Inflação do café da manhã acumula alta de 14,64% em 12 meses
Em julho, a inflação deu uma trégua, mas, no acumulado de 12 meses, nem o popular pão com ovo escapa da alta dos preços dos alimentos, grupo persistentemente acima da média geral dos principais indicadores. Segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), realizado a pedido do GLOBO, a inflação medida pelo IPC-10 dos itens que compõem o café da manhã acumula alta de 14,64%, quase nove pontos superior à média do índice, 5,65%. Os destaques são o pão francês, com alta de 12,45%, puxado pela alta do preço do trigo importado em dólar, e o leite longa vida, vilão do primeiro semestre que continua pressionado, aumentando mais de 30% em 12 meses.
Segundo André Braz, economista da FGV, a escalada do dólar exerce um papel importante na equação, principalmente por causa do pão francês. Como o Brasil não é autossuficiente em trigo, as importações afetam diretamente o pãozinho. Em 12 meses, o produto acumula altas de 12,45% pelo IPC-10 e de 13,8% pelo IPCA fechado de julho.
O aumento real (acima da inflação) do preço do pão é sentido mais fortemente por famílias de renda mais baixa, explica o especialista. Enquanto o peso do pão no orçamento das que tem rendimento de até 33 salários mínimos é de 0,80, nas mais pobres, com renda de até 2,5 salários, a importância do pão francês dobra para 1,9%. Para se ter uma ideia, isso é mais que a dupla arroz e feijão, que compromete 1,5% das famílias de baixa renda.
— Os derivados de trigo vão continuar avançando por causa da questão cambial e da baixa oferta. De um mês para o outro, esses produtos podem até deixar de subir, mas no curto prazo, a tendência é de que continuem pressionando — afirma Braz, destacando que as variações mensais, nesse tipo de produto, costumam ser muito voláteis, e que a melhor base de comparação é a de 12 meses.
Leite segue pressionado
Também comum nas mesas de café da manhã, o ovo acumula alta ainda maior. Segundo o IPC-10, o produto tem alta de 22,09% em 12 meses, apesar de ter registrado duas quedas mensais consecutivos, de 0,9% em julho e de 1,46% em agosto. Pelo IPCA, o aumento é semelhante, de 24,54%. Para Luiz Roberto Cunha, economista e professor da PUC-RJ, a explicação pode estar na pressão sobre as rações de galinha, baseadas em milho, que também acumula pressão acima da média em 2013 (para efeito de comparação, o milho em conserva acumula alta de 15,26% em 12 meses, pelo IPCA).
— A galinha é o milho em pé. Em 12 meses, o milho ainda registra aumento muito grande em função da seca nos EUA. É possível que isso esteja causando a pressão sobre o ovo — aponta o professor.
O leite também continua pressionado, contribuindo para deixar o café da manhã do brasileiro mais caro. O produto foi o principal vilão da inflação em junho e, segundo o índice da FGV, acumula alta de 31,81%. No entanto, para André Braz, é possível que, nos próximos meses, a alta do longa vida diminua, por condições melhores dos pastos, o que diminui os custos sobre o gado leiteiro.
— O volume de chuvas tende a aumentar nos próximos meses. Começando a chover mais em áreas de pastagem, o pecuarista não precisa entrar tanto com a ração. Com o gado pastando naturalmente e produzindo leite, o custo acaba sendo barateado — aponta o professor.
Ao todo, oito dos 11 produtos selecionados pelo GLOBO tiveram aumento acima da média do IPC-10. Em contrapartida, o café em pó, item obrigatório para muita gente na refeição matinal, acumula alta tímida, bem abaixo da inflação do período, acelerando apenas 1,43%. Segundo o especialista da FGV, o produto alterna aproximadamente de dois em dois anos entre safras boas e ruins e, no momento, o mercado tem estoque suficiente para manter os preços baixos. O açúcar refinado também ajuda a aliviar a pressão sobre o café da manhã, registrando deflação de 13,97% em 12 meses, graças às boas safras do período.
