Entramos em 2014 com o noticiário carregado pelo debate eleitoral antecipado por governo e oposição. É oportunidade para travar um bom debate sobre como assegurar nos próximos anos as taxas de crescimento prevalentes na década passada. Mas traz também o risco de o debate econômico ser dominado totalmente pelo debate eleitoral.
Há hoje peculiar convergência entre partes divergentes na análise das razões do crescimento da década anterior e o papel da situação econômica internacional. Interessa a muitos, por razões opostas, atribuir à economia internacional a forte expansão da década passada ou o baixo crescimento atual. Outra distorção conveniente é apontar a implementação de um modelo de incentivo ao consumo e o boom das commodities como responsáveis pelo crescimento de 2003 a 2010. Os fatos, porém, divergem das versões.
Os termos de troca (valor médio das mercadorias exportadas pelo Brasil) começaram a subir o suficiente para influenciar a economia a partir de 2006/2007, e o boom ocorreu em 2009/2010, após as medidas anticrise adotadas por outros países.
Foi o forte ajuste monetário e fiscal a partir de 2003 que estabilizou a economia e estabeleceu condições para a expansão econômica. A estabilidade propiciou a alta do crédito e do investimento, deprimidos pelos anos de instabilidade (monetária, fiscal e cambial). O desemprego elevado proporcionou mão de obra à economia em expansão.
Nos primeiros anos, o câmbio desvalorizado beneficiou as exportações de manufaturados, até que o impressionante aumento dos saldos comerciais, do investimento e da credibilidade da política econômica ocasionou gradual valorização do real.
Este ciclo durou até a crise de 2008 e 2009, quando houve, aí sim, a primeira mudança importante de modelo no período, com uso de política fiscal para estimular o consumo e avanço dos bancos públicos. Importante notar neste contexto que todas as medidas monetárias e cambiais adotadas pelo Banco Central em 2008 e 2009 foram revertidas já em 2010, com normalização da liquidez e da política monetária.
A compreensão correta de eventos fundamentais e tão próximos temporalmente do debate atual é essencial para a recuperação do crescimento. Por isso é preciso neste momento travar o debate econômico baseado nos fatos, independentemente do debate eleitoral, que passa pelos temas econômicos com distorção natural e inevitável.
A manutenção da realidade histórica no conhecimento coletivo é fundamental para traçar o rumo de uma política econômica que restaure o nível de crescimento e leve o Brasil a patamar compatível com o potencial do país.
05 de janeiro de 2014
Folha S.Paulo
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