O governo ficou surpreso com a inflação de junho (0,40%), que fez o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) superar, na variação acumulada em 12 meses, o teto do regime de metas (6,50%). Com variação de 6,52%, este foi o 11º mês, em 42 meses do governo Dilma, em que o índice superou o limite de tolerância. "Não esperávamos o estouro do teto", admitiu, em entrevista a esta coluna, o ministro interino da Fazenda, Paulo Caffarelli.
A realização da Copa do Mundo explica, em boa medida, a carestia de junho. E, como o torneio só termina no dia 13, deve pressionar os preços também em julho. De toda forma, Caffarelli acredita que, neste mês, a inflação ficará abaixo de 0,40%. "Confiamos que, em julho, o IPCA acumulado em 12 meses caia abaixo do teto", disse ele.
O otimismo relativo da área econômica se baseia no que fez a inflação dar um salto em junho. Segundo o IBGE), as diárias de hotéis aumentaram 25,33% em junho, gerando inflação de 1,57% no item "despesas pessoais", quase o dobro da variação registrada em maio (0,80%). Também em junho, as passagens aéreas, igualmente pressionadas pela Copa, subiram, em média, 21,95%, inflando o item "transportes", cuja variação média chegou a 0,37% no último mês.
Apenas hotéis e tarifas aéreas responderam por 50% da inflação de junho - 0,20 ponto percentual do IPCA de 0,40%. O governo espera que, com o fim da Copa, esses preços recuem, devolvendo um pedaço significativo da inflação. "O IPCA mensal vem caindo desde março. E em junho, tivemos deflação nos preços dos alimentos e bebidas [de 0,11%] e nos itens de comunicação [de 0,02%]", observa Caffarelli.
Dos grupos de preços acompanhados pelo IBGE, apenas os dois mencionados - transportes e despesas pessoais - subiram em junho, quando comparados a maio. Em todos os outros (alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, saúde e cuidados pessoais, educação e comunicação), a inflação recuou. Não fosse a Copa, o IPCA poderia ter fechado o mês passado em torno de 0,20%, em linha com o resultado do mesmo mês de 2013 (0,26%).
Levantamento feito pelo secretário de Política Econômica, Márcio Holland, mostra que a inflação costuma subir no Brasil em períodos de Copa do Mundo, mesmo quando o evento é realizado em outros países.
É fato também que, no Brasil, a inflação costuma dar uma trégua entre os meses de junho e agosto e que volta a acelerar entre setembro e dezembro, como ocorreu nos últimos cinco anos. A dúvida sobre o restante do ano recai sobre os preços represados de algumas tarifas públicas, como energia e combustíveis.
Especialistas estimam que exista hoje uma inflação represada de 1,2 a 1,5 ponto percentual, algo que poderia levar o IPCA anual a quase 8%. O governo da presidente Dilma Rousseff já deixou claro que não pretende mexer nesses preços antes da eleição de outubro. A ideia também é evitar um "tarifaço", isto é, o realinhamento integral das tarifas defasadas. A expectativa, porém, é que alguns reajustes ocorram em 2014.
Nesse cenário, é possível que a inflação mensal continue caindo até agosto e em 12 meses siga pressionada neste e nos próximos meses - essencialmente, por causa do efeito base de comparação com 2013. No último trimestre do ano, a depender da decisão que o governo tome em relação aos preços administrados, ela pode voltar a subir nas duas medidas (mensal e em 12 meses), ameaçando fechar o ano acima do teto de tolerância. O governo, como deixa claro Paulo Caffarelli, não acredita nessa possibilidade.
A equipe econômica contrapõe as expectativas mais pessimistas com algumas medidas, em gestação, que pretendem diminuir custos das empresas. Estão no cardápio, entre outras iniciativas, a manutenção da desoneração da folha de pagamento de vários setores; a melhoria das condições de adesão ao Refis (programa de renegociação de débitos fiscais); a reedição do programa Reintegra; a adoção de estímulos para a abertura de capitais de pequenas e médias empresas; e a prorrogação dos benefícios fiscais das debêntures emitidas para projetos de infraestrutura.
Geralmente, medidas como essas, embora meritórias, ajudam a melhorar a margem de lucro das companhias e não necessariamente a controlar preços. Um argumento para se esperar uma inflação mais comportada nos próximos meses vem do Banco Central (BC): os efeitos defasados e cumulativos do ciclo de alta da taxa de juros estão se fazendo sentir neste momento na atividade econômica. "O que o BC tem dito é que os efeitos [da alta dos juros] batem na atividade primeiro e depois batem na inflação", ponderou uma fonte oficial.
De fato, a economia tem mostrado sinais de baixo crescimento neste ano. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou apenas 0,2%. A produção industrial está recuando em maio e mesmo o varejo, um dos setores que mais cresceram na última década, tem mostrado acomodação.
