"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 8 de janeiro de 2017

O COMUNISMO DE SAPATO NOVO

A contestação mais comumente feita a quem denuncia os erros e maldições do ideário comunista é a de que o comunismo morreu. E se morreu, seu ridículo adversário é um Dom Quixote com neurônios de Sancho Pança, avançando contra algo que não existe mais.

Eu mesmo imaginei, em 1989, com a queda do Muro, que a desgraçada trajetória das experiências com o comunismo real, somada ao piedoso e exitoso trabalho diplomático e pastoral de S. João Paulo II, houvesse produzido a completa paralisia das funções vitais de uma doutrina que nunca foi funcional. Tal ilusão durou pouco mais de um ano. Enquanto a maior parte dos velhos Partidos Comunistas no Leste Europeu fechava as portas e outros, mundo afora, mudavam a razão social para não perder freguesia, aqui no Brasil eles se mantinham vivos e foram dando cria. O primeiro motivo para a não expedição do atestado de óbito é proporcionado pela existência, entre nós, ainda hoje, de nove partidos, registrados no TSE, que têm o comunismo no nome de família ou nas posições políticas. Não sei de outro país onde existam tantos partidos com esse alinhamento.

Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma transmutação. O operário industrial, que o marxismo via como protagonista da revolução, começou a ganhar dinheiro e mandou a ideologia às favas, fazendo com que a militância revolucionária se deslocasse para os operários do imaterial, do conhecimento, com atuação no campo da cultura, vale dizer, muito prioritariamente, para a universidade. Não fosse assim, onde iriam tantos professores buscar para si o título de "trabalhadores em Educação"? Aqui, o nome determina a função e o ensinado se subordina à causa.

Esse projeto andava muito bem no Brasil. Não foi por mero acaso que o Muro de Berlim caiu e o PT fazia nascer nestas bandas o Foro de São Paulo, em comunhão de corações e mentes com Fidel Castro. Por esse caminho, chegou ao poder e não preciso contar o resto dessa específica história. O projeto de tomada da hegemonia através da cultura e do meio acadêmico, porém, foi rompido pelo surgimento da Internet e pela incontrolável propagação das redes sociais, difundindo o que deveria permanecer oculto, disponibilizando o que era para ser contido: o saber filosófico dos grandes autores liberais e conservadores, não marxistas. Estou tratando disso em maior detalhe noutro artigo desta semana, especial para Zero Hora.

O que importa, aqui, é conhecer a diferença entre esquerda democrática e esquerda não democrática, comunista, porque ela permitirá saber como andam as funções vitais dessa doutrina e do respectivo movimento revolucionário, que se fazem passar por mortos para ganharem sapatos novos. Trata-se de algo muito simples, que funciona como o retratinho na carteira de identidade. Qual a posição desses "trabalhadores do imaterial" (para dizer como Negri) e dos dirigentes políticos desses partidos que trocam, em suas siglas, o C (de comunista) por um impreciso S (de socialista), sobre assuntos como:

· regimes totalitários de esquerda, atuais ou passados?

· Luís Carlos Prestes, Carlos Marighella, Carlos Lamarca?

· Fidel Castro, Che Guevara, Hugo Chávez?

· os regimes bolivarianos e Nicolás Maduro?

· Foro de São Paulo?

· Paulo Freire?

· - entre outros temas cruciais - "controle social da mídia", conselhos populares, invasão de terras?

Submeta os partidos políticos e suas lideranças, formadores de opinião e profissionais da educação ao teste das respostas cabais ou facilmente presumíveis a essas questões e você verá quem se faz de morto para ganhar sapato novo.



08 de janeiro de 2017
Percival Puggina , membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor

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