Um grupo de deputados realizou uma inesperada vistoria na Central Geral da Secretaria de Saúde, localizada em Niterói, e descobriu a existência de 300 toneladas (300 mil quilos) de remédios, próteses e órteses armazenados, com datas vencidas. O fato quase inacreditável foi revelado pela GloboNews, na tarde de terça-feira, e pelo O Globo do dia seguinte, 24 de fevereiro. Como explicar tal descalabro? Das duas, uma: ou os fornecedores entregaram os remédios e equipamentos com data ultrapassada, ou eles perderam o prazo de validade no depósito da Secretaria de Saúde. Na primeira hipótese, verificou-se gravíssimo erro administrativo: não se conferiu a validade. Na segunda perspectiva, o prazo de validade expirou na central RJ por falta de uso e destinação.
Entrevistado pela GloboNews, programa apresentado por Leilane Neubart, o governador Pezão chegou ao ponto de dizer que os materiais encontravam-se empacotados no centro de distribuição para que os fornecedores os substituíssem sem qualquer pagamento por parte do Estado. Troca? Mas por qual motivo? Se a perda da validade aconteceu pela não utilização, não tem o menor cabimento a ideia da simples substituição das 300 toneladas. Pezão está fora de tom. Se a entrega foi feita de forma legítima, o Rio de Janeiro terá, como lógico, arcar com as despesas.
ÓTICA ADMINISTRATIVA
Mas em nenhuma das situações o governador pode se eximir da culpa. Ou se registrou corrupção no recebimento, 300 toneladas não foram, é claro, entregues num dia só, ou a estocagem demasiada resultou de um desleixo absoluto por parte do Secretário de Saúde. Neste caso, o secretário tem que ser demitido. Omissão total, descontrole absoluto. Mas isso sob a ótica administrativa.
O caso é ainda pior. Quantas pessoas deixaram de ser atendidas em consequência do descaso? Quantas pessoas tiveram agravado seu estado de saúde? Quantas vieram a falecer? Quantos internados à espera de uma prótese permaneceram ou permanecem, imobilizados como reflexo direto da omissão? Como o governo do Rio de Janeiro, agora, pode recuperar o tempo perdido? Quanto custou a vergonhosa omissão aos cofres públicos?
RESPONSÁVEL MAIOR
O governador torna-se o responsável maior pelo panorama caótico que emergiu das sombras que envolvem a Central Geral de Niterói. Porque, ao invés de efetuar a distribuição dos remédios e equipamentos, o centro transformou-se num ponto de concentração, sem o menor sentido. Quais os responsáveis pelas fiscalizações não efetuadas? Quantos hospitais públicos não puderam atender os pacientes em decorrência do descaso.
O governador dificilmente poderá encontrar desculpas convincentes. Afinal de contas, ele foi eleito vice governador de Sérgio Cabral em 2006, reeleito em 2010, eleito em 2014 para o Palácio Guanabara e, de fato, governa ou desgoverna o Estado desde abril de 2014, quando Cabral renunciou ao mandato. Tempo de conhecer a administração estadual não lhe faltou. Falta, isso sim, disposição e visão política para exercer as tarefas que lhe são inerentes.
A receita vai mal. O pagamento dos funcionários, de mal a pior. A cada dia surgem novas restrições por parte do Executivo. Não se encontra apenas em conflito com o Judiciário. Está em conflito consigo mesmo. A máquina administrativa entra em descontrole. Quem diante disso, age concretamente, Pezão? Não há resposta. Os fatos comprovam.
25 de fevereiro de 2016
Pedro do Coutto
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