A central da passeata programa uma grande manifestação nacional para o dia 7 de setembro. O Brasil jamais será o mesmo depois desse ato. Amanhecerá no dia seguinte com um número bem maior de vidraças quebradas. Terá também mais prédios públicos pichados, mais cartazes criativamente inócuos, tudo coberto e difundido pela trepidante mídia ninja - a substituta dos fotógrafos e cinegrafistas profissionais que levam chutes e pedradas dos revolucionários do bem. O Brasil não será o mesmo depois de 7 de setembro. Será um país mais perdido, e ligeiramente mais burro.
A escalada da burrice revolucionária está aí, diante de todos, para quem quiser ver. Claro que ninguém nota, porque o Brasil é, cada vez mais, um país que precisa de legenda ou tradução simultânea. Vamos então legendar um dos últimos grandes atos desses novos heróis das ruas: a tentativa de invasão do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O protesto contra o hospital privado pedia a melhoria do sistema público de saúde. Legenda: monumental, deslumbrada e inexorável burrice.
A invasão do Sírio não se consumou, devido à enérgica reação da Polícia Militar. Mas o protesto atingiu alguns doentes e seus parentes, dificultou o acesso deles ao hospital, constrangeu e assustou pessoas debilitadas. Essa é a revolução dos ativistas cibernéticos, dos festejados gladiadores das redes sociais, dos militantes apartidários, ninjas ou fora do eixo, não interessa, estão todos juntos e misturados. Quem poderia supor que, um dia, o progressista e o nazista seriam tipos tão parecidos?
Atacar um dos melhores hospitais do país porque ele é privado é a sagração da ideologia demente. O curioso é que os principais responsáveis pela (má) gestão da saúde pública no Brasil têm levado vida boa diante da patrulha progressista do asfalto. O governo Dilma, com seus 40 ministérios, já gastou com publicidade 23% a mais que a média dos oito anos de Lula. É a festa do ministério informal do marketing, comandado por João Santana - o 402 e o primeiro em importância -, que cria urgências folclóricas, como a ladainha da importação de médicos e tudo o mais que possa entreter o grande público. A embromação tem dado tão certo que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é forte candidato a governador de São Paulo. Por que os ninjas que reclamam do SUS não tentam invadir o comitê eleitoral de Padilha no Ministério da Saúde?
Porque, entre os movimentos que engarrafam as ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro, e que farão um Carnaval fora de época no 7 de setembro, não há um único — repetindo: não há um único - com pautas consistentes. Do passe livre à invasão do Sírio-Libanês, é uma cachoeira de causas pueris e delirantes. Que vão sendo respondidas com delírios demagógicos. No mais recente, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, propôs aumentar impostos sobre combustíveis para reduzir o preço das passagens de ônibus. É o tipo de esperteza populista que faz sucesso com os justiceiros do Facebook - e danem-se as finanças nacionais, com a carga tributária mais alta do planeta.
Vamos tentar melhorar o samba-enredo dos ninjas para o 7 de setembro: por que vocês não exigem a CPI do Dnit? Ali está um dos maiores ralos de dinheiro público do país, que Dilma fingiu tapar na famosa faxina de fachada. Ali está um antro de corrupção, explorado pela quadrilha Delta-Cachoeira com o beneplácito do governo popular, que transformou a empreiteira pirata de Fernando Cavendish em campeã do PAC. A Controladoria-Geral da União acaba de soltar relatório apontando uma nova safra de superfaturamentos milionários nas obras viárias do Dnit - ou seja, continuam sugando o dinheiro que poderia equipar vários hospitais públicos. E vocês querendo invadir o Sírio-Libanês...
Por que vocês não invadem o Itaquerão, outro exemplo bilionário do ralo de dinheiro público que gera inflação e aperta o bolso do brasileiro? Por que não exigem a condenação da companheira Rosemary Noronha, a nova Erenice, legítima representante da tecnologia mensaleira de sucção do Estado?
Dilma está recuperando a popularidade (6 pontos no Datafolha) e disse que o ET de Varginha merece respeito. Aí, a invasão do Sírio começa a fazer sentido. Viva o país dos lunáticos.
20 de agosto de 2013
Guilherme Fiuza, Época
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