"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 3 de março de 2014

VOTO MERITÓRIO



É humano e compreensível que pessoas revoltadas com o comportamento de seus representantes no poder resvalem para a generalização, afirmando que todos os políticos são inconfiáveis. Este conceito, porém, carrega no seu bojo uma contradição: os políticos, queiramos ou não, somos nós. Eles não vêm de outro planeta. Saem dos setores organizados da sociedade, chegam ao poder pela autorização explícita de contingentes de eleitores numerosos o suficiente para diferenciá-los dos demais postulantes da mandatos. No máximo, podemos dizer, sem cair em grande contradição, que a política corrompe.

Ainda assim, corrompe porque a sociedade tolera. Em primeiro lugar, não há corrupção sem corruptores. Então, a responsabilidade não pode ser atribuída apenas aos políticos. A pergunta que se impõe é: o que os cidadãos podem fazer para impedir a deformação da política? Numa democracia, podem muito. Cidadãos bem informados e partícipes têm poder para fiscalizar e depurar a política, colocando nos postos de comando da administração pessoas íntegras e comprometidas com o país. Se não acreditarmos que essas pessoas existem, estamos duvidando de nós mesmos.

A descrença na política pode ter esse viés positivo de aumentar a massa crítica da população, de levar a indignação para as ruas e de criar uma cultura de acompanhamento e controle da representação. Em vez de revolta contra o voto obrigatório, que é uma determinação constitucional, o mais sensato talvez seja transformá-lo na prática em voto meritório, de forma que contemple apenas candidatos sobre os quais não paire qualquer dúvida em relação à integridade, à honestidade e à vontade de efetivamente trabalhar pelo país.

Quanto antes esta seleção começar, mais acertos teremos. Evidentemente, sempre haverá enganos e traições, mas a mesma democracia que possibilita tais desvios oferece igualmente remédios para corrigi-los. O país tem jeito, sim. Basta lembrar que já não se pode mais contar nos dedos de uma mão os políticos que perderam mandatos, cargos e até a liberdade por terem traído a confiança da população.
 
03 de março de 2014
Editorial Zero Hora

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