A vitória da técnica sobre o improviso no vexame planetário de ontem na partida entre Brasil e Alemanha pareceu corroborar a escrita: não se pode fazer tudo errado esperando que no fim dê tudo certo.
A despeito disso, em um ponto situação e oposição estão de acordo: o Brasil tem sido anfitrião de uma Copa do Mundo inesquecível. Ainda que não tenha saído tudo certíssimo conforme o figurino ideal, saiu tudo na medida do agradabilíssimo.
É a Copa de um país de sorte. Ou melhor, um país onde ocasionalmente dá tudo certo apesar de todos os pesares. Nada para se orgulhar. Ao contrário, é para fazer pensar.
Se no improviso, na base da simpatia é quase amor, na reversão da expectativa que de tão negativa faz dos erros meros detalhes nos safando do desastre, é de se imaginar o que faríamos com planejamento correto, cumprimento de prazos, gastos dentro da previsão, respeito ao cidadão local.
Seríamos coletivamente mais felizes. Ou, por outra, teríamos mais razões objetivas para sermos essas pessoas cuja amabilidade tanto tem impressionado os estrangeiros. Novidade nenhuma, uma vez que o Brasil aparece em pesquisas como um dos países cuja população tem alto grau de satisfação pessoal.
Um pouco dessa capacidade de organizar e produzir se expressa no sambódromo do Rio de Janeiro naquele espetáculo de sincronização algo incompreensível para quem já participou de um desfile e pôde testemunhar o grau de improvisação na concentração em contraposição ao profissionalismo do resultado na passarela.
Assim foi também na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, quando por aqui esteve o papa Francisco e provavelmente será na Olimpíada de 2016. Mas não se pode viver assim na base do remendo, na ilusão de que no limite a presumida nacionalidade do Divino dá seu jeito.
Trata-se de uma falsa competência. Realiza o sucesso ocasional, mas é incompetente para proporcionar ao povo de maneira permanente condições mínimas de conforto e bem-estar.
Daqui a menos de cinco dias tudo volta ao normal. E por "normal" entenda-se o que é absolutamente anormal: insegurança nas ruas, trânsito caótico, sistema de transportes deficiente, contas a pagar das obras superfaturadas, economia devagar quase parando, preços subindo, serviços públicos de quinta, uma realidade muito distante do Brasil maravilha disponível à diversão geral.
Nada do que se viu nesses dias era de verdade em relação ao cotidiano. Todo o empenho dos governos federal e estaduais esteve voltado para atender às exigências do Mundial. Concentraram-se esforços e o resultado foi positivo.
Se isso é possível ocasionalmente para efeito externo, seria também possível permanentemente para efeito interno.
O grande legado da Copa não são aeroportos modernos nem "arenas" ao molde de elefantes brancos. É, sim, a percepção de que nossos governantes podem, mas não fazem o melhor porque tratam o Brasil como uma nação de vira-latas.
Olho vivo. No ano passado Eduardo Campos comentava assim as especulações de que poderia aceitar a proposta de desistir em troca do apoio do PT a uma candidatura em 2018: "Tem gente que ainda espera o cumprimento de compromissos firmados em 1989".
Sinalizava que não seria ele a acreditar em acordo futuro lastreado em palavras não cumpridas no passado.
Sou você. O ex-presidente Lula está se movimentando (e falando) de modo a dar às suas plateias - principalmente aquelas formadas por empresários e políticos - a impressão de que um segundo mandato de Dilma Rousseff seria um ensaio geral para o retorno dele de fato e de direito em 2018.
Com isso, ele promete nos próximos quatro anos um ambiente mais Lula e menos Dilma.
A despeito disso, em um ponto situação e oposição estão de acordo: o Brasil tem sido anfitrião de uma Copa do Mundo inesquecível. Ainda que não tenha saído tudo certíssimo conforme o figurino ideal, saiu tudo na medida do agradabilíssimo.
É a Copa de um país de sorte. Ou melhor, um país onde ocasionalmente dá tudo certo apesar de todos os pesares. Nada para se orgulhar. Ao contrário, é para fazer pensar.
Se no improviso, na base da simpatia é quase amor, na reversão da expectativa que de tão negativa faz dos erros meros detalhes nos safando do desastre, é de se imaginar o que faríamos com planejamento correto, cumprimento de prazos, gastos dentro da previsão, respeito ao cidadão local.
Seríamos coletivamente mais felizes. Ou, por outra, teríamos mais razões objetivas para sermos essas pessoas cuja amabilidade tanto tem impressionado os estrangeiros. Novidade nenhuma, uma vez que o Brasil aparece em pesquisas como um dos países cuja população tem alto grau de satisfação pessoal.
Um pouco dessa capacidade de organizar e produzir se expressa no sambódromo do Rio de Janeiro naquele espetáculo de sincronização algo incompreensível para quem já participou de um desfile e pôde testemunhar o grau de improvisação na concentração em contraposição ao profissionalismo do resultado na passarela.
Assim foi também na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, quando por aqui esteve o papa Francisco e provavelmente será na Olimpíada de 2016. Mas não se pode viver assim na base do remendo, na ilusão de que no limite a presumida nacionalidade do Divino dá seu jeito.
Trata-se de uma falsa competência. Realiza o sucesso ocasional, mas é incompetente para proporcionar ao povo de maneira permanente condições mínimas de conforto e bem-estar.
Daqui a menos de cinco dias tudo volta ao normal. E por "normal" entenda-se o que é absolutamente anormal: insegurança nas ruas, trânsito caótico, sistema de transportes deficiente, contas a pagar das obras superfaturadas, economia devagar quase parando, preços subindo, serviços públicos de quinta, uma realidade muito distante do Brasil maravilha disponível à diversão geral.
Nada do que se viu nesses dias era de verdade em relação ao cotidiano. Todo o empenho dos governos federal e estaduais esteve voltado para atender às exigências do Mundial. Concentraram-se esforços e o resultado foi positivo.
Se isso é possível ocasionalmente para efeito externo, seria também possível permanentemente para efeito interno.
O grande legado da Copa não são aeroportos modernos nem "arenas" ao molde de elefantes brancos. É, sim, a percepção de que nossos governantes podem, mas não fazem o melhor porque tratam o Brasil como uma nação de vira-latas.
Olho vivo. No ano passado Eduardo Campos comentava assim as especulações de que poderia aceitar a proposta de desistir em troca do apoio do PT a uma candidatura em 2018: "Tem gente que ainda espera o cumprimento de compromissos firmados em 1989".
Sinalizava que não seria ele a acreditar em acordo futuro lastreado em palavras não cumpridas no passado.
Sou você. O ex-presidente Lula está se movimentando (e falando) de modo a dar às suas plateias - principalmente aquelas formadas por empresários e políticos - a impressão de que um segundo mandato de Dilma Rousseff seria um ensaio geral para o retorno dele de fato e de direito em 2018.
Com isso, ele promete nos próximos quatro anos um ambiente mais Lula e menos Dilma.
10 de julho de 2014
Dora Kramer, O Estadão
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