Internacional - Estados Unidos
Quando falamos de racismo devemos distinguir claramente preconceito de discriminação. O primeiro, um fenômeno individual, impossível de extinguir, já a discriminação, sim. O preconceito, se não combatido pode levar à discriminação e vice-versa. Mais freqüentemente ambos são associados de uma forma ou de outra.
O preconceito pode estar presente, mas para haver discriminação são necessárias leis discriminatórias que façam com que este preconceito se mostre em todo o seu vigor. Leis discriminatórias sem preconceito manifesto ou latente não ‘pegam’, mas se houver, exacerba-os.
Um exemplo clássico com conseqüências terríveis são as Leis Raciais de Nüremberg de 1935: foi um rastilho acendido num barril de pólvora previamente preparado para explodir.
Para o estudo do atual estado de coisas nos EUA é necessário contextualizá-lo historicamente. Lá o fenômeno foi semelhante após o fim da Guerra Civil na chamada ‘Era de Reconstrução’ do país. Deu-se o fim da escravidão dos negros nos Estados do Sul, que lhes trouxe liberdade, mas leis discriminatórias foram impostas para que, mesmo libertos, os caminhos para o progresso individual fossem bloqueados e se tornasse impossível sua integração.
Logo após o fim da escravidão o racismo permaneceu de facto em todo o país. Mas, como os EUA são uma Federação, logo foram instituídas em vários Estados da extinta Confederação leis e códigos de conduta que a tornaram de jure. Os EUA ficaram, assim, divididos em relação aos negros: no Sul, o racismo tornou-se de jure, no Norte, permaneceu de facto. Mesmo antes das leis discriminatórias foram formados grupos organizados como a Ku Klux Klan por brancos que não admitiam o fim da escravidão e dos privilégios dos donos das plantations, que se viram subitamente sem a velha mão de obra gratuita.
A primeira Ku Klux Klan foi fundada pelo general Nathan Bedford Forrest da cidade de Pulaski, Tennessee, em 1865. Seu objetivo era impedir a integração social dos negros recém-libertados, como por exemplo, adquirir terras, ter direitos concedidos aos outros cidadãos, como votar. Em 1872, o grupo foi reconhecido como uma entidade terrorista e foi banida dos Estados Unidos.
A segunda Klan foi fundada em 1915, em Atlanta, por William J. Simmons. Este grupo foi criado como uma organização fraternal e lutou pelo domínio dos brancos protestantes sobre os negros, católicos, judeus e asiáticos, assim como outros imigrantes. Famoso pelos linchamentos e outras atividades violentas, chegou a ter 4 ou 5 milhões de membros na década de 1920, incluindo muitos políticos.
As leis discriminatórias nos EUA (Jim Crow Laws [1] - 1876-1965)
Foram aprovadas as Leis Jim Crow, que entraram em vigor em 1876-77 e vigoraram até 1965. Estas leis, locais ou estaduais, tornaram a segregação até então dominada pelos costumes, em segregação de jure: a separação com status ‘igualitário’ entre brancos e negros num sistema de castas. Este sistema tornou-se um verdadeiro modo de vida, mais do que uma série de leis, principalmente, mas não somente, nos estados do sul e fronteiriços.
Os negros foram relegados ao status de cidadãos de segunda classe, o que explica o ‘igualitário’ mencionado acima: as leis definiam ‘com justiça’ os direitos e deveres de ambas as castas que deveriam permanecer segregadas.
Na verdade, a segregação levou os negros a um estado de inferioridade legalizado. Jim Crow representou a legitimação do racismo. Muitos pastores e teólogos cristãos ensinavam que os brancos eram o ‘povo escolhido por Deus’ enquanto os negros eram malditos e destinados a serem servos. Assim, mais uma vez, Deus foi invocado para justificar o injustificável.
Craniologistas, eugenistas, frenólogos [2] e adeptos do darwinismo social, sustentavam que os negros nascem inferiores aos brancos intelectualmente e a integração racial, que incluiria casamentos mistos, levaria à idiotização dos últimos. Assim eram ensinadas as crianças de ambas as raças e os jornais e revistas sistematicamente ridicularizavam os negros que por sua vez, não podiam ser proprietários de meios de comunicação de massa. Tais leis apenas tornavam legais os antigos Códigos para Negros (1800-1866) que já restringia os direitos civis e a liberdade.
