Seria correto solicitar ao leitor que, para melhor compreensão, leia as duas primeiras partes desta série de artigos.
Neste último artigo desta série desejo fazer uma breve reflexão sobre a abordagem do problema, realizada no transcorrer deste processo de “desmonte” do Poder Nacional, notadamente na sua expressão militar.
No contexto atual o Brasil perdeu mais uma vez o “bonde” da história, só que desta vez numa área que compromete seriamente os Objetivos Nacionais Permanentes (ONPs). Na inteligência ou na contra-inteligência a situação é semelhante. O caso da espionagem da NSA apenas demonstra o estado crítico desta arte no Brasil, onde falar que podemos impedi-los de nos espionar chega a ser hilário.
Ao término do governo Lula estive com um general com várias estrelas que trabalhou muitos anos na inteligência militar e no SNI, ao qual foram relatados dados, fatos portadores de futuro e análises que apontavam para um cenário porvir muito desfavorável, incluindo o “desmonte” das Forças Armadas e sua total submissão.
Detalhavam um plano maior e mais complexo do PT e seus associados, o que acabou se comprovando hoje. Ele, após ouvir, disse que não era este o caso, que o Lula era um imbecil e que a questão do governo Lula era só dinheiro! Disse: “antes era 15% e com eles é 30% e pronto. É só isso!”. Erros graves de avaliação. O pior erro foi cometido, subestimar o outro.
Cabe salientar que as Forças Armadas, durante o período dos governos civis que sucederam os militares, foram as únicas organizações que dispunham de quadros, estrutura, doutrina e metodologia para manter uma AI operante em nível aceitável. Daí serem as únicas organizações que podiam antever o que estava por vir e tomar as medidas acautelatórias pertinentes. Nenhuma outra tinha esta capacidade. Se a Inteligência Militar alertou para o que viria, seus comandantes foram omissos ou covardes. Se ela não avisou, ou não pôde prever, foi incompetente. Em ambos os casos o preço a pagar está sendo caro, e talvez fique bem pior.
Vamos para a realização da Copa do Mundo, e depois Olimpíadas, bastante vulneráveis. Considere nossas falhas de vigilância de fronteira (temos muitos milhares de quilômetros de fronteira), de portos e aeroportos, e todas as demais já comentadas antes, como as relativas a deficiência de integração dos diversos órgãos de inteligência. Considere que temos células adormecidas de 5 ou mais organizações terroristas já em atuação em nosso país a mais de quinze anos. Estas organizações tem tido muito tempo e recursos para planejar suas ações. Considere ainda que no passado recente as autoridades pertinentes não conseguiram antecipar-se as ações do PCC em São Paulo (organização brasileira sem metade do conhecimento, experiência e recursos destes grupos terroristas citados) e nem montar um esquema de segurança adequado para o Papa Francisco. Imagine a possibilidade de uma operação de falsa bandeira. Monte o quadro. Parece factível dizer que as autoridades brasileiras podem garantir a segurança de várias delegações estrangeiras se movimentando em várias cidades?
Imagine a repercussão, e consequências, da ocorrência de um evento significativo, e altamente desfavorável, antes ou durante a Copa do Mundo. Talvez estejamos dando, ou foi criada, a oportunidade ideal para um cenário sombrio futuro, e para justificar ações que repercutirão decisivamente no futuro do Brasil. Talvez o caos interesse. A pergunta é: a quem?
Somente a vaidade, arrogância, incompetência severa, miopia grave ou motivos escusos podem fazer alguém dizer que temos uma AI adequada em nosso país. E sem uma AI adequada o Estado fica cego e surdo, totalmente exposto e vulnerável. O Sisbin, em todas as suas expressões e ramais, não tem operacionabilidade mínima para atender demandas da relevância que o cenário atual nos impõe. Vê-se muita teoria, muito discurso com gráficos e esquemas bonitos, mas experiência zero. Todos batem palma, parecem políticos.
O primeiro passo para a mudança é reconhecer sua correta situação. Conhecer a si próprio é o primeiro passo, conhecer o inimigo o segundo, e conhecer o “campo de batalha” o terceiro. A situação atual da Inteligência Militar, e das Forças Armadas, foi fruto de suas opções e omissões. O maior de todos os Veneráveis e Grandes Mestres proclamou que uma arvore se conhece pelos seus frutos. A julgar pelo resultado o trabalho feito na caserna deixou muito a desejar. Precisam de humildade para realizar uma autocritica verdadeira.
O General Valmir Fonseca, nos artigos “Os alertas perdidos” de 24/09/13, “O Silêncio das Forças Armadas” de 28/09/13 e “O tenentismo do sec.XXI” de 04/10/13 mostra seu inconformismo, pondera sobre a responsabilidade em relação aos acontecimentos atuais e avisa que não esperem das Forças Armadas a iniciativa de mudar o rumo das coisas. Entendo que as Forças Armadas foram as principais responsáveis por se chegar a esta situação, face o potencial que tinha de prever e adotar medidas corretivas, e não o fizeram. Não é sensato pedir o mesmo a Igreja, a OAB, aos sindicatos ou outras instituições, que acabaram tragadas no processo.
Alegar que as Forças Armadas estão esperando “a hora certa”, que tem o Plano B, como já ouvi, deixou de ser algo razoável. Chega a soar mal. Ademais, no momento presente, mesmo que quisessem, não tem capacidade operacional nem para iniciar sequer uma passeata. É lamentável. Até mesmo alguns informes dependem da cooperação dos ingleses do MI6 (section 6), designado Secret Intelligence Service ou SIS, que poderá guia-los para onde quiserem.
A História cobrará seu preço, pois quando meu filho chega em casa contando as barbaridades que os professores da escola falam dos militares, eu percebo claramente que toda a trajetória desta expressão do Poder Nacional esta por virar pó. Que cada oficial general lembre-se do legado que deixará e como será lembrado.
Em entrevista em 2001 (Gazeta Mercantil de 02/09/2001), quando da passagem do comando do Grupo Votorantim à 3ª geração, o empresário Antonio Ermirio de Moraes enviou um recado aos sucessores dizendo: “Vocês tem de ter humildade e competência. A vaidade destrói o homem”.
Um grande instrutor, de nome Paulo, disse em ICO 10.22: “Tudo é permitido, mas nem tudo convêm”.
16 de outubro de 2013
Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas. Continua no próximo artigo.
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