BRASÍLIA – O ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de um inquérito para investigar o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) por suspeita de abuso sexual. O caso tramita sob segredo de Justiça na Corte.
No final de agosto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a abertura de investigação contra o parlamentar, atendendo requerimento da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher da Polícia Civil do Distrito Federal. A delegacia recebeu denúncia da jornalista Patrícia Lélis, de 22 anos, que afirmou ter sofrido tentativa de estupro, assédio sexual e agressão pelo parlamentar.
A jovem também disse à polícia que sofreu coação e foi ameaçada pelo chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, pois pretendia denunciar o parlamentar. As ameaças teriam sido feitas durante uma semana em que esteve em São Paulo, entre os dias 30 de julho e 5 de agosto.
A Polícia Civil de São Paulo encerrou o inquérito que investigava a acusação da jovem contra Bauer e ainda decidiu pelo pedido de prisão preventiva da jornalista, por denunciação caluniosa e extorsão.
Com a abertura do inquérito formalizada no STF, a polícia federal e o Ministério Público podem investigar o caso, solicitando diligências ou depoimento de testemunhas.
Vamos aos fatos.
Este blogueiro apostou na morte política de Marco Feliciano a partir do início das denúncias. Eu fiz isso não por “torcer” por essa morte política, mas por observar um padrão comportamental do deputado:
Ele não se defendia com rapidez, e muito menos ia para o ataque (o que era o mínimo que se esperaria neste caso)
Independentemente do fato das denúncias de Lelis serem verdadeiras, isso causaria sua demolição
Seus adeptos passaram a lutar contra “a bola” do jogo (Lelis), em colapso mental, para evitar reconhecer os adversários reais do deputado
Como resultado, seus adversários reais não teriam dano algum, mas ele sim
As evidências contra a garota não serviriam para causar danos aos seus reais adversários
Obviamente, o olavete Paulo Eneas tinha que se pronunciar demonstrando seu tradicional analfabetismo político. Ele escreveu um texto capaz de competir em capacidade de produzir mentiras com o mais empedernido petista: “Solicitada a prisão de Patrícia Lelis: alguns blogs precisam agora se explicar“. Refutei todas as mentiras no texto “Olaveta cita o caso de Patricia Lelis para ‘ensinar’ este blog sobre guerra política. Coitadinho…”.
Eu havia escrito claramente que “independentemente das evidências, a lentidão de Feliciano fez com que ele se desse mal”. Eneas emitiu a narrativa – que ele sabia ser falsa, e mesmo assim a propagou – de que eu atacava a “reputação de Feliciano”. Vamos revisar o frame que Eneas embutiu em seu discurso: “mas quem mais se esmerou em participar da farsa de assassinato de reputações foi [Luciano Ayan]”. Ou seja, ele sabia que eu não havia emitido nenhum juízo de valor sobre a questão jurídica relacionada ao caso, mas fingiu que eu havia feito isso. Fez isso para omitir a real discussão e criar um factoide.
O dicionário Michaelis traz a seguinte definição para a expressão “independente”: “que não é dependente; que goza de autonomia ou liberdade completa com relação a alguém ou algo”. Logo, se minha análise sobre o comportamento político do deputado era independente de sua culpa ou não, Eneas não teria nada para falar a respeito de minha avaliação no dia em que Lelis foi denunciada como mentirosa. Como não tinha sequer capacidade de fazer uma crítica (pois ele demonstrou incapacidade de entender uma análise tática), inventou uma mentira.
Como no link que citei, eu o desmascarei por completo (assim como fizeram Eric Balbinus e Roger Roberto) restou a ele dizer que “não responde a fakes”, mas essa é outra narrativa que Eneas também sabe ser falsa. Na verdade, o próprio autor que ele reverencia (Olavo de Carvalho), já citou autores que atuaram sob pseudônimo, portanto essa regra ética (“não falo com fakes”) não é seguida pelos olavetes. Mesmo eu sempre usando pseudônimo, Eneas contribuiu para o site Crítica Política, do qual eu era editor. Diálogos que acabaram sendo “interceptados” demonstram interações entre eu e Eneas na época em que ele fazia essas contribuições. Enfim, ele não pode negar que contribuiu para o site daquele que reputa ser “fake”. Como se nota, a narrativa “não respondo a fakes” é uma forma diferente de dizer: “não tenho como rebater a prova de Luciano Ayan dizendo que eu menti feio em relação a avaliação dele sobre Feliciano, portanto lançarei uma distinção de emergência ao invés de pedir para cagar e ir embora”.
De qualquer forma, a inabilidade de Eneas demonstra que ele não tem a menor condição de sequer entender porque este blog criticou fortemente a atuação de Feliciano. Feliciano não deveria ter gravado um vídeo quatro dias depois das denúncias, mas entrado de imediato com ataques fortíssimos contra o repórter Leandro Mazzini, o UOL e toda a extrema-esquerda que fez uso de Lelis. Esses ataques deveriam ter sido iniciados duas horas após a primeira matéria. Há uma diferença gritante entre duas horas e 96 horas (ou seja, quatro dias). A resposta de Feliciano foi 48 vezes mais lenta do que deveria, e ainda assim ele ficou na defensiva, quando deveria ir para o ataque.
Decerto a garota era culpada e estava mentindo. Mas esse era um detalhe, pois não serviria muito para aliviar a desconstrução de sua imagem. O resultado de Feliciano está aí: há um inquérito contra ele no STF. A partir de agora, até sua possível absolvição, ele vai ter que aturar os frames jogados sobre sua cabeça: “sofre inquérito do STF por estupro, sofre inquérito do STF por estupro, sofre inquérito do STF por estupro”. Alguns dirão: “mas ele é inocente”. O problema é que ele está sob inquérito. Daí surge o discurso anestésico: “ah, mas Lelis também está denunciada por ter feito denunciação caluniosa”. Mas, como já disse, ela é só a “bola” do jogo. Os reais adversários de Feliciano são os políticos da extrema-esquerda. Eles estão sofrendo inquérito no STF? Não, não estão.
Já me enviaram via Facebook outro discurso anestésico: “ah, pelo menos aqueles que já confiam no deputado, continuarão confiando”. Mas esse é o sinal mais forte da morte política: alguém deixa de falar para os neutros e de tentar converter opositores, mas, como último recurso, depende de sua base fiel. Infelizmente, ele (formalmente alvo de um inquérito) não tem como futuramente encabeçar algo como, por exemplo, a CPI da UNE.
No fim das contas, as coisas aconteceram como eu infelizmente previ. Aqueles que disseram “ah, o Luciano se deu mal, pois a Lelis está sendo denunciada por crime de denunciação caluniosa” não foram capazes de perceber que, em negação, resolveram combater a “bola” do jogo, não os reais adversários. Por isso, os adversários de Feliciano estão morrendo de rir, enquanto só ele (entre os políticos) sofre inquérito no STF. Ninguém pode dizer que eu não avisei.
Feliciano faz parte de uma seleta galeria: Marina Silva (em 2014), Aécio Neves (em 2014), Jair Bolsonaro (de 2014 a 2016, na briga com Maria do Rosario), Eduardo Cunha (em 2015 e 2016, na briga com os petistas) e, agora, Feliciano (em 2016, na briga com a extrema-esquerda, que usou Lelis para destruir sua reputação). O estudo de como essas cinco pessoas foram desconstruídas por sofrerem ataques de pessoas adultas politicamente, enquanto reagiram de forma até infantil, serve como lição de como não se deve agir nos mais decisivos confrontos políticos.
20 de setembro de 2016
cetismo político
Nenhum comentário:
Postar um comentário