Economista, advogado, doutor em ciência política, pós-doutor em administração, professor de administração pública e pesquisador associado do programa de pós-graduação em contabilidade da Universidade de Brasília
A divulgação de indicadores negativos sobre o baixo desempenho e desajustes na economia brasileira voltou às manchetes diárias dos veículos de comunicação, sobressaltando os agentes econômicos e os cidadãos comuns. Assim, duas décadas após o lançamento do Plano Real, em julho de 1994, a população brasileira volta a se inquietar, diante dos sinais de desajustes na economia, traduzidos num preocupante desequilíbrio das contas públicas e na elevação da inflação.
Esse fenômeno ocorre, por estranha coincidência, ou talvez, por ironia do destino, no mês em que o planeta acompanha o desfecho da Copa do Mundo no Brasil, disputado em 12 novos e dispendiosos estádios de futebol, monumentos ao desperdício de recursos públicos. Recorde-se que o Plano Real tornou possível a estabilização da economia, a recuperação da moeda, o controle da inflação, que por decorrência, propiciou a proteção do poder de compra, o acesso ao crédito, o aumento da oferta de emprego, entre outras mudanças. É sobre essas questões que trataremos a seguir.
Em que pese uma boa parcela dos analistas econômicos e empresários alertarem sobre os riscos da adoção de políticas fiscal e monetária inapropriadas, baseadas no pressuposto de que é possível alcançar uma inflação estável com crescimento autossustentável, o governo se recusa a rever o seu modelo econômico. Esse cenário é agravado pelos custos para a sociedade da má gestão pública, desperdícios e corrupção, que impactam negativamente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Isso explica, em grande parte, porque o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking das maiores economias do mundo, com um PIB estimado de US$ 2,215 trilhões em 2014, enquanto o seu PIB per capita encontra-se na 54ª posição.
As projeções sobre o crescimento anual médio do país no governo Dilma Rousseff deverá situar-se em 1,8%, levando em conta que, em 2013, o crescimento foi de 2,5%, e que o PIB em 2014 terá expansão próxima de 1%. A inflação anual média no período de 2011 a 2014 será de 6,2%, mas se encontra preocupantemente acomodada no teto da meta, que é de 6,5%. A taxa de juros Selic situa-se em 11% ao ano, sem tendência de baixa. Esses indicadores da economia mostram que ela está crescendo abaixo de seu potencial, combinando inflação elevada e persistente com crescimento econômico baixo. É o que se denomina em economia de processo de estagflação.
É sabido que a falta de ações efetivas do governo e do setor privado para aumentar a produtividade do país é o principal entrave para a geração de um novo ciclo de crescimento da economia brasileira. Destacam-se entre os fatores, o baixo nível de inovação, a escassez de recursos humanos qualificados, deficiências de infraestrutura, baixo nível de investimento e um ambiente institucional subdesenvolvido. A queda do investimento, sob a ótica da demanda, revela o fracasso da mudança de política econômica, notadamente com a adoção da Nova Matriz Econômica, que visava, entre outros objetivos, recuperar a indústria e aumentar a taxa de investimento.
Os indicadores do desempenho da economia brasileira comprovam que o modelo econômico executado pelos governos Lula e Dilma, apoiado, em especial, no consumo, se esgotou. Registre-se que, somente para as instituições financeiras as famílias brasileiras estão devendo R$ 1,3 trilhão, o que corresponde a 1/4 do Produto Interno Bruto (PIB) do país (Banco Central, jun. 2014). Estima-se que, de cada R$ 10 da renda das famílias, cerda R$ 4,5 já esteja comprometida para pagar dívidas.
As crescentes reivindicações da população por mudanças na economia e na gestão pública, conforme revelam as pesquisas eleitorais, confirmam o entendimento de que economia e política interagem de forma permanente. Apoiado na análise dos indicadores econômicos, é possível afirmar que a estabilidade da economia encontra-se ameaçada, motivada pela leniência do governo com a política fiscal e pelos riscos de descontrole da inflação. Assim, torna-se possível prever que o nível de descontentamento da população com os governantes e políticos que estão no poder deverá continuar aumentando nos próximos meses.
