Filho de um médico dono de farmácia no interior, Léo Pinheiro nunca teve na Bahia o status de Marcelo Odebrecht, que nasceu em berço de ouro e estudou no exterior. Entre os empreiteiros, Pinheiro foi o único a se tornar amigo do ex-presidente Lula, a ponto de frequentar a casa do ex-metalúrgico e servir como ouvido para desabafos. Depois que Lula deixou a Presidência e sobrou mais tempo, os encontros entre os dois passaram a ser mais frequentes. Não eram raras as reuniões nos fins de expediente no Instituto Lula, regadas a aperitivos.
Léo Pinheiro também chegou a frequentar o sítio de Atibaia, refúgio do ex-presidente e seus amigos. Em uma dessas visitas, percebeu que o nível do lago do sítio estava baixando e se meteu em encrenca: acabou chamando para a obra nada mais, nada menos do que um especialista em barragens da empresa — assim, o lago dos pedalinhos recebeu um tratamento à altura de uma barragem de hidrelétrica.
DELAÇÃO – A intimidade com o ex-presidente e os contatos frequentes nas rodas petistas — Paulo Okamotto e João Vaccari Neto eram interlocutores frequentes — fez com que todos os olhares se voltassem a Léo Pinheiro desde o início da Lava-Jato: iria se calar ou falar o que sabia?
Preso, o empresário optou pelo silêncio, numa espécie de pacto de preservação ao ex-presidente Lula, liderado pela Odebrecht. Manteve firme sua posição até que a maior empreiteira do país cedeu. Quando a Odebrecht decidiu delatar, Léo Pinheiro não viu mais motivos para ficar calado.
O empreiteiro foi preso em 2014 e depois voltou a ter prisão decretada em 2016. Desde então, está atrás das grades, mas ainda hoje é considerado um dos mais calmos nos corredores da Polícia Federal.
FAZER ACORDO – Dizem que sua principal qualidade é pensar muito antes de falar. Inteligente, era um dos poucos a trocar experiências pessoais com Lula. Desde que voltou à prisão, Léo Pinheiro cogitou trocar a pena — que foi aumentada na segunda instância e chegou a 23 anos — por um acordo de colaboração. A relutância em falar do amigo fez com que as conversas fossem mais complicadas, sem falar nos chamados “vazamentos”.
Por duas vezes, a negociação com os procuradores da Lava-Jato foram tumultuadas — na segunda vez, interrompida — por causa de notícias publicadas na imprensa sobre o que ele iria ou não falar. Nos últimos meses, as conversas ficaram na sombra da Odebrecht.
À exceção da Odebrecht, nenhuma outra empreiteira teve tanto sucesso durante o governo do PT quanto a OAS. O ranking do setor é um retrato desse desempenho. Em 2003, a empreiteira ocupava o sétimo lugar do mercado, com patrimônio de R$ 430,5 milhões. Em 2014, quando a Lava-Jato foi às ruas, alcançava R$ 2,4 bilhões.
GENRO DE ACM – Desde sua fundação, a OAS teve atuação controvertida. Criada por três amigos em meados da década de 1970, a empresa logo teve seu crescimento vinculado à presença de César de Araújo Mata Pires, o “A”, que era genro do senador baiano Antônio Carlos Magalhães. Por muito tempo, foi suspeita de agir como intermediária. Ganhar a concorrência e depois terceirizar as obras.
Léo Pinheiro era executivo da empresa. Quando a sociedade original se desfez, passou a ser sócio, com uma parcela de 10%, mas, no dia a dia, tocava o negócio. Quando Lula chegou ao poder, as empreiteiras baianas ganharam privilégios— para oposição de suas concorrentes do Sudeste.
24 de abril de 2017
Cleide Carvalho
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário