INTERNACIONAL - EUROPA
Este resultado deveria enviar uma mensagem clara a todo político e burocrata: não ouse a subestimar o povo; não presuma que eles pensam do mesmo modo que você.
Considere a magnitude do que acabou de acontecer. Contra as advertências de experts, os apelos da ampla maioria dos Membros do Parlamento, os desejos de quase todo capitalista, e propostas de Bruxelas, a maioria do povo britânico disse NÃO à União Europeia.
Eles fizeram a coisa que quase todos com poder e influência lhes disseram que eles não deveriam fazer: dar um salto no escuro; preferiram o demônio que não conhecem ao conhecido; assumiram um risco enorme e emocionante sobre o verdadeiro caráter de sua nação.
Eles – permita-nos dizer – rebelaram-se, e rebelaram-se contra virtualmente todo o espectro político do establishment.
Você não tem que ser partidário do ‘Leave’ (Sair) para admirar isto (embora ajude, é claro, se você for). Você apenas tem que ser a favor da democracia.
Você apenas tem que acreditar que é uma boa ideia confiar grandes decisões políticas ao povo. Pois isto é democracia em ação, em toda a sua confusão, beleza e glória perturbadora da ordem.
Observe a perseverança das pessoas comuns, sua disposição em agir por sua convicção mesmo em face de ameaças e críticas de pessoas com poder.
Ouvimos muito estes dias a respeito de quão ingênuo o público é, que suas mentes são maleáveis como massa, massinha de modelar nas mãos de demagogos. E contudo ontem, o povo pensou por si mesmo; eles pesaram as coisas e decidiram rejeitar a sabedoria recebida e o consenso de Westminster/Washington/Bruxelas. Tal independência de espírito, tal liberdade de pensamento, são inspiradores, certamente.
É claro, alguns já estão sugerindo que o comportamento dos eleitores foi precipitado e insensato e podem ter sido ludibriados por Boris ou Murdoch.
Keith Vaz diz que ‘votamos emocionalmente ao invés de considerarmos os fatos’. Como antropólogos estudando uma tribo desconhecida, os analistas políticos estão atualmente congestionando a TV e o Twitter com suas teorias por que as pessoas votaram deste modo: estão assustados, sentem-se inseguros, estão inquietos a respeito da imigração.
Poucos parecem querer aceitar que as pessoas simplesmente fizeram um julgamento racional, considerado, sobre a União Europeia.
As pessoas comuns, que podem não ter PhDs, ler o The Guardian ou não saber absolutamente tudo sobre como a UE funciona (mas então, quem sabe?), decidiram que não querem estar amarrados a Bruxelas. É isso.
Não deveríamos deturpar, ou demonizar, ou deslegitimar isso dizendo que é uma expressão criptografada de ódio ou confusão, pois isto é rebaixar a democracia. Foi feita ao povo uma simples pergunta, e eles deram uma resposta inspiradora.
Este resultado deveria enviar uma mensagem clara a todo político e burocrata: não ouse a subestimar o povo; não presuma que eles pensam do mesmo modo que você; não ouse subestimar a capacidade deles de pensar sobre as coisas e discuti-las e livrar-se de ideias e sistemas políticos dos quais eles não gostam.
Haverá bastante tempo para as análises de como a Grã-Bretanha votou, para lágrimas entre os partidários do ‘Remain’ (Ficar), e celebrações entre os partidários do ‘Leave’ (Sair); mas por hora, maravilhemo-nos com o fato de que a democracia funciona, de que a democracia é poderosa, e de que o povo pode pensar por si mesmo.
É raro que a política me dê um nó na garganta, mas hoje ela o fez, porque gerações de pessoas lutaram e morreram pelo direito que acabamos de exercer – o direito de determinar o destino de nossa nação e mudar o mundo.
25 de junho de 2016
Brendan O'Neil, “This is democracy in all its beauty and glory”. The Spectator. 24 de junho 2016.
Tradução: Flávio Guetti
Revisão: Hugo Silver
Brendan O'Neil, “This is democracy in all its beauty and glory”. The Spectator. 24 de junho 2016.
Tradução: Flávio Guetti
Revisão: Hugo Silver
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