É impossível detalhar aqui todos os aspectos das leis Jim Crow. Resumidamente: a segregação atingia a educação pública e os transportes, os espaços públicos (havia praças e ruas às quais os negros não podiam freqüentar). Banheiros, restaurantes e bebedouros eram exclusivos para cada uma das duas raças.
A segregação se estendia às Forças Armadas e até mesmo a detalhes da vida cotidiana: um negro não poderia apertar a mão de um branco, nem acender o cigarro de uma mulher branca, negros não podiam ter gestos afetivos entre si em público, principalmente beijar-se, pois era considerado ofensivo aos brancos.
Os brancos deviam ser apresentados aos negros, nunca vice-versa e o nome do branco era precedido do “Mr.”, o do negro, não. Se um negro andasse num carro dirigido por branco devia sentar-se no banco traseiro ou, no caso de caminhão, no compartimento de cargas.
As normas de etiqueta, raramente mencionadas por historiadores, eram estritas e, em certo sentido, muito mais sofridas e humilhantes.
Stetson Kennedy, autor do Jim Crow Guide [3] mostra algumas regras simples para as conversas entre brancos e negros. Um negro não podia:
- dizer ou insinuar que o branco estava mentindo;
- insinuar intenções desonrosas de um branco;
- sugerir que o branco pertencesse a uma classe economicamente inferior;
- demonstrar conhecimento ou inteligência superior à do branco;
- praguejar contra um branco;
- rir ou mostrar-se zombeteiro com um branco;
- comentar sobre a aparência de uma mulher branca;
As leis e o sistema de etiquetas eram reforçados por violência, real ou ameaçada: o simples ato de beber num bebedouro para brancos punha em risco sua casa, seu emprego e suas próprias vidas. Um branco podia bater num negro impunemente. O aspecto mais perverso é que os negros sequer podiam recorrer às autoridades, pois a polícia, os promotores, os juízes e os carcereiros eram todos brancos. A mais extrema forma de violência eram os linchamentos.
A Suprema Corte praticamente endossou as leis Jim Crow no processo Plessy versus Ferguson, de 1896, sobre o uso segregado (‘separado, mas igual’) de vagões de trem na Louisiana, que não foi considerado inconstitucional.
O fim da segregação e o surgimento do ‘white skin privilege’
Se um grande número de americanos acreditar que o racismo, apesar de não estar presente na ações ainda está oculto na profundidade de nossas vidas, esperando para explodir numa conflagração de ódio, tal como aconteceu no caso Trayvon [v], Jamais será possível um mundo compartilhado.Ben Shapiro, na FrontPage Magazine
A oposição a este estado de coisas veio crescendo, principalmente após a II Guerra Mundial. Nas décadas de 50 e 60 do século passado surgiram ao movimentos pelos direitos civis organizado preponderantemente por negros mas crescentemente apoiados por brancos, principalmente nos Estados do Norte.
A segregação nas escolas públicas foi declarada inconstitucional pela Suprema Corte em 1954, no processo Brown versus Board of Education considerando que a segregação contrariava a 14ª Emenda que reza, em sua Secção 1.:
‘Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos e sujeitos, portanto, à esta Jurisdição, são cidadãos americanos e dos Estado no qual residem. Nenhuma lei estadual poderá reduzir os privilégios e imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos, nem nenhum Estado poderá privar qualquer pessoa de sua vida, liberdade ou propriedade sem o devido processo legal (rule of Law), nem negar a qualquer pessoa em sua jurisdição a proteção igualitária das leis’.
Nos considerandos da decisão a Corte reconheceu que ‘escolas separadas, mas iguais’ eram inerentemente desiguais.
O resto das Jim Crow Laws foi rejeitado pelo Civil Rights Act de 1964 e pelo Voting Rights Act de 1965. O primeiro proibiu a discriminação com base em raça, cor, religião, sexo ou origem nacional. O segundo reforçou a 15ª Emenda: ‘O direito dos cidadãos dos Estados Unidos de votar não será negado ou reduzido por nenhum Estado em razão de raça, cor ou condição prévia de servidão’ [5].
Se o fim da segregação foi um ótimo negócio para os negros que estavam interessados em progredir, foi um péssimo negócio para os ativistas negros e brancos de esquerda que, assim, perderam uma arma ideológica importante para destruir por dentro as instituições americanas.