23 de agosto de 2013
Marcello Corrêa - O Globo
- De acordo com IPC-10, da FGV, aumento acumulado de cesta composta por 11 itens, montada pelo GLOBO, é maior que indicador geral. Pão francês avança 12,45%. Ovo, com 22,09%, e leite longa vida, com 31,81%, também são ‘vilões’
Em julho, a inflação deu uma trégua, mas, no acumulado de 12 meses, nem o popular pão com ovo escapa da alta dos preços dos alimentos, grupo persistentemente acima da média geral dos principais indicadores. Segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), realizado a pedido do GLOBO, a inflação medida pelo IPC-10 dos itens que compõem o café da manhã acumula alta de 14,64%, quase nove pontos superior à média do índice, 5,65%. Os destaques são o pão francês, com alta de 12,45%, puxado pela alta do preço do trigo importado em dólar, e o leite longa vida, vilão do primeiro semestre que continua pressionado, aumentando mais de 30% em 12 meses.
Segundo André Braz, economista da FGV, a escalada do dólar exerce um papel importante na equação, principalmente por causa do pão francês. Como o Brasil não é autossuficiente em trigo, as importações afetam diretamente o pãozinho. Em 12 meses, o produto acumula altas de 12,45% pelo IPC-10 e de 13,8% pelo IPCA fechado de julho.
O aumento real (acima da inflação) do preço do pão é sentido mais fortemente por famílias de renda mais baixa, explica o especialista. Enquanto o peso do pão no orçamento das que tem rendimento de até 33 salários mínimos é de 0,80, nas mais pobres, com renda de até 2,5 salários, a importância do pão francês dobra para 1,9%. Para se ter uma ideia, isso é mais que a dupla arroz e feijão, que compromete 1,5% das famílias de baixa renda.
— Os derivados de trigo vão continuar avançando por causa da questão cambial e da baixa oferta. De um mês para o outro, esses produtos podem até deixar de subir, mas no curto prazo, a tendência é de que continuem pressionando — afirma Braz, destacando que as variações mensais, nesse tipo de produto, costumam ser muito voláteis, e que a melhor base de comparação é a de 12 meses.
Leite segue pressionado
Também comum nas mesas de café da manhã, o ovo acumula alta ainda maior. Segundo o IPC-10, o produto tem alta de 22,09% em 12 meses, apesar de ter registrado duas quedas mensais consecutivos, de 0,9% em julho e de 1,46% em agosto. Pelo IPCA, o aumento é semelhante, de 24,54%. Para Luiz Roberto Cunha, economista e professor da PUC-RJ, a explicação pode estar na pressão sobre as rações de galinha, baseadas em milho, que também acumula pressão acima da média em 2013 (para efeito de comparação, o milho em conserva acumula alta de 15,26% em 12 meses, pelo IPCA).
— A galinha é o milho em pé. Em 12 meses, o milho ainda registra aumento muito grande em função da seca nos EUA. É possível que isso esteja causando a pressão sobre o ovo — aponta o professor.
O leite também continua pressionado, contribuindo para deixar o café da manhã do brasileiro mais caro. O produto foi o principal vilão da inflação em junho e, segundo o índice da FGV, acumula alta de 31,81%. No entanto, para André Braz, é possível que, nos próximos meses, a alta do longa vida diminua, por condições melhores dos pastos, o que diminui os custos sobre o gado leiteiro.
— O volume de chuvas tende a aumentar nos próximos meses. Começando a chover mais em áreas de pastagem, o pecuarista não precisa entrar tanto com a ração. Com o gado pastando naturalmente e produzindo leite, o custo acaba sendo barateado — aponta o professor.
Ao todo, oito dos 11 produtos selecionados pelo GLOBO tiveram aumento acima da média do IPC-10. Em contrapartida, o café em pó, item obrigatório para muita gente na refeição matinal, acumula alta tímida, bem abaixo da inflação do período, acelerando apenas 1,43%. Segundo o especialista da FGV, o produto alterna aproximadamente de dois em dois anos entre safras boas e ruins e, no momento, o mercado tem estoque suficiente para manter os preços baixos. O açúcar refinado também ajuda a aliviar a pressão sobre o café da manhã, registrando deflação de 13,97% em 12 meses, graças às boas safras do período.
23 de agosto de 2013
Marcello Corrêa - O Globo
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