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Há um tipo de democracia mais desqualificado do que o nosso. É aquele que se convencionou chamar de democracia direta, da qual se diz que “o povo, diretamente, toma as decisões políticas”. A História está cheia de exemplos comprovando que esse é o caldeirão dos totalitarismos. Tais ambientes, cujos nomes mudam ao gosto de quem os institui, são frequentados por militantes do grupo que ascende ao poder e se reúnem para referendar o que já foi decidido.
O passo seguinte têm sido as execuções em massa dos “inimigos do povo”, mesmo que a assembleia seja (o que só acontece excepcionalmente) formada por milhões de pessoas. Foi assim em Cuba. O paredón já estava em pleno funcionamento quando Fidel Castro, em 8 de janeiro de 1959, submeteu aqueles “justiciamentos” ao juízo do povo cubano. E mais de um milhão de pessoas os aprovou com sonora ovação. Cinco anos depois, Che Guevara, falando à ONU, afirmou com orgulho: “Fusilamos y seguiremos fusilando mientras sea necesario. Nuestra lucha es una lucha a muerte”. Em 2003 ainda estavam fuzilando.
Democracia direta é ditadura indireta. Ao fim e ao cabo, alguns bandidos detêm efetivamente o poder e chega-se, então ao totalitarismo.
VOCAÇÃO DE POUCOS
O cidadão comum, o indivíduo, senhores e senhoras, é um militante de si mesmo, de suas causas pessoais e familiares. A vocação para a política é vocação de poucos. Aprendi com o prof. Cézar Saldanha Souza Júnior, que o indivíduo “é capaz do bem comum”. Mas não se lhe peça isso o tempo todo. Ele tem mais com que se ocupar. Eis por que a democracia, nas sociedades modernas, urbanas, de massa, precisa ser representativa.
Por tais motivos, quero lembrar à CNBB que a democracia direta que tanto parece lhe agradar já matou gente demais. Uma das primeiras vítimas foi o próprio Jesus Cristo. E se democracia direta fosse coisa boa, a própria Igreja a teria adotado. No entanto, seus dois mil anos de história orientaram-na noutra direção. E dentro dela, apenas alguns desajuizados pretendem que a sã doutrina seja referendada pelo povão.
A prova provada de que a CNBB deve se afastar das propostas de reforma política às quais recentemente aderiu é dada por esse fato. Ao defender um instrumento reprovado pela História e pela própria Igreja, nossos bispos mostram que estão opinando sobre o que não entendem.
10 de maio de 2015
Percival Puggina
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