"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O ENCOSTO FACEBOOKIANO

ARTIGOS - CULTURA


Onde reina a dissipação mental, asnos pontificam — não raro com ar afetado de circunspecção, indigerível para qualquer pessoa com dois dedos de miolos e um pouco de bom senso. Assim é o Facebook: com volúpia opiniática imparável, verdadeiras cavalgaduras desembestam certezas sobre os mais variados assuntos, com o entusiasmo insano de quem atirasse blocos de granito à cabeça de inimigos imaginários. Não conseguem apresentar os seus argumentos sem denegrir outras pessoas, e aqui se vê a nota distintiva do caráter desses indivíduos audazes: se ninguém os lisonjeia, eles próprios encarregam-se de fazê-lo, sem qualquer sinal detectável de pudor.
Por trás do teclado dos computadores de onde reinventam a roda e o mundo, são Hércules invencíveis pessoalmente, costumam ser libélulas a esvoaçar tímidas em torno do próprio ego. A distância, atroam de perto, esganiçam. Começam por fazer alusões maldosas em postagens enigmáticas, depois passam à detração enviesada, até que, flagrados em delito de inveja ou de ódio, são impelidos a mostrar o estado tétrico de suas almas.
Quando porém se trata de julgar moralmente as atitudes alheias, sob a proteção reconfortante proporcionada pelo evanescente universo virtual, essas libélulas tornam-se carniceiras, agem como urubus esfomeados. Julgam-se no direito de cobrar condutas de pessoas cujas motivações nem de longe vislumbram. Trombeteiam juízos definitivos que, de alguma maneira, mancham a honra alheia, o que pouco se lhes dá a reputação do próximo é um conceito abstrato inalcançável para quem chafurdar transformou-se em ofício.
O Facebook é hoje a tribuna das susceptibilidades eriçadas, dos ataques enraivecidos, do desnudamento involuntário de vaidades letais, do entretenimento de sádicos e psicóticos, da incivilidade ostentada como coragem.
Quem nele entra para ver e fazer coisas boas, aprenda a ser seletivo e tenha cuidado: a péssima companhia virtual tem o condão de se fazer virtualmente onipresente.
Em tais casos, não tem pé-de-pato-mangalô-três-vezes que dê jeito.
Só Deus pode afastar o encosto!
26 de maio de 2015
Sidney Silveira
 é professor e edita o blog Contra Impugnantes.

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