Como afirmei no artigo anterior a expressão ‘white skin privilege’ (privilégio da cor branca) só veio a ser cunhada e popularizada pelos Weatherman Underground, os radicais do Students for a Democratic Society (SDS) em 1970 quando começaram uma guerra contra a ‘Amerikka’, termo usado para estigmatizar os EUA como uma nação dominada pela Ku Klux Klan. Os grandes amigos de Obama, os terroristas Bill Ayers e sua mulher Bernardine Dohrn clamaram para todos os brancos renunciarem a seus privilégios e se juntarem a eles na luta racial que já estava em progresso. A idéia de ‘white skin privilege’ acabou se tornando um artigo de fé entre os ‘progressistas’. Nada escapa deste conceito, nem mesmo a Constituição e os Founding Fathers.
O fundamento deste conceito é criar uma falsa idéia de que o fim da segregação não trouxe aos negros imensas vantagens e explorar ressentimentos, rancores e inveja dos negros suscetíveis. Na área jurídica já vimos como sorrateiramente se instalou a regra de dois pesos, duas medidas. O que antes era legalmente favorável aos brancos e, portanto passível de ser combatido, tornou-se algo etéreo e indiscernível à observação dos fatos.
O que significa de fato ‘white skin privilege’? A idéia de que a discriminação acabou, mas não acabou! Entendem? Por trás das leis igualitárias elas não são aplicadas igualmente a brancos e negros. E isto é verdade, só que ao contrário do que afirmam os ativistas como Jesse Jackson e Al Sharpton, grandemente emulados por Obama e seu procurador-geral, Eric Holder, e os multibilionários negócios do show business com Oprah Winfrey, que acabou de lançar um filme, The Butler, no qual Oprah faz uma narrativa racial na qual o Presidente Obama seria uma exceção à regra racista generalizada [vii].
Mas se o racismo na América está num nível muito baixo e se a vasta maioria dos americanos não apenas não são racistas, mas ativamente anti-racistas? Isto não é o suficiente para Oprah: ‘Grande número de pessoas acham que se eles não usarem a palavra nigger para falar dos negros e não terem más intenções em relação a ele isto não é racismo’.
Mas a esquerda é assim mesmo, acreditam que se o racismo não existe aparentemente ele se encontra no âmago da mente dos brancos e que a única coisa a fazer para expurgar o racismo da mente é aderir à ‘filosofia’ de gente como Oprah, Obama, Holder, Al Sharpton, Jesse Jackson e tantos outros.
Eles não desejam um futuro compartilhado. Querem é chantagem emocional! E estão conseguindo em grande parte seu intento. A América é um país onde os brancos são freqüentemente percebidos como racistas até prova em contrário. E a única maneira de provar sua ‘inocência’ é se comportar como manda o establishment negro, por exemplo, o National Action Network (ver algumas das últimas ações na timeline) do Rev. Al Sharpton que eclipsou Jesse Jackson como mais importante líder racista americano.
Quando se esperaria encontrar um negro general quatro estrelas Chefe do Estado Maior Conjunto e futuramente Secretário de Estado? E ser sucedido por outra negra nesta função? Prefeitos e governadores negros no Sul? Um dos maiores intelectuais dos EUA, um negro (Thomas Sowell) e outro, Dinesh D’Souza, um indiano que segundo ele mesmo, é mais escuro do que Obama? Mas não, estes não são negros ‘de verdade’; para a esquerda, foram cooptados pela ‘cultura branca’. Negros de verdade são os que ainda estão em estado de pobreza (como se não existissem brancos em pior situação).
Que ainda exista preconceito é óbvio, nunca acabará e ele também vem da parte dos negros. ONGS multibilionárias sustentam ações racistas, com destaque para National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), American Civil Liberties Union (ACLU), Center for Constitutional Rights, Bill of Rights Defense Committee, National Lawyers Guild.
Pode-se afirmar que o que impera hoje nos EUA é o ‘black skin privilege’, que será o assunto do próximo artigo.
