GERDAU ALEGA QUE CONTRATOU “CONSULTORES” E NÃO “LOBISTAS”
O diretor-presidente e presidente do comitê executivo da Gerdau, André Gerdau, se apresentou à Polícia Federal nesta quinta-feira (25), em São Paulo, em cumprimento a um mandado de condução coercitiva da Operação Zelotes. Ele não deu declarações e deixou o local por volta de 15h45. O grupo siderúrgico Gerdau é um dos alvos da 6ª fase da Operação Zelotes, que investiga fraudes em julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ligado ao Ministério da Fazenda.
Arnaldo Malheiros, advogado de defesa de André Gerdau, explicou que Gerdau ficou 45 minutos no interrogatório na PF. “Ele esclareceu que a empresa não sonegou nada. Ele recebeu um auto de infração e recorreu na forma da lei. Não teve êxito nenhum, não pagou nada”, afirmou. “Eles selecionaram autuações de grande valor, de volume expressivo, para fazer uma investigação e é normal que façam. Não há envolvimento da Gerdau nisso”.
“Ele não contratou consultoria para corromper ninguém. Ele contratou consultoria para auxiliar na exposição dos argumentos, dos fatos, é uma causa de valor muito grande, o que é expressivo para uma empresa do porte da Gerdau. A linha da empresa é se cercar da melhor assessoria possível”, disse Malheiros.
USANDO LOBISTAS
Segundo a PF, o grupo Gerdau fechou contratos com escritórios de advocacia que atuaram de maneira ilícita para manipular o andamento de julgamentos e decisões no Carf. A suspeita é que o grupo, com atividades em 14 países, tenha tentado interferir no Carf no pagamento de multas que somam R$ 1,5 bilhão.
A polícia realizou também busca e apreensão na sede administrativa da empresa, no Rio Grande do Sul. Segundo a delegada da PF Fernanda de Oliveira, a etapa desta quinta ocorreu porque há indícios de que o grupo continuava em atividade criminosa, mesmo após a deflagração da Zelotes, em março de 2015. Segundo ela, há provas documentais para afirmar que a Gerdau atuava para influenciar resultados do julgamento do Carf.
Em nota divulgada na manhã desta quinta, a empresa informou que está colaborando integralmente com as investigações da Polícia Federal e que não concedeu qualquer autorização para que seu nome fosse utilizado em pretensas negociações ilegais. A Gerdau disse ainda que repele veementemente qualquer atitude que tenha ocorrido nesse sentido. Ao concluir a nota, a empresa afirma que está à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados.
HISTÓRICO
A Zelotes foi deflagrada há um ano, em março de 2015. Inicialmente, o alvo da operação era o esquema de fraudes nos julgamentos do Carf. Segundo as apurações, conselheiros suspeitos de integrar o esquema criminoso passavam informações privilegiadas de dentro do Carf para escritórios de assessoria, consultoria ou advocacia.
Esses escritórios, de acordo com os investigadores, procuravam empresas multadas pela Receita Federal e prometiam controlar o resultado dos julgamentos de recursos. O esquema teria movimentado R$ 19 bilhões em irregularmente.
A PF diz que ficou “comprovado” que conselheiros e funcionários do órgão “defendiam interesses privados, em detrimento da União”, “valendo-se de informações privilegiadas”.
Segundo a PF, mesmo depois do início da operação, as investigações encontraram indícios de que os crimes continuaram a ser cometidos.
Num segundo momento, a Zelotes passou a apurar também um suposto esquema de venda de medidas provisórias. A PF descobriu que uma das empresas que atuava no órgão recebeu R$ 57 milhões de uma montadora de veículos entre 2009 e 2015 para aprovar emenda à MP 471 de 2009, que rendeu a essa montadora benefícios fiscais de R$ 879,5 milhões. Junto ao Carf, a montadora deixou de pagar R$ 266 milhões.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É só uma questão de semântica judicial. O presidente da Gerdau diz que apenas contratou “consultores”, mas o juiz Sérgio Moro chama esses profissionais de “lobistas” que subornavam conselheiros do Carf para beneficiar sonegadores. Apenas isso. (C.N.)
25 de fevereiro de 2016
Tatiana Santiago
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