Na economia, o pior ficou para trás, mas o melhor ainda vai demorar. Mesmo quando o país tiver um PIB positivo, estará começando a fazer o caminho de volta de quase 10% que se perdeu. Na política, a incerteza permanece. Na Lava-Jato, começará um período de maior atividade, porque muito foi investigado durante a Olimpíada e as fases serão deflagradas agora. A turbulência vai continuar.
O medidor de atividade do Banco Central trouxe ontem novo desalento. Não era esperado. O país tinha crescido em junho, pelo IBC-Br, e a expectativa quase unânime no mercado era que fosse ser divulgado um novo número positivo. Mas o índice relativo a julho veio negativo. Esta recuperação será assim, lenta e hesitante.
Nos últimos 31 meses, desde que o país entrou em recessão, no fim de 2013, houve 23 resultados negativos, e a queda acumulada pelo indicador do Banco Central é de 9,7%. O difícil agora será sair do que é o maior e mais complicado tombo que a economia brasileira levou.
Não é apenas fundo, é de difícil superação, porque a crise resultou de um ataque às bases que sustentavam o crescimento na área monetária e fiscal e misturou-se com a crise política. Como o país cresceu no passado recente puxado pelo consumo e endividamento, terá que crescer agora pelo investimento. Como sustentar o investimento com baixa confiança e crise fiscal?
O investimento federal previsto para este ano é de R$ 47 bilhões. Para o ano que vem, é de R$ 46 bilhões. Como nesse valor estão incluídos o que já foi contratado e o que estava atrasado, é muito pouco para sustentar uma retomada pelo investimento. É também por isso que se fez o programa de concessões, licitações e venda de ativos. A Petrobras, empresa que mais investia no país, está reduzindo seus projetos e cortando custos. Não será um caminho fácil.
A equipe do Bank of America escreveu em relatório que o PIB só voltará a crescer no quarto trimestre. Havia esperança de que fosse positivo já no terceiro, porque a indústria está subindo há cinco meses. O Bradesco, que chegou a prever 0,6% de crescimento do IBC-Br em julho, ao ver o resultado de 0,1% de queda, disse que o terceiro trimestre será de leve retração. O comunicado do Bank Of America diz que “junto com outros indicadores, a atividade econômica continua apontando para uma recuperação no curto prazo, mas também sugere que a recuperação é frágil e será bem gradual”.
Contudo, o relatório de ontem do Focus mostra que o mercado continua ajustando para cima o crescimento do ano que vem: a mediana das previsões estava em 1,3% e passou para 1,36%. Tem subido semana após semana, desde abril, quando a projeção era de apenas 0,2% de alta do PIB de 2017.
A economia continuará morna, ora com um número positivo, ora negativo. Pelo menos, parou de cair em queda livre como aconteceu desde o fim de 2014. E o número do ano que vem será positivo. Mas nada disso pode ser chamado de retomada do crescimento porque o país estará apenas reduzindo as perdas que teve neste período final do governo Dilma.
A inflação foi um dos fatores que derrubou a economia, continua muito acima do teto da meta. Em agosto, fechou em 8,97%, em queda desde o pico de 10,67%, mas ainda muito acima da meta de 4,5%. As expectativas pararam de cair. Chegou a ser previsto que no ano que vem ficaria em 5,12%, voltou para 5,14%, e agora está estacionado de novo em 5,12%. Parece pouco, mas vinha descendo semana a semana desde abril, quando estava em 6%. Com a expectativa ainda longe do centro da meta para o ano que vem, os juros podem cair em um ritmo mais lento.
O Brasil precisa de tudo para crescer: que a inflação caia forte, que os juros possam ser reduzidos, que haja redução do desequilíbrio fiscal e aumente a confiança para que o setor privado participe mais do esforço de investimento. A retomada pelo consumo é sempre mais rápida, mas só agora estão aparecendo sinais de queda do endividamento das famílias, o que no futuro abrirá espaço para novas dívidas. A cada indicador, o país vai ajustando as suas expectativas. O de ontem foi frustrante, porque se esperava algum crescimento em julho e não houve. Ter ficado o pior para trás é um alívio, mas esta lenta espera de que o país volte a crescer aflige e desanima.