23 de agosto de 2013
Heitor De Paola
Notas:
[ii] A expressão Jim Crow é uma denominação estereotipada ofensiva e pejorativa dos negros do Sul, surgida no século XIX, primeiramente relatada em 1838. Também significa a discriminação étnica legal e compulsória especialmente contra os negros (Merriam-Webster). Sua origem provável é a Jump Jim Crow, uma canção e dança caricata dos negros surgida para satirizar as políticas populistas do Presidente (1828-1837) Andrew Jackson (Dictionary of American English). Suponho que tenha a ver com crow, corvo, uma ave negra que pula sobre carniça (pura especulação do autor).
[iii] Frenologia: pseudociência baseada no exame de características da personalidade de acordo com a conformação do cérebro e suas protuberâncias.
[iv] Estas e demais informações são encontradas em Jim Crown Museum of Racist Memorabilia, em texto do Dr. David Pilgrim, da Ferris State University.
[vi] Embora eu tenha sido acusado de ‘apologia negativa’ dos EUA por meu artigo A Excepcionalidade Americana, note-se aqui que esta acusação não passa de ignorância ou má fé, já que toda a Constituição e as leis americanas são ‘no negativo’: não afirmam direitos, mas negam o que deve ser rejeitado. O autor da crítica, um ferrenho monarquista e lusófilo reacionário, deveria estudar um pouco mais para criticar. Acrescento que homeland, que significa somente ‘nação de moradia’, nada tem a ver com o conceito greco-romano de ‘pátria’ que impera entre nós e não consta em nenhum artigo da Constituição Americana. Uma nota ao pé de página é o máximo que essas críticas merecem.
[vii] Ben Shapiro, Front Page Magazine, 21/08/2013: 'Oprah: Just Because You’re Not Racist Doesn’t Mean You’re Not a Racist'
Os negros foram relegados ao status de cidadãos de segunda classe, o que explica o ‘igualitário’ mencionado acima: as leis definiam ‘com justiça’ os direitos e deveres de ambas as castas que deveriam permanecer segregadas.
Na verdade, a segregação levou os negros a um estado de inferioridade legalizado. Jim Crow representou a legitimação do racismo. Muitos pastores e teólogos cristãos ensinavam que os brancos eram o ‘povo escolhido por Deus’ enquanto os negros eram malditos e destinados a serem servos. Assim, mais uma vez, Deus foi invocado para justificar o injustificável.
Craniologistas, eugenistas, frenólogos [2] e adeptos do darwinismo social, sustentavam que os negros nascem inferiores aos brancos intelectualmente e a integração racial, que incluiria casamentos mistos, levaria à idiotização dos últimos. Assim eram ensinadas as crianças de ambas as raças e os jornais e revistas sistematicamente ridicularizavam os negros que por sua vez, não podiam ser proprietários de meios de comunicação de massa. Tais leis apenas tornavam legais os antigos Códigos para Negros (1800-1866) que já restringia os direitos civis e a liberdade.
É impossível detalhar aqui todos os aspectos das leis Jim Crow. Resumidamente: a segregação atingia a educação pública e os transportes, os espaços públicos (havia praças e ruas às quais os negros não podiam freqüentar). Banheiros, restaurantes e bebedouros eram exclusivos para cada uma das duas raças.
A segregação se estendia às Forças Armadas e até mesmo a detalhes da vida cotidiana: um negro não poderia apertar a mão de um branco, nem acender o cigarro de uma mulher branca, negros não podiam ter gestos afetivos entre si em público, principalmente beijar-se, pois era considerado ofensivo aos brancos.
Os brancos deviam ser apresentados aos negros, nunca vice-versa e o nome do branco era precedido do “Mr.”, o do negro, não. Se um negro andasse num carro dirigido por branco devia sentar-se no banco traseiro ou, no caso de caminhão, no compartimento de cargas.
As normas de etiqueta, raramente mencionadas por historiadores, eram estritas e, em certo sentido, muito mais sofridas e humilhantes.
Stetson Kennedy, autor do Jim Crow Guide [3] mostra algumas regras simples para as conversas entre brancos e negros. Um negro não podia:
- dizer ou insinuar que o branco estava mentindo;
- insinuar intenções desonrosas de um branco;
- sugerir que o branco pertencesse a uma classe economicamente inferior;
- demonstrar conhecimento ou inteligência superior à do branco;
- praguejar contra um branco;
- rir ou mostrar-se zombeteiro com um branco;
- comentar sobre a aparência de uma mulher branca;
As leis e o sistema de etiquetas eram reforçados por violência, real ou ameaçada: o simples ato de beber num bebedouro para brancos punha em risco sua casa, seu emprego e suas próprias vidas. Um branco podia bater num negro impunemente. O aspecto mais perverso é que os negros sequer podiam recorrer às autoridades, pois a polícia, os promotores, os juízes e os carcereiros eram todos brancos. A mais extrema forma de violência eram os linchamentos.
