Última das grandes empreiteiras que ainda não havia sido alvo de uma fase da Lava Jato, a Queiroz Galvão cometeu “todos os pecados” investigados na operação, segundo as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. “Ela representa todos os pecados, todas as espécies de crimes que verificamos na Lava Jato”, declarou o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, durante coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (2), em Curitiba.
Segundo ele, há indícios de que executivos da empreiteira realizaram pagamentos de propina por meio de contratos de fachada, fizeram transferências no exterior, doações oficiais e caixa dois, além de tentar impedir investigações da CPI da Petrobras, em 2009.
Os dois executivos da empreiteira presos preventivamente nesta terça (2), Othon Zanoide de Moraes Filho e Ildefonso Colares Filho, “comandavam, determinavam e executavam o pagamento de propina e atos de lavagem [de dinheiro]”, segundo a delegada federal Renata da Silva Rodrigues.
NO EXTERIOR – Uma parte importante dos pagamentos era feita no exterior, por meio da Quip – consórcio que construiu a plataforma P53 e cujo líder era a Queiroz Galvão. O executivo Marcos Pereira Reis, diretor financeiro do consórcio Quip, seria o responsável pelos pagamentos. Ele, que tem um mandado de prisão temporária contra si, está no exterior e ainda não foi localizado.
“Havia a utilização de uma estrutura financeira lá fora”, diz Rodrigues. Segundo as investigações, pelo menos quatro offshores e um trust eram utilizados pela empreiteira para realizar pagamentos a operadores de propina no exterior.
A Quip também é investigada por um pagamento de R$ 2,4 milhões à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006, conforme informou o delator Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC. Esse pagamento não foi alvo da operação desta terça, mas está sob investigação da força-tarefa, que ainda precisa rastrear o dinheiro.
PROPINA A TUCANO – Estão na mesma situação os R$ 10 milhões que teriam sido pagos pela Queiroz Galvão ao então senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), em 2009, para enfraquecer a CPI da Petrobras. Esses valores ainda precisam ser rastreados pela investigação.
Um vídeo gravado por um amigo de Fernando Soares, o Baiano, é uma das principais provas relativas ao episódio. Ele mostra uma reunião entre o ex-senador, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), dois executivos da Queiroz Galvão, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e Baiano, além de Erton Medeiros, da Galvão Engenharia.
No registro, Guerra afirma que “não vamos polemizar”, diz que tem “horror a CPI” e que considera “deplorável” um deputado “fazendo papel de polícia”. O tucano, que morreu em 2014, era um dos integrantes da comissão.
“É uma prova bastante substancial de que houve tentativa de obstruir as investigações”, declarou a delegada Rodrigues. Os fatos já são alvo de um inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal.
03 de agosto de 2016
Estelita Hass Carazzai
Folha
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