Depois que receberam um parecer sobre possibilidade de fundamentação jurídica do afastamento da presidente Dilma Rousseff, encomendado ao jurista Miguel Reale Júnior, ex-consultor-geral da República e ex-ministro da Justiça, os tucanos desistiram de bancar a apresentação imediata de um pedido de impeachment, por ainda não haver respaldo legal (prova material contra a chefe do governo) e apoio político no Congresso. Preferiram seguir a sugestão de Reale Júnior e apresentar um pedido de abertura de ação penal contra a presidente.
OPOSIÇÕES
Depois de receberem o parecer, os dirigentes tucanos convocaram uma reunião com os outros partidos de oposição (DEM, PPS, Solidariedade e PSC) na quinta-feira passada. Houve alguma relutância, mas os líderes dessas legendas também acabaram aceitando a tese do jurista, e o pedido de abertura da ação penal será apresentado esta terça-feira à Procuradoria-Geral da República, órgão que tem a função de processar chefe do governo.
Como essa solução, os oposicionistas tentam apenas criar um factóide político, porque de antemão todos sabem que o procurador Rodrigo Janot, que está em campanha para ser reconduzido ao cargo e depende de nomeação da presidente Dilma, não abrirá inquérito algum contra a chefe do governo. Ele já deixou bem clara sua posição a respeito, quando excluiu o nome de Dilma Rousseff da relação dos políticos envolvidos no esquema da Petrobras.
ARGUMENTAÇÃO CRIATIVA
A argumentação de Janot – muito criativa, por sinal – foi de que existiria “uma vedação constitucional” que impede haver processo contra presidente da República por ato criminoso ocorrido antes de assumir o mandato, vejam a que ponto chega a desfaçatez desse procurador no afã de tornar inimputável a figura do chefe do governo, que, ao contrário, precisa ser o mais imputável dos cidadãos, justamente por exercer a mais alta função da República.
Além do mais, o artigo da Constituição é mal redigido e foi aprovado antes da existência de reeleição para mandatos executivos. Ou seja, o dispositivo constitucional que até agora salvou Dilma está completamente caduco, atingido por uma espécie de Alzheimer jurídico e político.
Traduzindo tudo isso: 1) a ação penal das oposições está condenada ir para a cesta do lixo da Procuradoria; 2) os tucanos mostram cada vez mais que não têm disposição para comandar a oposição; 3) o ex-ministro Reale Júnior deveria mudar de profissão. Afinal, se ele não conhece motivos para pedir o afastamento ou cassação da presidente Dilma, poderia perguntar aos juristas Ives Gandra Martins e Jorge Béja, que eles lhe ensinariam o caminho das pedras – Improbidade Administrativa (tese de Gandra) e Crime Eleitoral (tese de Béja), já amplamente divulgadas pela grande imprensa, através da Folha e da Veja. Mas quem se interessa?
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LEIA AMANHÃ: Se Reale quiser mais um motivo para o impeachment de Dilma, podemos ajudá-lo.
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“A ação conjunta das oposições reforça o movimento que busca reparar os enormes danos que os governos do PT vêm causando ao país”, disse Aécio Neves. Na véspera, o senador mineiro, antagonista de Dilma na eleição presidencial de 2014, descartara a hipótese de o tucanato patrocinar um pedido de impeachment. Algo que lhe rendeu muitas críticas de representantes dos movimentos que pregam o afastamento da presidente na web e nas ruas.
Embora não utilize o vocábulo impeachment, o objetivo das legendas de oposição é o de afastar Dilma do cargo de presidente. A diferença é que, em vez de entrar com um pedido de afastamento por crime de responsabilidade junto à presidência da Câmara, optou-se pela via do crime comum. Com isso, a decisão sobre o futuro da ação passa a ser do procurador Janot, não do presidente da Câmara, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Reunidos no gabinete do presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), os líderes oposicionistas decidiram levar, na terça-feira (26), o pedido de abertura de investigação à Procuradoria-Geral da República.
O argumento é que Dilma cometeu, em seu primeiro mandato, crime comum com a prática das chamadas “pedaladas”: manobras fiscais com o uso dos bancos oficiais.
Para não reconhecer o recuo, os oposicionistas alegam que, se aprovada, a investigação poderá levar ao impeachment. Mas admitem que o processo é bem mais longo. O pedido tem que ser aceito pela PGR –o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, porém, já se manifestou sobre a impossibilidade da petista ser processada por crime cometido antes do atual mandato– e submetido ao Supremo Tribunal Federal.
26 de maio de 2015
Carlos Newton
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