A Suprema Corte praticamente endossou as leis Jim Crow no processo Plessy versus Ferguson, de 1896, sobre o uso segregado (‘separado, mas igual’) de vagões de trem na Louisiana, que não foi considerado inconstitucional.
O fim da segregação e o surgimento do ‘white skin privilege’
Se um grande número de americanos acreditar que o racismo, apesar de não estar presente na ações ainda está oculto na profundidade de nossas vidas, esperando para explodir numa conflagração de ódio, tal como aconteceu no caso Trayvon [v], Jamais será possível um mundo compartilhado.Ben Shapiro, na FrontPage Magazine
A oposição a este estado de coisas veio crescendo, principalmente após a II Guerra Mundial. Nas décadas de 50 e 60 do século passado surgiram ao movimentos pelos direitos civis organizado preponderantemente por negros mas crescentemente apoiados por brancos, principalmente nos Estados do Norte.
A segregação nas escolas públicas foi declarada inconstitucional pela Suprema Corte em 1954, no processo Brown versus Board of Education considerando que a segregação contrariava a 14ª Emenda que reza, em sua Secção 1.:
‘Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos e sujeitos, portanto, à esta Jurisdição, são cidadãos americanos e dos Estado no qual residem. Nenhuma lei estadual poderá reduzir os privilégios e imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos, nem nenhum Estado poderá privar qualquer pessoa de sua vida, liberdade ou propriedade sem o devido processo legal (rule of Law), nem negar a qualquer pessoa em sua jurisdição a proteção igualitária das leis’.
Nos considerandos da decisão a Corte reconheceu que ‘escolas separadas, mas iguais’ eram inerentemente desiguais.
O resto das Jim Crow Laws foi rejeitado pelo Civil Rights Act de 1964 e pelo Voting Rights Act de 1965. O primeiro proibiu a discriminação com base em raça, cor, religião, sexo ou origem nacional. O segundo reforçou a 15ª Emenda: ‘O direito dos cidadãos dos Estados Unidos de votar não será negado ou reduzido por nenhum Estado em razão de raça, cor ou condição prévia de servidão’ [5].
Se o fim da segregação foi um ótimo negócio para os negros que estavam interessados em progredir, foi um péssimo negócio para os ativistas negros e brancos de esquerda que, assim, perderam uma arma ideológica importante para destruir por dentro as instituições americanas.
Como afirmei no artigo anterior a expressão ‘white skin privilege’ (privilégio da cor branca) só veio a ser cunhada e popularizada pelos Weatherman Underground, os radicais do Students for a Democratic Society (SDS) em 1970 quando começaram uma guerra contra a ‘Amerikka’, termo usado para estigmatizar os EUA como uma nação dominada pela Ku Klux Klan. Os grandes amigos de Obama, os terroristas Bill Ayers e sua mulher Bernardine Dohrn clamaram para todos os brancos renunciarem a seus privilégios e se juntarem a eles na luta racial que já estava em progresso. A idéia de ‘white skin privilege’ acabou se tornando um artigo de fé entre os ‘progressistas’. Nada escapa deste conceito, nem mesmo a Constituição e os Founding Fathers.
O fundamento deste conceito é criar uma falsa idéia de que o fim da segregação não trouxe aos negros imensas vantagens e explorar ressentimentos, rancores e inveja dos negros suscetíveis. Na área jurídica já vimos como sorrateiramente se instalou a regra de dois pesos, duas medidas. O que antes era legalmente favorável aos brancos e, portanto passível de ser combatido, tornou-se algo etéreo e indiscernível à observação dos fatos.
O que significa de fato ‘white skin privilege’? A idéia de que a discriminação acabou, mas não acabou! Entendem? Por trás das leis igualitárias elas não são aplicadas igualmente a brancos e negros. E isto é verdade, só que ao contrário do que afirmam os ativistas como Jesse Jackson e Al Sharpton, grandemente emulados por Obama e seu procurador-geral, Eric Holder, e os multibilionários negócios do show business com Oprah Winfrey, que acabou de lançar um filme, The Butler, no qual Oprah faz uma narrativa racial na qual o Presidente Obama seria uma exceção à regra racista generalizada [vii].