Os números têm mostrado que, apesar do baixo crescimento, a inflação tem se situado, persistentemente, acima da meta de 4,5% - que, por um eufemismo típico de Brasília, virou "centro da meta". Em 24 dos 42 meses de gestão Dilma, o IPCA ficou acima de 6% (ver gráfico), próximo do limite.
A realização da Copa do Mundo explica, em boa medida, a carestia de junho. E, como o torneio só termina no dia 13, deve pressionar os preços também em julho. De toda forma, Caffarelli acredita que, neste mês, a inflação ficará abaixo de 0,40%. "Confiamos que, em julho, o IPCA acumulado em 12 meses caia abaixo do teto", disse ele.
O otimismo relativo da área econômica se baseia no que fez a inflação dar um salto em junho. Segundo o IBGE), as diárias de hotéis aumentaram 25,33% em junho, gerando inflação de 1,57% no item "despesas pessoais", quase o dobro da variação registrada em maio (0,80%). Também em junho, as passagens aéreas, igualmente pressionadas pela Copa, subiram, em média, 21,95%, inflando o item "transportes", cuja variação média chegou a 0,37% no último mês.
Apenas hotéis e tarifas aéreas responderam por 50% da inflação de junho - 0,20 ponto percentual do IPCA de 0,40%. O governo espera que, com o fim da Copa, esses preços recuem, devolvendo um pedaço significativo da inflação. "O IPCA mensal vem caindo desde março. E em junho, tivemos deflação nos preços dos alimentos e bebidas [de 0,11%] e nos itens de comunicação [de 0,02%]", observa Caffarelli.
Dos grupos de preços acompanhados pelo IBGE, apenas os dois mencionados - transportes e despesas pessoais - subiram em junho, quando comparados a maio. Em todos os outros (alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, saúde e cuidados pessoais, educação e comunicação), a inflação recuou. Não fosse a Copa, o IPCA poderia ter fechado o mês passado em torno de 0,20%, em linha com o resultado do mesmo mês de 2013 (0,26%).
Levantamento feito pelo secretário de Política Econômica, Márcio Holland, mostra que a inflação costuma subir no Brasil em períodos de Copa do Mundo, mesmo quando o evento é realizado em outros países.
É fato também que, no Brasil, a inflação costuma dar uma trégua entre os meses de junho e agosto e que volta a acelerar entre setembro e dezembro, como ocorreu nos últimos cinco anos. A dúvida sobre o restante do ano recai sobre os preços represados de algumas tarifas públicas, como energia e combustíveis.
Especialistas estimam que exista hoje uma inflação represada de 1,2 a 1,5 ponto percentual, algo que poderia levar o IPCA anual a quase 8%. O governo da presidente Dilma Rousseff já deixou claro que não pretende mexer nesses preços antes da eleição de outubro. A ideia também é evitar um "tarifaço", isto é, o realinhamento integral das tarifas defasadas. A expectativa, porém, é que alguns reajustes ocorram em 2014.
Nesse cenário, é possível que a inflação mensal continue caindo até agosto e em 12 meses siga pressionada neste e nos próximos meses - essencialmente, por causa do efeito base de comparação com 2013. No último trimestre do ano, a depender da decisão que o governo tome em relação aos preços administrados, ela pode voltar a subir nas duas medidas (mensal e em 12 meses), ameaçando fechar o ano acima do teto de tolerância. O governo, como deixa claro Paulo Caffarelli, não acredita nessa possibilidade.
A equipe econômica contrapõe as expectativas mais pessimistas com algumas medidas, em gestação, que pretendem diminuir custos das empresas. Estão no cardápio, entre outras iniciativas, a manutenção da desoneração da folha de pagamento de vários setores; a melhoria das condições de adesão ao Refis (programa de renegociação de débitos fiscais); a reedição do programa Reintegra; a adoção de estímulos para a abertura de capitais de pequenas e médias empresas; e a prorrogação dos benefícios fiscais das debêntures emitidas para projetos de infraestrutura.
Geralmente, medidas como essas, embora meritórias, ajudam a melhorar a margem de lucro das companhias e não necessariamente a controlar preços. Um argumento para se esperar uma inflação mais comportada nos próximos meses vem do Banco Central (BC): os efeitos defasados e cumulativos do ciclo de alta da taxa de juros estão se fazendo sentir neste momento na atividade econômica. "O que o BC tem dito é que os efeitos [da alta dos juros] batem na atividade primeiro e depois batem na inflação", ponderou uma fonte oficial.
De fato, a economia tem mostrado sinais de baixo crescimento neste ano. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou apenas 0,2%. A produção industrial está recuando em maio e mesmo o varejo, um dos setores que mais cresceram na última década, tem mostrado acomodação.
Os números têm mostrado que, apesar do baixo crescimento, a inflação tem se situado, persistentemente, acima da meta de 4,5% - que, por um eufemismo típico de Brasília, virou "centro da meta". Em 24 dos 42 meses de gestão Dilma, o IPCA ficou acima de 6% (ver gráfico), próximo do limite.
10 de julho de 2014
Cristiano Romero, Valor Econômico
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