21 de setembro de 2016
Miriam Leitão, O Globo
O medidor de atividade do Banco Central trouxe ontem novo desalento. Não era esperado. O país tinha crescido em junho, pelo IBC-Br, e a expectativa quase unânime no mercado era que fosse ser divulgado um novo número positivo. Mas o índice relativo a julho veio negativo. Esta recuperação será assim, lenta e hesitante.
Nos últimos 31 meses, desde que o país entrou em recessão, no fim de 2013, houve 23 resultados negativos, e a queda acumulada pelo indicador do Banco Central é de 9,7%. O difícil agora será sair do que é o maior e mais complicado tombo que a economia brasileira levou.
Não é apenas fundo, é de difícil superação, porque a crise resultou de um ataque às bases que sustentavam o crescimento na área monetária e fiscal e misturou-se com a crise política. Como o país cresceu no passado recente puxado pelo consumo e endividamento, terá que crescer agora pelo investimento. Como sustentar o investimento com baixa confiança e crise fiscal?
O investimento federal previsto para este ano é de R$ 47 bilhões. Para o ano que vem, é de R$ 46 bilhões. Como nesse valor estão incluídos o que já foi contratado e o que estava atrasado, é muito pouco para sustentar uma retomada pelo investimento. É também por isso que se fez o programa de concessões, licitações e venda de ativos. A Petrobras, empresa que mais investia no país, está reduzindo seus projetos e cortando custos. Não será um caminho fácil.
A equipe do Bank of America escreveu em relatório que o PIB só voltará a crescer no quarto trimestre. Havia esperança de que fosse positivo já no terceiro, porque a indústria está subindo há cinco meses. O Bradesco, que chegou a prever 0,6% de crescimento do IBC-Br em julho, ao ver o resultado de 0,1% de queda, disse que o terceiro trimestre será de leve retração. O comunicado do Bank Of America diz que “junto com outros indicadores, a atividade econômica continua apontando para uma recuperação no curto prazo, mas também sugere que a recuperação é frágil e será bem gradual”.
Contudo, o relatório de ontem do Focus mostra que o mercado continua ajustando para cima o crescimento do ano que vem: a mediana das previsões estava em 1,3% e passou para 1,36%. Tem subido semana após semana, desde abril, quando a projeção era de apenas 0,2% de alta do PIB de 2017.
A economia continuará morna, ora com um número positivo, ora negativo. Pelo menos, parou de cair em queda livre como aconteceu desde o fim de 2014. E o número do ano que vem será positivo. Mas nada disso pode ser chamado de retomada do crescimento porque o país estará apenas reduzindo as perdas que teve neste período final do governo Dilma.
A inflação foi um dos fatores que derrubou a economia, continua muito acima do teto da meta. Em agosto, fechou em 8,97%, em queda desde o pico de 10,67%, mas ainda muito acima da meta de 4,5%. As expectativas pararam de cair. Chegou a ser previsto que no ano que vem ficaria em 5,12%, voltou para 5,14%, e agora está estacionado de novo em 5,12%. Parece pouco, mas vinha descendo semana a semana desde abril, quando estava em 6%. Com a expectativa ainda longe do centro da meta para o ano que vem, os juros podem cair em um ritmo mais lento.
O Brasil precisa de tudo para crescer: que a inflação caia forte, que os juros possam ser reduzidos, que haja redução do desequilíbrio fiscal e aumente a confiança para que o setor privado participe mais do esforço de investimento. A retomada pelo consumo é sempre mais rápida, mas só agora estão aparecendo sinais de queda do endividamento das famílias, o que no futuro abrirá espaço para novas dívidas. A cada indicador, o país vai ajustando as suas expectativas. O de ontem foi frustrante, porque se esperava algum crescimento em julho e não houve. Ter ficado o pior para trás é um alívio, mas esta lenta espera de que o país volte a crescer aflige e desanima.
21 de setembro de 2016
Miriam Leitão, O Globo
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