Mas se o racismo na América está num nível muito baixo e se a vasta maioria dos americanos não apenas não são racistas, mas ativamente anti-racistas? Isto não é o suficiente para Oprah: ‘Grande número de pessoas acham que se eles não usarem a palavra nigger para falar dos negros e não terem más intenções em relação a ele isto não é racismo’.
Mas a esquerda é assim mesmo, acreditam que se o racismo não existe aparentemente ele se encontra no âmago da mente dos brancos e que a única coisa a fazer para expurgar o racismo da mente é aderir à ‘filosofia’ de gente como Oprah, Obama, Holder, Al Sharpton, Jesse Jackson e tantos outros.
Eles não desejam um futuro compartilhado. Querem é chantagem emocional! E estão conseguindo em grande parte seu intento. A América é um país onde os brancos são freqüentemente percebidos como racistas até prova em contrário. E a única maneira de provar sua ‘inocência’ é se comportar como manda o establishment negro, por exemplo, o National Action Network (ver algumas das últimas ações na timeline) do Rev. Al Sharpton que eclipsou Jesse Jackson como mais importante líder racista americano.
Quando se esperaria encontrar um negro general quatro estrelas Chefe do Estado Maior Conjunto e futuramente Secretário de Estado? E ser sucedido por outra negra nesta função? Prefeitos e governadores negros no Sul? Um dos maiores intelectuais dos EUA, um negro (Thomas Sowell) e outro, Dinesh D’Souza, um indiano que segundo ele mesmo, é mais escuro do que Obama? Mas não, estes não são negros ‘de verdade’; para a esquerda, foram cooptados pela ‘cultura branca’. Negros de verdade são os que ainda estão em estado de pobreza (como se não existissem brancos em pior situação).
Que ainda exista preconceito é óbvio, nunca acabará e ele também vem da parte dos negros. ONGS multibilionárias sustentam ações racistas, com destaque para National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), American Civil Liberties Union (ACLU), Center for Constitutional Rights, Bill of Rights Defense Committee, National Lawyers Guild.
Pode-se afirmar que o que impera hoje nos EUA é o ‘black skin privilege’, que será o assunto do próximo artigo.
23 de agosto de 2013
Heitor De Paola
Notas:
* - Este texto é continuação do artigo ‘O Privilégio de Cor’.
[ii] A expressão Jim Crow é uma denominação estereotipada ofensiva e pejorativa dos negros do Sul, surgida no século XIX, primeiramente relatada em 1838. Também significa a discriminação étnica legal e compulsória especialmente contra os negros (Merriam-Webster). Sua origem provável é a Jump Jim Crow, uma canção e dança caricata dos negros surgida para satirizar as políticas populistas do Presidente (1828-1837) Andrew Jackson (Dictionary of American English). Suponho que tenha a ver com crow, corvo, uma ave negra que pula sobre carniça (pura especulação do autor).
[iii] Frenologia: pseudociência baseada no exame de características da personalidade de acordo com a conformação do cérebro e suas protuberâncias.
[iv] Estas e demais informações são encontradas em Jim Crown Museum of Racist Memorabilia, em texto do Dr. David Pilgrim, da Ferris State University.
[vi] Embora eu tenha sido acusado de ‘apologia negativa’ dos EUA por meu artigo A Excepcionalidade Americana, note-se aqui que esta acusação não passa de ignorância ou má fé, já que toda a Constituição e as leis americanas são ‘no negativo’: não afirmam direitos, mas negam o que deve ser rejeitado. O autor da crítica, um ferrenho monarquista e lusófilo reacionário, deveria estudar um pouco mais para criticar. Acrescento que homeland, que significa somente ‘nação de moradia’, nada tem a ver com o conceito greco-romano de ‘pátria’ que impera entre nós e não consta em nenhum artigo da Constituição Americana. Uma nota ao pé de página é o máximo que essas críticas merecem.
[vii] Ben Shapiro, Front Page Magazine, 21/08/2013: 'Oprah: Just Because You’re Not Racist Doesn’t Mean You’re Not a Racist'
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