Nos últimos meses, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, esforçou-se ao máximo para ajudar a presidente afastada Dilma Rousseff. Sua última tentativa foi adiar para setembro a decisão final do impeachment, mas tudo tem limites, os senadores perderam a paciência, resolveram colocar Lewandowski em seu devido lugar e anunciaram a antecipação do julgamento em plenário.
A surpreendente reação aconteceu, porque na sexta-feira Lewandowski mandou sua assessoria divulgar que ele e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teriam acertado a data do julgamento final para início em 29 de agosto e término em 2 de setembro, porque a expectativa é de que o processo dure pelo menos cinco dias.
Mas há controvérsias, diria nosso amigo Francisco Milani, porque tudo indica que Lewandowski tomou essa decisão sozinho, sem consultar nem mesmo o presidente do Senado. Se o ministro do Supremo realmente tivesse se acertado com Renan, com toda certeza o senador Romero Jucá (PMDB-RR) não teria subido à tribuna na segunda-feira para atacar Lewandowski e desmoralizá-lo de forma tão contundente.
“GOLPE CASAS BAHIA” – Revoltado, Jucá pediu a palavra para criticar o adiamento do impeachment, assinalando que a data não fora combinada com os senadores e que a decisão não cabe ao Supremo, mas ao próprio Senado.
“Não vou aceitar isso, vou fazer confusão! Lewandowski combinou isso com quem? Ele não é senador, isso é um colegiado. A decisão não é dele, é dos senadores. Temos uma reunião com ele quarta-feira e espero que os líderes tenham coragem de dizer isso a ele, como estou dizendo. Este é o primeiro golpe parcelado da história, é o golpe Casas Bahia, a cada mês uma parcela de golpe”, ironizou o parlamentar.
Em seguida, Jucá afirmou que o período programado pelo presidente do Supremo poderia expor o Brasil ao “ridículo” de ter um presidente interino na China, sem saber se deve ou não participar das reuniões do G-20. “É querer que o Brasil passe vexame”, disse Jucá, acrescentando:
“Dia 26 já podemos começar a discutir, para terminar de votar dia 31. Assim, no dia 31 acabam duas maldições: a maldição de agosto e a maldição Dilma Rousseff. Vai ser o melhor fim de agosto da História”, acentuou.
REAÇÃO EM CADEIA – O agressivo discurso de Jucá incendiou o Senado. Na terça-feira, o presidente da Comissão do Impeachment, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), rejeitou as questões de ordem e os requerimentos apresentados pelos senadores de oposição para retardar o processo. Depois, anunciou que não concorda com a decisão de Lewandowski e saiu do Congresso para se reunir com o presidente do Supremo.
Antes mesmo que Lira voltasse ao Senado, o presidente Renan Calheiros se apressou em afirmar que o processo de votação do impeachment precisa começar em 25 ou 26 de agosto. “Com certeza nós temos como concluir isso antes do final do mês. Vamos trabalhar para que isso efetivamente aconteça, porque a lei manda que levemos em consideração esses prazos”, disse Renan, atropelando a decisão de Lewandowski, que então tirou o corpo fora e culpou a Assessoria do Supremo, alegando que os auxiliares não teriam entendido sua determinação.
SEM DAR PITACO – Em tradução simultânea, podemos afirmar que o presidente do Supremo pensava que tinha poderes para mandar no Senado, mas não tem. Ele presidirá as sessões de julgamento final do impeachment, na forma da lei, mas não poderá dar pitaco nas deliberações dos parlamentares.
Lewandowski terá de obedecer rigorosamente o Regimento do Senado, caso contrário será desautorizado ao vivo e a cores. Com transmissão ao vivo e audiência recorde de quem interessa pela política, os senadores não perderão a oportunidade de enfrentar e desmoralizar o presidente do Senado, caso tente algum ardil de última hora.
Ao final, Lewandowski será obrigado a anunciar a cassação do mandato de sua companheira Dilma Vana Rousseff. Vai ser divertido.
03 de agosto de 2016
Carlos Newton
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