(Jonas Pereira – Agência Senado) |
Não há como sonhar com dias melhores em um país que tem o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) como presidente do Poder Legislativo, sempre disposto a dar lições de moral, apesar de ser alvo de inúmeros inquéritos sobre corrupção e outros crimes.
Investigado na Operação Lava-Jato por envolvimento no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, Renan disse, nesta terça-feira (20), que os integrantes da força-tarefa têm de “separar o joio do trigo” e precisam “acabar com o exibicionismo”.
Nada pode ser mais acintoso do que essa afirmação irresponsável e descabida do peemedebista, que deveria se ocupar com a própria defesa, não fazer críticas àqueles que o investigam. Qualquer eventual excesso por parte dos procuradores da República que atuam na Lava-Jato cabe à Procuradoria-Geral da República analisar e eventualmente punir, assim como ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Em entrevista concedida na manhã desta terça-feira, Renan Calheiros afirmou que os procuradores da Lava-Jato devem fazer denúncias “consistentes”, como se as que foram apresentadas até então fossem órfãs de provas.
O senador alagoano usou como referência a denúncia contra Lula, o dramaturgo do Petrolão, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e a esposa do petista, Marisa Letícia.
Por ocasião da denúncia, feita na última semana, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, classificou Lula como “comandante máximo da propinocracia”. O que nem de longe pode ser considerado um equívoco, mas a constatação da realidade que durante mais de uma década prevaleceu nos imundos bastidores do poder.
A denúncia foca três contratos da empreiteira OAS com a Petrobras e destaca que foi paga ao petista propina no valor de R$ 3,7 milhões, por meio de reforma em um apartamento triplex em Guarujá e o custeio do armazenamento de objetos pertencentes a Lula.
Como a Lava-Jato começa a avançar na direção do PMDB, partido que tem vários caciques investigados por corrupção, Renan, um dos alvos, disse que denúncias como a apresentada contra Lula retiram “prestígio” do MPF.
“Eu acho que a Lava-Jato é um avanço civilizatório, mas a Lava-Jato tem a responsabilidade de separar o joio do trigo, acabar com esse exibicionismo, fazer denúncias que sejam consistentes. Acabar com o exibicionismo que nós vimos agora no episódio do ex-presidente Lula e vimos em outros episódios porque isso, ao invés de dar prestígio ao Ministério Público, isso retira prestígio do Ministério Público”, disse.
Sobre o dinheiro de propina utilizado pelo caixa da campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer, em 2014, Calheiros voltou a falar em consistência das denúncias.
“É preciso fazer denúncias, claro, investigar, claro, mas fazer denúncias que tenham começo, meio e fim, que sejam consistentes, e não fazer denúncias por mobilização política, porque com isso o país perde, as instituições perdem também”, ressaltou o presidente do Senado.
A estratégia montada pelo PMDB, com o apoio do PT, para desqualificar a Operação Lava-Jato é uma alternativa ao desejo abortado do governo de abafar as investigações sobre o esquema de corrupção. Como o Palácio do Planalto ficou sem condições de avançar sobre a Lava-Jato, coube aos parlamentares da legenda fazerem o serviço sujo.
É importante destacar que a força-tarefa, ao fazer uma apresentação radiográfica e didática da estrutura da corrupção, não apenas justificou a decisão de denunciar Lula, mas mostrou aos brasileiros de bem como agia o político que ousa se comparar a Jesus Cristo.
Fora isso, a explanação detalhada de Dallagnol foi uma dura resposta aos seguidos ataques dos advogados do petista, que insistem na tese mentirosa da perseguição política, com direito à distribuição de dossiês mentirosos na sede da ONU, em Nova York.
21 de setembro de 2016
ucho.info
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