Era para ser o ano do Brasil. De o País ir além de suas belezas naturais e da ginga da bola. De se exibir ao mundo como gente grande, maduro. Mas a chance disso já foi perdida.
Ainda que o governo Dilma Rousseff comemore o cumprimento da meta fiscal, a prática continuada de uma política econômica débil, por vezes esquizofrênica, dificilmente será ofuscada por números de um superávit conseguido a partir de falsas exportações, privatização e refinanciamento de dívidas tributárias.Para um mercado desconfiado, isso não acalma os “nervosinhos”, como imagina o ministro Guido Mantega. É oferecer suco de maracujá para quem precisa de tonificantes à base de ajustes e equilíbrio.
Dilma segue gastando muito e mal. E, ao contrário do que o seu ministro da Fazenda quis fazer crer, continua se valendo de malabarismos. Para fechar 2013 no azul, jogou para os últimos dias do ano pagamentos de R$ 4,1 bilhões, dinheiro que só será contabilizado em 2014. O mais incrível é que imaginam que esses truques marotos vão passar despercebidos.
A presidente pode acusar seus críticos de fazer “guerra psicológica”, mas isso não muda a realidade dos números da gastança. A Copa do Mundo está aí para provar. Os 12 estádios previstos para a competição vão consumir mais de R$ 8 bilhões, 285% a mais dos R$ 2,8 bilhões orçados em 2007, quando o ex Lula apostou as fichas no mundial.
Com a megalomania típica das nações subdesenvolvidas, o resultado, ao invés de promover, depõe contra o Brasil. Já é a Copa mais cara da história. As arenas tupiniquins vão custar mais do que o dobro das da África do Sul (R$ 3,2 bilhões) e da rica Alemanha (R$ 3,6 bilhões).
São números que não podem ser escamoteados. Pior: a síndrome de terceiro-mundismo levou o País a construir elefantes brancos, como os estádios de Cuiabá e Manaus, em estados que teriam de fabricar times e torcidas para ocupar parte dos assentos, e que, depois de julho, terão de ser mantidos.
As obras de infraestrutura que seriam o maior legado do evento seguem atrasadas: dos mais de 100 projetos para as 12 cidades-sede, só 21 foram entregues; 14 foram adiados para o pós-Copa.
É quase impossível saber quanto o País gastará com a Copa. Os cálculos variam de R$ 25 bilhões a R$ 35 bilhões, quase um terço dos R$ 106 bilhões previstos no Orçamento da União para a Saúde em todo o ano de 2014.
Os estádios vão ficar prontos, vão mostrar partidas bonitas de se ver, a seleção brasileira pode erguer a taça. Mas o sumo que se extrairá não será doce. Mesmo que não se repitam manifestações que ousam incomodar governantes, vão sobrar dívidas. E às contas a pagar se somará a fartura de gastos comuns em anos eleitorais. É melhor estocar maracujá.
05 de janeiro de 2014
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
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