"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

NA HORA DA VERDADE, PRIORIDADE DE TEMER PRECISA SER O LIMITE DOS GASTOS PÚBLICOS

Charge do Tacho, reprodução do Diário de Canoas

O governo está brincando com fogo ao deixar a base aliada dar tantos sinais de fragilidade. Justamente o que os investidores mais temiam, depois da aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, era a dificuldade do Palácio do Planalto de levar adiante a reforma da Previdência e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento de gastos à inflação do ano anterior. E isso está acontecendo. O sinal de alerta foi ligado.

PROVA DE FORÇA – Ciente do risco, o presidente Michel Temer não só antecipou a chegada ao Brasil da viagem à China, como convocou aliados e ministros mais próximos para tentar apaziguar os ânimos e dar demonstrações de força. Agora, a garantia é de que a reforma da Previdência será encaminhada ainda neste mês ao Congresso e não mais depois das eleições municipais, como pregava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Neste momento, contudo, mais do que as mudanças no sistema previdenciário, o que realmente preocupa os investidores é o andamento da PEC dos gastos.

AJUSTE FISCAL – Sem a aprovação da proposta de teto dos gastos públicos, não há como se falar em ajuste fiscal. Como bem ressalta um dos maiores banqueiros do país, se o teto dos gastos for empurrado com a barriga e desfigurado no Congresso, o governo de Temer acabará pouco depois de começar. Não há como se falar em retomada do crescimento econômico com o desajuste das contas públicas alimentando a desconfiança.

Realmente, a base de todos os problemas que o Brasil enfrenta hoje está na área fiscal. Da forma como as despesas estão estruturadas hoje, é impossível a economia se manter de pé. Para sustentar um Estado perdulário, a sociedade banca uma carga tributária de quase 36% do Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo com tantos impostos, as contas públicas terão, neste ano, rombo de R$ 170,5 bilhões. Em 2017, serão mais R$ 139 bilhões.

É impossível continuar convivendo com tamanho descalabro. O governo precisa convencer a base aliada de que o jogo que está sendo jogado só tem um lado: o do país.

RETROCESSO – Ao falar dos desafios de Temer, um dos donos de um dos maiores bancos privados do país aponta para um gráfico que está sobre sua mesa. Nele, estão duas barras. Uma delas mostra que o PIB per capita (total de riquezas dividido pela população) voltou aos níveis do terceiro trimestre de 2009.

“Ficamos mais pobres. Todos os ganhos trazidos pela estabilidade foram destruídos por uma política econômica irresponsável. Para reverter isso, só com muito juízo. E isso passa pela arrumação das contas públicas”, afirma.

Portanto, Temer não pode se render aos interesses políticos. Chegou a hora de se pensar no país. Por mais que a base aliada esperneie, ele terá que demonstrar fidelidade aos compromissos assumidos quando jurou sobre a Constituição fazer o melhor para país. Qualquer outro caminho levará ao fracasso.



09 de setembro de 2016
Vicente Nunes
Correio Braziliense

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