ARTIGOS - GLOBALISMO
Como observou Cernea, os comunistas não são dogmáticos. “Comunistas não pensam assim. O apego à letra da doutrina é menos importante que o apego a essa peculiar forma de perturbação mental”. Aqui ela se referiu ao que o Prof. Olavo de Carvalho chama de “mentalidade revolucionária”. E sim, devo concordar com Cernea e Olavo.
As estruturas comunistas ocultas do leste europeu estão prontas para ressurgir.
A correspondente romena
Às vezes é útil olhar para a atual crise através da perspectiva de quem mora no leste europeu. No ano passado me correspondi com a Dra. Anca-Maria Cernea, que foi bondosa o bastante para manter-me informado sobre a situação na Romênia — importante país que flanqueia a Ucrânia. Quis saber em detalhes se alguma outra manipulação russo-comunista acontecia nos outros países do leste europeu enquanto todos os olhos estão voltados para Kiev. Ela fez um interessante comentário sobre o “ateísmo soviético ser a fonte de todas as ações e métodos dos líderes russos hodiernos. Isso merece volumes inteiros de estudos e reflexões”. Segundo ela, o “ateísmo não afeta só a alma, mas também a inteligência”. Ela também observou que os nomes proeminentes da KGB de hoje “parecem bem menos refinados intelectualmente que seus predecessores. Eles são apenas brutos que estavam acostumados a espancar e assassinar prisioneiros políticos em tempos que pessoas como Andropov estavam no comando [...] Essa involução intelectual torna o ambiente mais propício ao uso da violência.”
Anteriormente eu havia perguntado à doutora se o comunismo estava morto no leste europeu. Ela respondeu que “não, não está. Penso que a situação mais apropriada a se comparar seria a de um paciente que possui câncer. Os doutores evitam usar o termo cura. No melhor dos casos eles falam em remissão e ausência de sinais e sintomas que revelem a presença do câncer — não obstante as células podem estar presentes, embora elas não possam ser identificadas a qualquer momento, e ainda assim elas podem causar a doença no futuro.”
É uma poderosa analogia, e Cernea é médica. Ela está familiarizada com as patologias biológicas e políticas. “O comunismo é ideologia e estrutura de poder”, diz. “Ele aparentemente mudou, mas não está morto de maneira alguma. Então, daqui em diante, quando falar de comunismo, falarei num sentido mais extenso que inclui três pontos importantes”. Ela então listou três estruturas do velho bloco comunista que continuam a funcionar:
1) As velhas redes de influência política e econômica do leste europeu que comandam o aparato pós-comunista.
2) Russia como poder militar e a KGB com suas ideologias “pretexto”, como o eurasianismo.
3) A influência comunista sobre a cultura no sentido gramsciano, com o suave poder cultural controlado pela extrema esquerda e suas ideologias virulentamente anticonservadoras e anticristãs.
O famoso “colapso do comunismo”, observou Cernea, “tem de ser entendido através da perspectiva estratégica da mentalidade comunista. É muito importante entender como eles pensam. Assim, poderemos evitar os erros comuns e ingênuos que os ocidentais cometem ao atribuir aos líderes comunistas um pensar racional e normal no que diz respeito à conversão para o livre mercado e a democracia”. Essa conversão, disse, é totalmente compatível com a dialética marixsta-leninista que mudou do terror bolchevique para o NEP, ou do estalinismo para a desestalinização de Khruschev. “As consequências práticas das tentativas comunistas de impor a ilusão ideológica sempre acabam em desastre. Isso foi particularmente óbvio na economia, mas não apenas aí. As consequências catastróficas da economia marxista deveriam fazer as pessoas normais acordarem e pensarem se as premissas não estão erradas em princípio...”
