R. Nelson. Amsterdam: North Holland. Chap. 15, pp. 1303–1368. doi: 10 . 1016 / B978 - 0 - 444 -

59429-7.00016-9.

[3] Lakner, Christoph, and Branko Milanovic. "Global Income Distribution: From the Fall of the Berlin Wall to the Great Recession." The World Bank Economic Review (2015): pp. 1-

30.

[4] Milanovic, B. (2012a) "Global inequality recalculated and updated: the effect of new PPP

estimates on global inequality and 2005 estimates." The Journal of Economic Inequality 10.1 (2012): 1-18.

[5] http://publications.credit-suisse.com/…/ren…/file/index.cfm…

[6] De Soto, H. (2003) "The Mistery of Capital". NY: Basic

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