Nas operadoras, procura cai até 70%. Vinhos, cerveja e até sabão ficam mais caros
A forte alta do dólar em quase três meses já fez o preço de produtos e serviços aumentarem até 42% para o consumidor. O setor de aviação e turismo, muito suscetível à variação da moeda americana, é um dos que mais sofrem o impacto. Já há pacotes para fins de semana em Buenos Aires sendo vendidos a R$ 2.000 por pessoa, ante R$ 1.400 em agosto de 2012. Em lojas de produtos importados, a alta nos preços chegou a 15%. E a indústria de produtos de limpeza sente o custo maior da matéria-prima e avalia que o repasse será inevitável.
Na operadora de turismo ACC Tours, o preço dos pacotes para destinos internacionais subiu, em média, 30% de junho até a primeira quinzena de agosto, em relação a igual período do ano passado. Uma das maiores altas foi o pacote para Buenos Aires, que aumentou 42%, para R$ 2.000. A procura por viagens internacionais caiu até 70%.
— Aqui o telefone não toca. Está assustador — diz Franklin Campos, dono da ACC Tours.
Aumento de estoque para segurar cotação
Para evitar a queda na demanda, a líder de mercado CVC tem adotado estratégias de congelamento do câmbio e parcelamento em até dez vezes. Em julho, quando o dólar chegou a R$ 2,282, a CVC manteve o câmbio usado em seus pacotes em R$ 1,99, o que garantiu aumento de 10% nas vendas em relação ao mesmo mês do ano passado. Em agosto, quem comprou pacotes para viajar com a American Airlines até esta segunda-feira conseguiu fazer a conversão com o dólar a R$ 2,09. A operadora estuda novas promoções de câmbio congelado para o futuro. Nesta segunda, o dólar fechou a R$ 2,416.
As passagens aéreas também estão mais caras. Segundo levantamento do site de busca de preços Mundi, feito a pedido do GLOBO, as tarifas subiram em três (Miami, Nova York e Paris) dos quatro destinos internacionais pesquisados na primeira quinzena de agosto, em relação a igual período de 2012. A maior alta foi verificada nos bilhetes para Nova York: 23,08%, para uma média de R$ 2.441,48. O valor considera ida e volta a partir do Rio, sem data específica para o embarque.
— O câmbio subiu mais forte em julho, mas o repasse não é imediato. Os efeitos da alta do dólar estão sendo sentidos agora — avalia Rodrigo Waissman, diretor de marketing do Mundi.
Sócio da importadora D.O.C.G, Alexandre Ventura reajustou em 13% a tabela dos vinhos que vende para restaurantes e lojas. Para não perder clientes, reduziu sua margem de lucro:
— Fiquei um mês e meio pagando o dólar alto, sem atualizar tabela. Chega uma hora que não dá.
No site de cervejas artesanais Beershop, a sócia Duda Simonsen viu quatro de seus seis fornecedores reajustarem os preços. Os outros dois seguirão no mesmo caminho. A saída para manter a margem foi repassar a alta de 10% a 15% para os clientes:
— Quando vi o dólar subindo, também comecei a estocar os rótulos de cerveja que têm mais saída, já que tem a questão da validade. Em julho, comprei 30% a mais do que compraria.
A empresa paulista Razzo, que produz sabão, sabonetes e detergentes, importa óleos vegetais. Em média, o produto importado representa de 10% a 15% do custo da matéria-prima.
— O produto com matéria-prima importada é vítima. Fatalmente isso impactará o preço em algum momento — afirma Luiz Magno Silva, gestor de negócios internacionais da Razzo.
20 de agosto de 2013
Danielle Nogueira e Lucianne Carneiro - O Globo
Colaborou João Filipe Passos
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