Como observou Cernea, os comunistas não são dogmáticos. “Comunistas não pensam assim. O apego à letra da doutrina é menos importante que o apego a essa peculiar forma de perturbação mental”. Aqui ela se referiu ao que o Prof. Olavo de Carvalho chama de “mentalidade revolucionária”. E sim, devo concordar com Cernea e Olavo. Tudo se resume a destruir a ordem orgânica que se construiu conforme a civilização cresceu durante os séculos. Assim, o comunista é alguém que deseja destruir o horizonte e começar à sua própria maneira um universo reconstituído. O projeto é usurpar o trono de Deus e escravizar os seres humanos. Indisposto a aceitar as circunstâncias humilhantes da existência mortal, o político totalitário reifica a crise da sua própria mediocridade e a transforma numa conflagração universal. O peso da sua débil mortalidade é amenizado conforme ele adquire poder total e o usa para infringir dano em todas aquelas instituições e pessoas que trazem à sua pessoa a lembrança da própria insignificância. Em suma: ele é um destruidor e assassino. É uma criação nos moldes de Lênin, Stálin, Mao, Ceausescu, Castro, Ho Chi Minh, Pol Pot e outros deuses do Panteão Vermelho.
No leste europeu, assim como na América e no Ocidente em geral, o mesmo processo do velho comunismo ainda se alastra e tem como fim um novo surto. Como explicou Cernea, “Os pós-comunistas hodiernos do leste europeu, assim como seus camaradas do resto do mundo, continuam a negar que o comunismo está errado. Eles continuam a evocar o sempiterno pretexto: a teoria estava ok, mas não foi corretamente aplicada; é como sempre disse Iliescu sobre Ceausescu e seu regime, ‘eles simplesmente se auto intitularam líderes, eles simplesmente fingiram que foram eleitos pelo povo, eles simplesmente fingiram que eram comunistas. Eles nada tinham a ver com o socialismo, tampouco com o comunismo científico. Eles não fizeram nada além de sujar o nome do Partido Comunista Romeno; eles somente mancharam a memória daqueles que deram suas vidas pela causa do socialismo no país’. É sempre culpa do fator humano; nunca é o próprio sistema o culpado. É óbvio que eles nunca desistiram do sonho de impor novamente algum tipo de paraíso na Terra que pressupõe uma total concentração de poder em suas mãos.”
Sim, o câncer do comunismo ainda está aí. De acordo com Cernea,
“A alternância entre o comunismo de tipo controlador-rígido e o comunismo suave que há nas sociedades do leste europeu parece-se com a sequência que há entre a atividade patológica e remissão no curso clínico de um caso de câncer. A parte positiva da remissão do comunismo é, evidentemente, a possibilidade que hajam novos espaços na nossa sociedade; e esse espaço foi aberto no recuo de 1989. Podemos respirar nesse espaço, e isso não dava para fazer antes, pois não havia a mesma margem de manobra. Isso significa muito... Mas simplesmente não há como saber até quando durará essa fase de remissão. A possibilidade de reincidência é constante. Nada garante que a situação não se reverterá. Como falei antes, a Romênia teve momentos em que a volta de uma ditadura comunista linha-dura parecia muito próxima e possível — como a invasão dos mineradores de carvão em Bucareste nos anos de 1990 e depois em 1999. Se não houve recorrência da doença naquele caso, foi em grande parte porque o contexto mundial daquele momento particular não era favorável.”
“A alternância entre o comunismo de tipo controlador-rígido e o comunismo suave que há nas sociedades do leste europeu parece-se com a sequência que há entre a atividade patológica e remissão no curso clínico de um caso de câncer. A parte positiva da remissão do comunismo é, evidentemente, a possibilidade que hajam novos espaços na nossa sociedade; e esse espaço foi aberto no recuo de 1989. Podemos respirar nesse espaço, e isso não dava para fazer antes, pois não havia a mesma margem de manobra. Isso significa muito... Mas simplesmente não há como saber até quando durará essa fase de remissão. A possibilidade de reincidência é constante. Nada garante que a situação não se reverterá. Como falei antes, a Romênia teve momentos em que a volta de uma ditadura comunista linha-dura parecia muito próxima e possível — como a invasão dos mineradores de carvão em Bucareste nos anos de 1990 e depois em 1999. Se não houve recorrência da doença naquele caso, foi em grande parte porque o contexto mundial daquele momento particular não era favorável.”
