"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de março de 2015

COLÔMBIA: O QUE OS GENERAIS VÃO FAZER EM CUBA?


Enquanto o presidente Juan Manuel Santos chama Correa e o regime ditatorial da Venezuela de seus “melhores amigos”, o governo equatoriano continua apoiando as FARC, como se evidenciou na apreensão de alguns mísseis terra-ar que iam para as frente das FARC no oeste e provinham do Equador.

Numa extensa entrevista com o jornalista Guillermo Parada da emissora radial UN Radio, da Universidade Nacional, transmitida pelo dial FM 98.5 com retransmissão para sua cadeia de emissoras no país e no exterior, analisei os prós e contras da presença de oficiais das Forças Militares e da Polícia na mesa de conversações de Havana. Dada a complexidade do assunto, pontuei:

1. Há muita especulação e espera-se muito pouco desta atividade.

2. Santos montou uma trama midiática com esta atividade como complemento à sua viagem à Espanha e à marcha encabeçada por Antanas Mokus, com a finalidade de ganhar dividendos pessoais em honra de seu Prêmio Nobel da Paz, sem se importar nem com a sorte da Colômbia, nem com a das tropas que o defendem.

3. Os militares ativos não deliberam em política, porém têm acesso às redes virtuais e físicas de informação, estão inteirados do que acontece e em nível social ou acadêmico interno analisam o que ocorre e o que se negocia em Cuba com as FARC.

4. Há completa desinformação, muita especulação a respeito das conversações de paz. A imagem e credibilidade de Santos entre as tropas é quase nula. E os militares de todos os graus olham com desconfiança, receio e prevenções a presença de seis oficiais de insígnia na mesa de negociações em Cuba.

5. Como não se sabe com certeza qual é a tarefa destes generais e o almirante em Havana, surgem vários cenários nos quais a institucionalidade colombiana fica afetada: 

a. Que vão ouvir as FARC para depois assessorar os delegados, que além de mudos frente às FARC, são surdos frente ao clamor dos colombianos que não compartilham a forma como se está dirigindo o assunto;

b. Propor que as FARC se desmobilizem, o qual não está na mente dos terroristas;

c. Acordar mútua desmobilização de efetivos;

d. Definir o etéreo termo de desescalar o conflito;

e. Concretizar um acordo de cessar fogo bilateral;

f. Cumprir a ordem de Santos para coadjuvá-lo em sua ânsia protagônica de ser Prêmio Nobel da Paz, ao preço que seja;

g. Todas as anteriores;

h. Algumas das anteriores.

E seja qual for a razão, em todos os casos a Colômbia perde porque os negociadores vão sem agenda clara, sem plano estratégico e sem norte.

6. A presença do general Mora Geral na mesa de conversações foi desimportante para as Forças Militares. Pelo contrário, as FARC tiraram vantagem em todos os campos, sem que se note defesa da institucionalidade por parte dos negociadores.

7. Enquanto o presidente Juan Manuel Santos chama Correa e o regime ditatorial da Venezuela de seus “melhores amigos”, o governo equatoriano continua apoiando as FARC, como se evidenciou na apreensão de alguns mísseis terra-ar que iam para as frente das FARC no oeste e provinham do Equador.

8. Não sabe-se nada do que os computadores das FARC contêm que amiúde são apreendidos pelas tropas. E lá está a informação estratégica que poria a descoberto o que realmente ocorre no interior do bando terrorista.

9. Os militares colombianos vão à Havana ao que parece negociar a desmobilização, o desarmamento e a reintegração das FARC, e a imprensa lhes faz coro mas na prática acontece o contrário:

- As FARC dizem que não se desmobilizam porque não lutaram cinqüenta anos para deixar de fazê-lo e ceder na busca da tomada comunista do poder;

- As FARC dizem que não se desarmam, que não entregam as armas, senão que vão silenciá-las enquanto cumpre o pactuado, do contrário voltam a utilizá-las;

- As FARC dizem que não se reintegram à sociedade porque eles lutaram cinco décadas contra esse sistema e jamais se integrariam a ele.

10. O argumento do segredo das negociações é uma saudação à bandeira, pois com freqüência FARC e governo publicam pontos de vista e documentos que indicam que não se avançou muito depois de vinte e sete meses, e que os únicos ganhadores são os terroristas que estão conseguindo legitimação política paulatina.

11. À pergunta do jornalista Guillermo Parada se os generais vão com libreto ou sem ele à mesa de negociações, respondi que foram nomeados a dedo, que os três generais do Exército conhecem melhor o problema por ter combatido durante décadas contra os terroristas no terreno, que a inteligência da Força Aérea é técnica para decidir apoios de fogo ou transporte de tropas, porém está longe do contato com os terroristas. E a inteligência naval tem a ver com a segurança nacional fora das fronteiras, porém que alguns elementos de infantaria de Marinha participam diretamente nos combates ou na busca local das guerrilhas, razão pela qual teria sido mais acertado que estivesse um oficial dessa especialidade.

12. Do mesmo modo, acrescentei que não só estes generais vão sem roteiro, libreto ou plano estratégico, pois os fatos indicam que depois de 27 meses de conversações, toda a equipe negociadora e o governo colombiano foram mais para referendar a busca do Prêmio Nobel de Paz para Santos do que procurar uma solução real do conflito.

13. À pergunta de Parada acerca do papel de Pinzón no tema, esclareci que Pinzón é o candidato de Santos para que o substitua no cargo em 2018. Que o mais certo é que tire Vargas Lleras do caminho e acrescentou que Santos é capaz de fazer o que seja necessário para conseguir seus objetivos pessoais sem importar o mal que cause ao país.

14. Ressarci a inoperância institucional do Congresso da República e a Defensoria do Povo, e inclusive amplos setores da Procuradoria frente às desmedidas atuações de Santos, como esta de enviar militares sem objetivo claro a que se sentem com as FARC para ouvi-las, mas imposições unilaterais.


O coronel Luis Alberto Villamarín Pulido é analista de assuntos estratégicos, com ênfase em defesa nacional, estratégia geral e operacional, geopolítica, terrorismo e conflito colombiano. Suas reflexões acadêmicas em torno a estes temas, foram consignadas em 25 livros e mais de 800 artigos de sua autoria.

* Analista de assuntos estratégicos - www.luisvillamarin.com 

10 de março de 2015
CEL. LUIS ALBERTO VILLAMARÍN PULIDO
Tradução: Graça Salgueiro

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