10 de julho de 2014
José Matias Pereira, Correio Braziliense
A divulgação de indicadores negativos sobre o baixo desempenho e desajustes na economia brasileira voltou às manchetes diárias dos veículos de comunicação, sobressaltando os agentes econômicos e os cidadãos comuns. Assim, duas décadas após o lançamento do Plano Real, em julho de 1994, a população brasileira volta a se inquietar, diante dos sinais de desajustes na economia, traduzidos num preocupante desequilíbrio das contas públicas e na elevação da inflação.
Esse fenômeno ocorre, por estranha coincidência, ou talvez, por ironia do destino, no mês em que o planeta acompanha o desfecho da Copa do Mundo no Brasil, disputado em 12 novos e dispendiosos estádios de futebol, monumentos ao desperdício de recursos públicos. Recorde-se que o Plano Real tornou possível a estabilização da economia, a recuperação da moeda, o controle da inflação, que por decorrência, propiciou a proteção do poder de compra, o acesso ao crédito, o aumento da oferta de emprego, entre outras mudanças. É sobre essas questões que trataremos a seguir.
Em que pese uma boa parcela dos analistas econômicos e empresários alertarem sobre os riscos da adoção de políticas fiscal e monetária inapropriadas, baseadas no pressuposto de que é possível alcançar uma inflação estável com crescimento autossustentável, o governo se recusa a rever o seu modelo econômico. Esse cenário é agravado pelos custos para a sociedade da má gestão pública, desperdícios e corrupção, que impactam negativamente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Isso explica, em grande parte, porque o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking das maiores economias do mundo, com um PIB estimado de US$ 2,215 trilhões em 2014, enquanto o seu PIB per capita encontra-se na 54ª posição.
As projeções sobre o crescimento anual médio do país no governo Dilma Rousseff deverá situar-se em 1,8%, levando em conta que, em 2013, o crescimento foi de 2,5%, e que o PIB em 2014 terá expansão próxima de 1%. A inflação anual média no período de 2011 a 2014 será de 6,2%, mas se encontra preocupantemente acomodada no teto da meta, que é de 6,5%. A taxa de juros Selic situa-se em 11% ao ano, sem tendência de baixa. Esses indicadores da economia mostram que ela está crescendo abaixo de seu potencial, combinando inflação elevada e persistente com crescimento econômico baixo. É o que se denomina em economia de processo de estagflação.
É sabido que a falta de ações efetivas do governo e do setor privado para aumentar a produtividade do país é o principal entrave para a geração de um novo ciclo de crescimento da economia brasileira. Destacam-se entre os fatores, o baixo nível de inovação, a escassez de recursos humanos qualificados, deficiências de infraestrutura, baixo nível de investimento e um ambiente institucional subdesenvolvido. A queda do investimento, sob a ótica da demanda, revela o fracasso da mudança de política econômica, notadamente com a adoção da Nova Matriz Econômica, que visava, entre outros objetivos, recuperar a indústria e aumentar a taxa de investimento.
Os indicadores do desempenho da economia brasileira comprovam que o modelo econômico executado pelos governos Lula e Dilma, apoiado, em especial, no consumo, se esgotou. Registre-se que, somente para as instituições financeiras as famílias brasileiras estão devendo R$ 1,3 trilhão, o que corresponde a 1/4 do Produto Interno Bruto (PIB) do país (Banco Central, jun. 2014). Estima-se que, de cada R$ 10 da renda das famílias, cerda R$ 4,5 já esteja comprometida para pagar dívidas.
As crescentes reivindicações da população por mudanças na economia e na gestão pública, conforme revelam as pesquisas eleitorais, confirmam o entendimento de que economia e política interagem de forma permanente. Apoiado na análise dos indicadores econômicos, é possível afirmar que a estabilidade da economia encontra-se ameaçada, motivada pela leniência do governo com a política fiscal e pelos riscos de descontrole da inflação. Assim, torna-se possível prever que o nível de descontentamento da população com os governantes e políticos que estão no poder deverá continuar aumentando nos próximos meses.
10 de julho de 2014
José Matias Pereira, Correio Braziliense
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