Imagine se a Rússia começar uma ditadura sobre a Europa. As elites comunistas do velho Pacto de Varsóvia se reafirmariam? Com certeza, a Rússia tem o nome sujo no leste europeu. Como explicou Cernea, “Em todos países do leste europeu a ocupação soviética foi uma experiência horrível. A única parte boa, se é que se pode dizer assim, foi que ela desencadeou uma rejeição instintiva; ficou evidente que era a presença inimiga estrangeira brutal que provocou tão terrível sofrimento nestes países. Há vantagem em ter um inimigo tão claramente repugnante. Na Romênia, no começo do comunismo, tínhamos um fenômeno de grande alcance, que eram os vários grupos anticomunistas armados que viviam nas montanhas e eram maciçamente apoiados pela população. Ao longo dos anos esses grupos foram brutalmente reprimidos, assim como as pessoas que os ajudaram. Houve enormes perdas.”
De acordo com Cernea, a influência russa sobre os partidos políticos do leste europeu
“é visível apenas aos que estão interessados no problema; isso não é abertamente discutido na mídia. Os políticos que levantam o assunto são taxados de guerreiros da Guerra Fria; as pessoas que exercem essa influência não vestem uniformes do Exército Vermelho e não matam, roubam ou estupram no meio da rua (eles têm mineradores de carvão para fazer isso quando acharem necessário). Eles são bem vestidos; eles falam romeno e empregam os melhores peritos em relações públicas do ocidente. O establishment pós-comunista no nosso país parece civilizado e ocidentalizado. Essas pessoas — filhos e filhas da Nomenklatura comunista — normalmente estudaram nas melhores universidades ocidentais e têm muito mais (e melhores) conexões no Ocidente do que temos nós anticomunistas.”
Sim, Anca-Maria Cernea falou uma profunda verdade, e devemos prestar atenção a ela se quisermos sobreviver. O câncer pode voltar a qualquer momento, e desta vez ele será mais traiçoeiro que antes. “Adian Nastase, por exemplo, é um intelectual elegante”, disse Cernea.
“Ele é um rico colecionador e connoisseur de arte contemporânea. Ele pertence a uma geração totalmente diferente daquela de Ion Iliescu, que só conseguia falar a língua dos lenhadores e, portanto, incapaz de manter uma conversa com Nastase acerca das diferentes fases artísticas de Picasso. Essa aparência de refinamento ocidental é assaz ardilosa. O mesmo acontece a respeito do sucesso da lavagem cerebral comunista. A velha propaganda comunista estava em óbvia contradição com a realidade; todos podiam ver que era uma mentira, mas sua intenção era mais intimidar que convencer. Mas o marxismo cultural gramsciano, maciçamente importado para os nossos países, é aceito com menos reservas.”
“Ele é um rico colecionador e connoisseur de arte contemporânea. Ele pertence a uma geração totalmente diferente daquela de Ion Iliescu, que só conseguia falar a língua dos lenhadores e, portanto, incapaz de manter uma conversa com Nastase acerca das diferentes fases artísticas de Picasso. Essa aparência de refinamento ocidental é assaz ardilosa. O mesmo acontece a respeito do sucesso da lavagem cerebral comunista. A velha propaganda comunista estava em óbvia contradição com a realidade; todos podiam ver que era uma mentira, mas sua intenção era mais intimidar que convencer. Mas o marxismo cultural gramsciano, maciçamente importado para os nossos países, é aceito com menos reservas.”
Temos tanto que aprender em tão pouco tempo. Sim, o tempo está acabando. A remissão acabará em breve. Os russos ainda aderem aos preceitos da obra Soviet Military Strategy. As estruturas comunistas ocultas do leste europeu estão prontas para ressurgir. Mesmo agora essas forças estão trabalhando com as estruturas comunistas na América do Sul e do Norte. É o poder russo por trás deles todos; é ele que move a Grande Antítese rumo à Síntese revolucionária.
10 de março de 2015
JEFFREY NYQUIST
Tradução: Leonildo Trombela Junior
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