"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SOBRE A BIOGRAFIA "DIRCEU"

          Artigos - Governo do PT        
capadirceu
Escrito por Carlos Andreazza

Nosso destemido editor Carlos Andreazza, da editora Record, dá um belíssimo chega-pra-lá no jornalista Mario Sergio Conti - que parece estar disputando com Breno Altman a vaga de carregador oficial de malas de José Dirceu - no artigo "Sobre a biografia 'Dirceu'", publicado hoje pela Folha de S. Paulo.
Conti, para quem não sabe, é aquele que descreveu em detalhes o enterro da arquiteta Lúcia Carvalho na revista Piauí, cuja edição seguinte - imagine - trouxe uma cartinha da dita-cuja, quem sabe escrita do além...
Agora este senhor tão cuidadoso quanto independente quis apontar uns errinhos no extraordinário livro de Octávio Cabral sobre o "chefe de quadrilha" do mensalão, usando o expediente-padrão das esquerdas de tentar invalidar uma obra em função de imprecisões irrisórias, não raro elas mesmas imprecisas. "Xingue-os do que você é; acuse-os do que você faz", recomendava Lenin, fielmente seguido pelos Altmans e Contis da vida. Andreazza neles, porra!

Urge ressaltar que picuinha nenhuma logrou apontar um só erro estrutural capaz de comprometer o conjunto desse memorável trabalho.
 
Todo o trabalho biográfico está sujeito a erros. É preciso reconhecê-los e repará-los imediatamente, com seriedade e energia, na exata mesma medida em que se deve repelir --chamando pelo que é, lembrando o momento em que se dá-- a ação coordenada dos que tentam minar a credibilidade de uma notável e já consagrada reportagem.

Como editor de Otávio Cabral em "Dirceu", posso afirmar e reafirmar o que norteou a produção e a publicação do livro --marcos, aliás, que fundamentam os 70 anos do Grupo Editorial Record: a busca da verdade; o compromisso com a correção; a inegociável cultura da independência; o valor da liberdade; o desejo incontornável de contar histórias importantes e de difundir informações decisivas, da melhor forma, por meio do melhor texto.

Não é à toa, portanto, que já tratamos da próxima biografia a ser escrita por Otávio Cabral: porque, para muito além de seu talento e da promissora carreira de autor, é um jornalista honesto, competente, que está, antes e acima de tudo, a serviço da própria consciência --isto, algo cada vez mais raro.

Ainda que todos os erros apontados por Mario Sergio Conti em "piauí", e repercutidos por Morris Kachani nesta Folha, procedessem, e ainda que aquilo que de fato estava errado não tivesse merecido reparo imediato (e anterior ao texto de Conti), não seria um inventário ressentido de miudezas -- levantamento espantoso, que talvez só o biografado pudesse fazer igual -- a derrubar o primoroso trabalho jornalístico de Otávio Cabral em "Dirceu".

Agora que o mensalão volta à pauta do Supremo e, pois, às manchetes dos jornais, momento em que parece haver, em diversas frentes, uma ofensiva por desqualificar tudo quanto possa ser inconveniente aos condenados, urge ressaltar que picuinha nenhuma, por habilidosa que seja, logrou apontar um só erro estrutural --uma só falha grave, de peso-- capaz de comprometer sequer minimamente o conjunto do memorável trabalho de apuração jornalística e de reconstituição histórica de Otávio Cabral em "Dirceu".

Ninguém precisa reconhecer a relevância de se produzir e publicar uma biografia não autorizada como essa num país acovardado como o Brasil, em que os espaços para o exercício do contraditório mínguam progressivamente e em que bárbaros muito bem remunerados pelo Estado partilham a coragem de ser sempre a favor.

Pode-se bancar uma bem-sucedida carreira de repórter de gabinete com mentiras e rabo preso, mas não se alcança um sucesso como o de "Dirceu" --exatos 37 mil livros vendidos em menos de três meses-- senão com verdade e clareza.

Nesta hora em que o destino de graúdos está em xeque e em que se investe pesadamente na mistificação, convém atentar para o risco de que a dita imprensa livre --mais ou menos sem perceber-- sirva de cavalo aos que se valem do jornalismo para pervertê-lo em obscurantismo e atraso.
É muito bom ser independente, mas sem jamais nos esquecermos de que há quem não o seja.


Carlos Andreazza
 é editor-executivo da Editora Record.

Sinopse da biografia ‘Dirceu’:
 
Daniel, Hoffmann, Carlos Henrique, Pedro Caroço. Cubano, argentino, brasileiro. Todos foram – são – José Dirceu, personagem cuja trajetória se confunde com a história da esquerda latino-americana na segunda metade do século XX, e particularmente com a do Brasil, já no século XXI. Em um trabalho investigativo de fôlego, o jornalista Otávio Cabral reconstitui a vida deste emblemático político.

“Tão fundamental quanto as pesquisas foram as entrevistas com 63 pessoas que conviveram diretamente com Dirceu desde sua infância em Minas Gerais até o julgamento do mensalão. Com esses depoimentos, foi possível desvendar passagens desconhecidas de sua vida, como o exílio em Cuba e a clandestinidade no Brasil durante os anos 1970, além de bastidores inéditos de sua atuação no PT, no governo e no mensalão. Boa parte dos entrevistados pediu para não ser identificada, prática consagrada no jornalismo, as chamadas declarações em off”, afirma Otávio Cabral.

Dirceu foi líder estudantil em 1968, protagonista do histórico congresso da UNE em Ibiúna. Capturado, seria um dos presos trocados pelo embaixador americano. Expatriado e isolado em Cuba, quedou-se protegido por Fidel Castro, que o escolheria para comandar – já com um novo rosto – um foco guerrilheiro no Brasil.

Desbaratado o movimento, encarcerados ou mortos cada um de seus integrantes, sobreviveria para mergulhar num longo período de clandestinidade, a ser somente interrompido, em 1979, pela anistia. Livre, conheceria o sindicalista Lula, fundaria o PT e se tornaria o mais afamado articulador político do petismo – mentor do programa que isolaria setores sectários do partido para construir a mais poderosa e inclemente máquina eleitoral da história do país.

Em 2003, pela via democrática que não ajudara a construir, alcançaria o Palácio, ministro mais importante de um presidente eleito pela esperança. E então o mensalão... De súbito desempregado, era o mais novo consultor da República, capitalista convicto, lobista feito milionário. E então o julgamento do mensalão... A condenação. 

“José Dirceu, que completou 67 anos em 16 de março de 2013, pouco antes da conclusão desta biografia, segue dizendo que só vai revelar seus segredos depois dos 80 anos. Procurei nestas páginas apresentar, treze anos antes, os fatos que realmente importam”, conclui o autor.

23 de agosto de 2013
Nota de Felipe Moura Brasil

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