Os depoimentos do ex-ministro Antonio Palocci e do empreiteiro Leo Pinheiro ao juiz Sérgio Moro, divulgados pela televisão na quinta-feira e manchetes dos jornais de ontem, entre eles O Globo e a Folha de São Paulo, destruíram a linha de defesa do ex-presidente Lula e do próprio PT, deixando claro a versão que se sobrepõe a dos acusados e abrindo um novo panorama na operação Lava-Jato.
Léo Pinheiro enfocou o caso do apartamento do Guarujá e do sítio de Atibaia. Palocci, que está propondo delação premiada, ofereceu a Sérgio Moro apresentar relações de nomes, endereços e operações realizadas. O dia de ontem foi assim ruim para o ex-presidente da República e para o PT, além de causar forte preocupação em grande número de políticos, objeto das delações, até o momento, da Odebrecht e também, agora, da OAS. A preocupação maior, daqui pra frente é com o ex-ministro Antonio Palocci, uma vez que Léo Pinheiro esgotou o tema Guarujá e Atibaia.
CAIXA DOIS – Se Antonio Palocci partir para a delação premiada a situação dos acusados muito se agravará, principalmente no caso do caixa 2. A respeito de Palocci, matéria assinada por Cleide Carvalho, Gustavo Shimitt, Tiago Dantas e Sérgio Roxo fornece detalhes mais críticos do depoimento do ex-ministro da Fazenda. Se os documentos que ofereceu, como ele disse, vão dar mais um ano de trabalho ao juiz Moro, é porque acredita que formarão um volume muito extenso.
Quanto ao caixa 2 Palocci afirmou que esta era uma prática usualmente adotada. Pelo que se pode analisar, Palocci deve estar partindo e sinalizando para obter delação premiada, que terá reflexo político muito grande.
ELO DE LIGAÇÃO – Palocci era um elo de ligação importante entre as empreiteiras e o PT. Mas isso não exclui a participação de políticos de outros partidos, aliás, de acordo com os pedidos de inquérito encaminhados pelo Procurador Geral da República, ao Supremo Tribunal Federal.
A referência à participação de políticos e de partidos diretamente no esquema foi inclusive revelada por Léo Pinheiro, que chegou a detalhar os percentuais em contratos de projetos nas obras contratadas, fixadas as participações percentuais. Toda essa engrenagem era feita usualmente, segundo sua versão.
Quanto a Lula, Pinheiro narra uma determinação que recebeu do ex-presidente para destruir qualquer documento que pudesse comprometê-lo com base no apoio da empresa a obras no apartamento e no sítio.
LULA NEGA – A defesa de Lula nega as acusações que Pinheiro deixou transparecer dizendo que o ex-dirigente da OAS fabricou um diálogo tentando sua própria defesa. Será um confronto, portanto, de uma versão contra a outra. Mas dificilmente Leo Pinheiro poderá estar mentindo, tais os detalhes que apresentou.
Assim, estreitou-se o campo de defesa. Não só de Lula mas de grande número dos que ainda vão ser delatados. A Operação Lava-Jato avançou atingindo patamares extremamente críticos para os delatados. Afinal de contas, as empresas – todas elas – que participaram do suborno não iriam deixar de fazer registros das importâncias entregues ilegalmente àqueles que também acima da lei aderiram a captação financeira de produtos da corrupção.
24 de abril de 2017
Pedro do Coutto
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