Crime contra o patrimônio alcança número recorde de ocorrências em São Paulo; Secretaria da Segurança Pública deve explicações
Registrado no mês de maio novo recorde histórico de ocorrência de roubos em São Paulo, o secretário da Segurança Pública do Estado, Fernando Grella Vieira, afirmou que não dispõe de um diagnóstico preciso sobre as causas do fenômeno, mas prometeu que dentro de uma ou duas semanas terá "alguma conclusão a respeito".
Seria "achismo", ponderou, dar explicações antes de ter o respaldo de estudos técnicos. De toda maneira, Grella disse não estar satisfeito "com os resultados que estão por aí". Também pudera: já são 12 meses de altas consecutivas no número de roubos; em maio, contabilizaram-se quase 15 mil assaltos na capital, enquanto Nova York e Londres tiveram menos de 2.000.
Há mérito, sem dúvida, em recusar o "achismo" e considerar mudanças em uma corporação que acerta na redução de homicídios, mas erra na proteção do patrimônio. Causa estranheza, contudo, que o secretário tenha esperado a situação chegar a tal extremo para se "debruçar sobre o assunto".
A epidemia de roubos não é novidade. Por que a demora? Tivesse o governo reagido com a devida presteza, medidas corretivas já poderiam ser implementadas.
A letargia, além de expor clamoroso erro de avaliação do governo Geraldo Alckmin (PSDB), contribui para alimentar especulações sobre um suposto boicote por parte da Polícia Militar, conforme apontaram policiais civis.
Ainda que a secretaria considere a hipótese "equivocada", dados oficiais divulgados nos cinco primeiros meses do ano indicam que a quantidade de prisões em flagrante caiu 8%; as ocorrências relativas a tráfico de drogas diminuíram 18%; e os casos de porte ilegal de arma encolheram 7%.
Como explicar esses números? Eis mais um aspecto a ser incorporado nos esforços de Grella para prestar esclarecimentos à sociedade e embasar a necessária reação das forças de segurança.
Afora problemas episódicos, é crucial enfrentar questões estruturais. Por louváveis que sejam os resultados em outras frentes, a polícia está longe de prestar um serviço público à altura das demandas e necessidades dos contribuintes.
Basta dizer que apenas um em cada dez registros de roubo termina em inquérito. O corolário dessa inércia é a impunidade --um estímulo para a prática de ilícitos.
A Secretaria da Segurança precisa tomar providências imediatas --como o aumento do policiamento ostensivo e o remanejamento de efetivos para as áreas mais afetadas-- enquanto seu titular busca causas para a crise. Uma vez identificadas, que sejam combatidas com celeridade e eficiência. São Paulo não pode mais esperar.
10 de julho de 2014
Editorial Folha de SP
Registrado no mês de maio novo recorde histórico de ocorrência de roubos em São Paulo, o secretário da Segurança Pública do Estado, Fernando Grella Vieira, afirmou que não dispõe de um diagnóstico preciso sobre as causas do fenômeno, mas prometeu que dentro de uma ou duas semanas terá "alguma conclusão a respeito".
Seria "achismo", ponderou, dar explicações antes de ter o respaldo de estudos técnicos. De toda maneira, Grella disse não estar satisfeito "com os resultados que estão por aí". Também pudera: já são 12 meses de altas consecutivas no número de roubos; em maio, contabilizaram-se quase 15 mil assaltos na capital, enquanto Nova York e Londres tiveram menos de 2.000.
Há mérito, sem dúvida, em recusar o "achismo" e considerar mudanças em uma corporação que acerta na redução de homicídios, mas erra na proteção do patrimônio. Causa estranheza, contudo, que o secretário tenha esperado a situação chegar a tal extremo para se "debruçar sobre o assunto".
A epidemia de roubos não é novidade. Por que a demora? Tivesse o governo reagido com a devida presteza, medidas corretivas já poderiam ser implementadas.
A letargia, além de expor clamoroso erro de avaliação do governo Geraldo Alckmin (PSDB), contribui para alimentar especulações sobre um suposto boicote por parte da Polícia Militar, conforme apontaram policiais civis.
Ainda que a secretaria considere a hipótese "equivocada", dados oficiais divulgados nos cinco primeiros meses do ano indicam que a quantidade de prisões em flagrante caiu 8%; as ocorrências relativas a tráfico de drogas diminuíram 18%; e os casos de porte ilegal de arma encolheram 7%.
Como explicar esses números? Eis mais um aspecto a ser incorporado nos esforços de Grella para prestar esclarecimentos à sociedade e embasar a necessária reação das forças de segurança.
Afora problemas episódicos, é crucial enfrentar questões estruturais. Por louváveis que sejam os resultados em outras frentes, a polícia está longe de prestar um serviço público à altura das demandas e necessidades dos contribuintes.
Basta dizer que apenas um em cada dez registros de roubo termina em inquérito. O corolário dessa inércia é a impunidade --um estímulo para a prática de ilícitos.
A Secretaria da Segurança precisa tomar providências imediatas --como o aumento do policiamento ostensivo e o remanejamento de efetivos para as áreas mais afetadas-- enquanto seu titular busca causas para a crise. Uma vez identificadas, que sejam combatidas com celeridade e eficiência. São Paulo não pode mais esperar.
10 de julho de 2014
Editorial Folha de SP
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