Os mais de novecentos mil leitores teimosos de Veja estão, como eu, surpresos com a capa da revista desta semana. Ela estampa a fotografia de Marcela, mulher de Temer, como a pessoa que vai salvar o governo dele dos péssimos índices de popularidade. A matéria com a primeira-dama, com informações fúteis lá dentro da revista, é a prova de que o jornalismo precisa se reciclar se realmente quer sobreviver à mídia digital que enterra impiedosamente a imprensa escrita que teima em não se reinventar. A cada ano menos jornais e revistas circulam no Brasil. Agonizam pela falta de leitores e por problemas econômicos crônicos.
“Marcela Temer, a aposta do governo”, o título da matéria, leva o assinante da revista a pensar que o governo acabou, pois precisa de uma luz no final do túnel para enfrentar as intempéries de 2017. E essa luz, segundo a revista, a assessoria de Temer enxerga no programa “Criança Feliz” que a primeira-dama começa a desenvolver. Quanta pretensão desse governo, gente, quando se sabe que existem oito milhões de crianças abandonadas no Brasil, das quais dois milhões perambulando pelas ruas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ilustrada com sete fotografias, a matéria (especial) mostra a Marcela em momentos de descontração quando jovem se preparando para os concursos de miss em São Paulo. Em outras, no convívio com a família. A reportagem é uma das mais banais já produzidas por uma revista informativa no país. Deixa em quem a lê uma dúvida quanto a honestidade do seu conteúdo. Tem cara e formato de um release da assessoria de imprensa da presidência que leva o leitor a pensar maldosamente que foi fabricada para bajular o Temer. E também a refletir sobre o que disse certa vez o jornalista Roberto Marinho: “Um jornal morre dez anos antes”. A Veja pode estar a caminho do óbito.
Antes tão combativa, a revista tem circulado com matérias fracas, desinteressantes e caducas. Não consegue entregar aos leitores informações diferentes das publicadas pelos jornais diários e divulgadas nos telejornais durante a semana. Parece que padece lentamente ao deixar de apostar no jornalismo investigativo para se preocupar com as abobrinhas como essas da Marcela, que, em outra fase da revista, estariam registradas em uma coluna qualquer de futilidades.
Os editores não entenderam ainda que o assinante é um leitor exigente, que paga por informações exclusivas e inéditas. Enfurnados na redação, eles não perceberam que a notícia no mundo é divulgada em tempo real. Ou seja: a informação quando acontece em qualquer lugar do planeta é registrada pelas redes sociais ao vivo e a cores. Portanto, o assinante que paga pela assinatura ou o leitor que compra a revista nas bancas, não quer ser confundido como um alienado.
Como não bastasse a informação vazia da capa, a revista ainda passou um atestado de incompetência quando não trouxe à luz nada de novo que o brasileiro já não conhecesse sobre a primeira-dama. Deixou-a, inclusive, em maus lençóis ao publicar a futilidade das suas declarações sobre seu futuro trabalho: “É uma honra ser primeira-dama do Brasil e poder ajudar meu marido. Acho que o governo está indo muito bem, está no caminho certo. Como esposa quero dar minha contribuição. A forma que encontrei de ajudar o governo foi ser voluntária, auxiliando no desenvolvimento de nossas crianças”.
É com essas declarações que a revista acredita que a primeira-dama vai tirar o governo do seu marido do marasmo, do ostracismo, dos menos de 10% de popularidade, como a própria revista registra. Que me perdoe a franqueza, mas as declarações de Marcela foram redigidas por um assessor primário, um redator infantil, que a deixa embaraçada quando diz, entre outras coisas, que ela “vai auxiliar no desenvolvimento de nossas crianças”. Além disso, como já disse antes, pobre do presidente que precisa se escudar na beleza da própria mulher para alimentar o sonho de melhorar a sua popularidade.
08 de janeiro de 2017
jorge oliveira
“Marcela Temer, a aposta do governo”, o título da matéria, leva o assinante da revista a pensar que o governo acabou, pois precisa de uma luz no final do túnel para enfrentar as intempéries de 2017. E essa luz, segundo a revista, a assessoria de Temer enxerga no programa “Criança Feliz” que a primeira-dama começa a desenvolver. Quanta pretensão desse governo, gente, quando se sabe que existem oito milhões de crianças abandonadas no Brasil, das quais dois milhões perambulando pelas ruas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ilustrada com sete fotografias, a matéria (especial) mostra a Marcela em momentos de descontração quando jovem se preparando para os concursos de miss em São Paulo. Em outras, no convívio com a família. A reportagem é uma das mais banais já produzidas por uma revista informativa no país. Deixa em quem a lê uma dúvida quanto a honestidade do seu conteúdo. Tem cara e formato de um release da assessoria de imprensa da presidência que leva o leitor a pensar maldosamente que foi fabricada para bajular o Temer. E também a refletir sobre o que disse certa vez o jornalista Roberto Marinho: “Um jornal morre dez anos antes”. A Veja pode estar a caminho do óbito.
Antes tão combativa, a revista tem circulado com matérias fracas, desinteressantes e caducas. Não consegue entregar aos leitores informações diferentes das publicadas pelos jornais diários e divulgadas nos telejornais durante a semana. Parece que padece lentamente ao deixar de apostar no jornalismo investigativo para se preocupar com as abobrinhas como essas da Marcela, que, em outra fase da revista, estariam registradas em uma coluna qualquer de futilidades.
Os editores não entenderam ainda que o assinante é um leitor exigente, que paga por informações exclusivas e inéditas. Enfurnados na redação, eles não perceberam que a notícia no mundo é divulgada em tempo real. Ou seja: a informação quando acontece em qualquer lugar do planeta é registrada pelas redes sociais ao vivo e a cores. Portanto, o assinante que paga pela assinatura ou o leitor que compra a revista nas bancas, não quer ser confundido como um alienado.
Como não bastasse a informação vazia da capa, a revista ainda passou um atestado de incompetência quando não trouxe à luz nada de novo que o brasileiro já não conhecesse sobre a primeira-dama. Deixou-a, inclusive, em maus lençóis ao publicar a futilidade das suas declarações sobre seu futuro trabalho: “É uma honra ser primeira-dama do Brasil e poder ajudar meu marido. Acho que o governo está indo muito bem, está no caminho certo. Como esposa quero dar minha contribuição. A forma que encontrei de ajudar o governo foi ser voluntária, auxiliando no desenvolvimento de nossas crianças”.
É com essas declarações que a revista acredita que a primeira-dama vai tirar o governo do seu marido do marasmo, do ostracismo, dos menos de 10% de popularidade, como a própria revista registra. Que me perdoe a franqueza, mas as declarações de Marcela foram redigidas por um assessor primário, um redator infantil, que a deixa embaraçada quando diz, entre outras coisas, que ela “vai auxiliar no desenvolvimento de nossas crianças”. Além disso, como já disse antes, pobre do presidente que precisa se escudar na beleza da própria mulher para alimentar o sonho de melhorar a sua popularidade.
08 de janeiro de 2017
jorge oliveira
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