"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de março de 2015

PROIBIR PARA ESCONDER, EIS A TÁTICA DAS AUTORIDADES



Humberto Moura Fonseca morreu de tanto tomar vodca
Um adulto de 23 anos, durante uma festa com open bar no município de Bauru, em São Paulo, resolve encher a cara e, devido a sua inconsciência de entornar 25 doses de vodca, uma atrás da outra, sofre uma overdose de álcool, o que acaba por levá-lo à morte.
A repercussão do fato toma conta de todo o Brasil, e o Ministério Público da cidade onde tudo ocorreu, como lição de moral, ameaça pedir a proibição desse tipo de festa, em que, com o pagamento de uma taxa única, o frequentador tem o consumo liberado.
Como argumento, ou maneira de dizer que está fazendo sua parte, o promotor em questão alega que o tipo de consumação com “passe livre” incentiva a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.
A rapidez com que o MP se arma para casos como esses expõe o pensamento crônico e invasivo por parte de uma estrutura de Estado que já interfere demais na vida do cidadão, sendo causa, muito mais do que solução para seus problemas.
DROGA LÍCITA
O álcool, como droga lícita, claro, deve ser desestimulado, mas quem deseja fazer uso dele tem o direito de fazer da forma que bem entende, desde que seu comportamento não prejudique e não interfira na vida de outras pessoas.
Tomar uma, nenhuma ou 25 doses, então, é decisão de caráter pessoal, portanto, não seria razoável por parte de um promotor ou de quem quer que seja dizer que deve ser proibido ou não.
Quem se habilita a participar de uma competição alcoólica, como foi o caso do estudante paulista, assume os riscos da atitude. Generalizar esse tipo de festa e carimbar quem participa delas é ficar no lugar-comum. Pedir o fim do open bar, como fez o MP, traduz uma interferência cada vez mais contumaz por parte das autoridades, que, na ausência de políticas públicas concretas, adotam a simples proibição, como se ela fosse capaz de eliminar os dilemas de nossa sociedade, no caso, o alcoolismo entre jovens.
Está aí o exemplo das drogas ilícitas. Tudo é proibido, mas as cracolândias, depois de dominarem as grandes cidades, avançam com velocidade pelo interior do país, sem que nada seja feito de efetivo por parte de quem deveria apresentar soluções e fiscalizar ações.
LEI DA PALMADA
E as garras deste “Estado total” se expandem. Assim é com famosa Lei da Palmada. Também é com o esporte. No domingo, Atlético e Cruzeiro se enfrentaram mais uma vez. Novamente, por recomendação do Ministério Público e pela comodidade das polícias e dos políticos, foi um jogo de uma torcida só.
Proibição pura e simples como caminho mais curto para dar uma falsa sensação de segurança à população, o que se repete na sugestão da promotoria de Bauru. Apenas serve de atestado de falência do Estado como instituição mantenedora da ordem pública. Vamos mal!

10 de março de 2015
Heron Guimarães
O Tempo

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