Fiquei sabendo que dona Marta, aquela senhora de ares arrogantes que um dia foi prefeita da cidade de São Paulo, foi condenada por haver cometido pecado de improbidade administrativa durante sua gestão. Eu disse condenada? Tudo é relativo. Agora chegou a hora do jus esperneandi, como costuma acontecer no Brasil. Recursos, medidas protelatórias, embargos infringentes, embargos postergantes, o diabo.
Os fatos ocorreram há já doze anos. Pode contar mais uns dez até que a decisão transite em julgado. Até lá, a antiga alcaide ― que completa 69 aninhos dentro de exatos dois meses ― já será anciã e fará jus à doçura que nossa lei devota aos velhinhos.
Mas deixe estar. Aquela cuja biografia já estava marcada pela ousadia vulgar e debochada do «relaxa e goza» acrescentou mais uma missanga a seu colar de impropriedades. A História se encarregará de guardar memória.
Seu crime? Ter contratado, sem licitação, os serviços de uma ong da qual era sócia fundadora. Por uma quantia próxima de 200 mil reais ― valores de 2004. Não precisa ser jurista para se dar conta da promiscuidade dessa trama.
Nessa mísera história, o que mais me perturba não é o fato de dona Marta ter patrocinado uma ação entre amigos. O que não consigo entender é que a lei permita ao Executivo contratar serviços de ongs contra remuneração.
Pior que isso, mais abismado fico com o desprendimento, a desenvoltura e a despreocupação com que nossos governantes doam milhões do nosso dinheiro a organizações nebulosas, saídas não se sabe de onde, que brotam feito mato depois da chuva.
Organizações não governamentais, por definição, têm de estar desligadas e bem afastadas de governos. Que andem com suas próprias pernas e que vicejem por seus próprios meios. Irrigá-las com dinheiro público é porta escancarada a corrupção e a desvios. Um desatino.
17 de janeiro de 2014
José Horta Manzano
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