"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 5 de janeiro de 2014

TEMPO DE PREVISÕES

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, diz o Eclesiastes. É tempo das previsões. Não consigo deixar de trazer aos meus pacientes leitores as previsões que economistas, analistas, pais e mães de santo, videntes, cartomantes, quiromantes, leitores de borra de café e de entranhas de animais, jogadores de búzios e palpiteiros em geral de minha inteira confiança elaboraram para 2014.

Vamos começar pelos economistas. Aliás, escaldados, os mais prudentes já desistiram há muito tempo de fazer previsões econômicas para o Brasil com prazo superior a uma semana. Explico: o Banco Central publica semanalmente um boletim chamado Focus, nos quais cerca de 100 especialistas do mercado financeiro, grandes empresas e meio universitário reveem suas projeções da semana anterior. Assim, o risco de erros grosseiros diminui sensivelmente; mas a utilidade de fazer projeções para qualquer coisa que dependa do que irá acontecer nos próximos meses também diminui. Um exemplo: em janeiro de 2013, o Focus previa crescimento da produção industrial de 3,2%, balança comercial com US$ 15 bilhões de superávit e dólar a R$ 2,10. O produto industrial vai crescer a metade disso, o superávit comercial não passará de US$ 2,5 bilhões e o dólar encostou em R$ 2,40. Quem apostou nas previsões iniciais descobriu que, como regra geral, o governo Dilma continuará a se inspirar em Groucho Marx, que costumava perguntar aos seus incrédulos interlocutores: “Que você prefere: acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?”

Se tivesse preferido acreditar nos próprios olhos, teria descoberto que o país não está crescendo; ao contrário, quando o PIB cresce menos do que a população, ela está empobrecendo. E que não é verdade que o mundo todo também não está crescendo: a economia americana terá um aumento superior a 4% em 2013, a economia europeia já saiu da recessão, a asiática vai bem, obrigado, e a latinoamericana só não vai bem porque a Argentina e a Venezuela vão de mal a pior, enquanto o Brasil anda de lado.

Teria descoberto também que a balança comercial e as contas externas, que o doutor Meirelles deixou pingando azeite, com superávits colossais e reservas internacionais crescentes, já estão voltando à velha rotina: em 2013, o Brasil gastou US$ 80 bilhões a mais do que gerou e logo, logo, estaremos colocando a culpa dos apertos cambiais brasileiros nos gringos, esses malditos...

De resto, as previsões repetem os anos passados: José Sarney prometerá abandonar a vida pública em 2025 para abrir caminho para a renovação da política nacional; as obras para a Copa do Mundo não ficarão prontas e custarão duas vezes e meia mais do que era previsto; a transposição do Rio São Francisco será adiada mais uma vez; dezenas de pessoas morrerão por falta de UTIs, centenas de outras morrerão nos corredores de hospitais à espera de uma vaga e milhares pernoitarão em filas para conseguir uma consulta especializada ou um exame para o segundo semestre de 2015. Milhares de dólares e reais serão encontrados em cuecas e meias em aeroportos e balas perdidas matarão vários inocentes.

Ah, e é claro: as universidades públicas entrarão em greve por tempo indeterminado; quando a greve acabar, os professores e funcionários fingirão repor os dias parados e compensar o atraso do calendário escolar. Se os alunos sairão mais ignorantes ou não das universidades, é outra conversa.

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