"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 3 de março de 2014

LIÇÕES DA GRANDE GUERRA E DA QUEDA DO MURO DE BERLIM

Há analistas que encontram semelhanças entre 1914 e a aspiração da China de desafiar a posição dominante dos EUA

Este ano celebra-se o centenário de uma conflagração de dimensões continentais. Também se cumpre o 25º aniversário da implosão do império soviético. Os acontecimentos de 1914 e 1989 condicionaram o Século XX. Os primeiros 13 anos do século passado podem ser considerados um prolongamento do Século XIX. A década posterior a 1990 se confunde com o início do Século XXI. O período entre 1914 e 1989 se identifica com o surgimento dos totalitarismos, o enfrentamento militar entre as grandes potências e o fim da hegemonia europeia. São datas que enquadram o Século XX num mesmo ciclo histórico.

Em 1989 se produziram as insurreições populares que conduziram ao colapso dos regimes comunistas da Europa Oriental, à queda do Muro de Berlim, ao desaparecimento da República Democrática Alemã (RDA) e à dissolução da União Soviética. Estes acontecimentos trancedentais se desenvolveram sem a intervenção de protagonistas externos.

O ano de 1914 marca o início do conflito então chamado de Grande Guerra, entre 1914 e 1918, hoje conhecido como Primeira Guerra Mundial. O assassinato em Sarajevo do arquiduque austríaco Ferdinando e sua esposa, no mês de junho, foi o detonador de uma série de decisões por parte dos governos europeus, que desencadearam consequências imprevistas e irreversíveis.

O Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia. A Rússia se mobilizou em solidariedade à Sérvia, o que levou a Alemanha a também se mobilizar. Por seu turno, o envolvimento da Alemanha arrastou a França e a Inglaterra à guerra, segundo alianças preexistentes. A Itália interveio na qualidade de aliada de França e Inglaterra. O Império Otomano participou como aliado da Alemanha.

Os governos beligerantes entraram nas hostilidades sob a ilusão de que se trataria de um episódio breve, que se resolveria com o triunfo decisivo de suas respectivas forças armadas. O que sobreveio, porém, foi uma catástrofe na qual perderam a vida 17 milhões de pessoas, entre combatentes e civis, vítimas da capacidade destrutiva implementada por nações industrializadas. As frustrações causadas pelo sacrifício de uma geração na guerra de trincheiras serviram de caldo de cultura para a aparição do fascismo e do comunismo, como alternativas à democracia liberal.

Ao finalizar a guerra, tinham desaparecido o regime dos czares na Rússia e os impérios Austro-Húngaro e Otomano. A fragmentação de agrupamentos multiétnicos centro-europeus, assim com as rivalidades entre França e Inglaterra pelas antigas possessões otomanas, lançaram as sementes de novos conflitos. As sanções impostas à Alemanha em Versalhes pelas potências vitoriosas criaram ressentimentos que haveriam de conduzir à Segunda Guerra Mundial.

A evocação das tensões de 1914, diante do enfrentamento entre a Alemanha, uma potência emergente, e a Inglaterra, dá lugar a temores contemporâneos. Há analistas que encontram semelhanças com a aspiração da China de desafiar a posição dominante dos Estados Unidos. A História ensina que a aparição de novas potências mundiais nem sempre ocorre de maneira pacífica.

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