O descuido de um estagiário de Direito resultou em mais uma celeuma para demonstrar o perigo que é acreditar em tudo que está publicado na internet. Nas redes sociais, é comum a indicação de especialistas em tudo, além de imagens adulteradas de pessoas em situação vexaminosa, ou, é claro, de imagens reais postadas por “ex alguma coisa” que prejudicam a vida privada de pessoas que não desejavam que suas intimidades passassem de computador em computador sem que se possa, rapidamente, eliminá-las das redes sociais.
No caso do estagiário do escritório de advocacia, seus orientadores, para demonstrar o risco de aceitar informações sem confirmar as fontes, criaram um perfil falso de um jurista e o indicaram ao jovem para ser usado em trabalho acadêmico. O currículo do jurista acabou sendo divulgado e utilizado até para fundamentar decisão judicial.
A Wikipédia alega que possui milhares de artigos mantidos por voluntários, sendo que o único modo de identificar perfis e artigos falsos é checando as fontes, e isso não é feito de maneira ostensiva.
O jurista fake, Carlos Bandeirense Mirandópolis, aparecia como professor catedrático da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e que foi perseguido durante a ditadura militar e que, como outros intelectuais, exilou-se em Paris. Na Cidade Luz, Carlos Mirandópolis teria convivido com vários brasileiros também perseguidos, entre eles Chico Buarque, que teria se inspirado na vida do jurista para compor “Samba de Orly”, pois o personagem não queria gravar a sua própria canção para não perpetuar a tristeza do exílio.
Chico negou que conheceu o sujeito, a universidade declarou que ele, evidentemente, não foi professor na instituição e, com a divulgação do perfil falso, a Wikipédia o retirou na rede.
Mesmo sabedor que existem milhões de perfis falsos circulando por ai, fui buscar na biblioteca virtual – onde qualquer um pode publicar o que quiser e outros podem corrigir o texto - o perfil do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nosso estranho político que afirmou: “não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido”. Esta frase está na Wikipédia com destaque, além de relatar como o ex-presidente, sindicalista e pobre, assumiu a presidência da República, informando à Justiça Eleitoral um patrimônio de cerca de 840 mil reais amealhados após 61 anos de trabalho e atividade política.
Após a descrição da vida pregressa de Lula, vem o relato do período posterior ao exercício da presidência. Quem editou o texto deve estar desinformado sobre as atividades do ex-líder ao postar que Luiz Inácio dedicou-se, com rara desenvoltura, a palestrar em recintos fechados para algumas das mais importantes empreiteiras do país. Segundo o texto, Lula cobra entre R$200 mil e R$320 mil reais por suas palestras.
Afirma, ainda, que redes de televisão, rádios, jornais, blogs, sites, nacionais e internacionais divulgam investigações da Polícia Federal e do Ministério Público e do Poder Judiciário que implicariam o ex-presidente em atos ilícitos praticados por seus companheiros em cumplicidade com empresários, servidores públicos, parente consultor da Wiki, e até com o marqueteiro vendedor de ilusões.
Pela atualidade da letra, só faltou dizer que Lula colaborou com seu fã Chico no “Samba de Orly”: “Pede perdão/pela duração dessa temporada/Mas não diga nada/Que me viu chorando/E pros da pesada/Diz que vou levando/Vê como é que anda/Aquela vida à toa/ Se puder me manda uma notícia boa”.
Comparando as informações do passado e do presente publicadas na Wikipédia, creio que o perfil de Lula é falso.
25 de fevereiro de 2016
Paulo Castelo Branco
No caso do estagiário do escritório de advocacia, seus orientadores, para demonstrar o risco de aceitar informações sem confirmar as fontes, criaram um perfil falso de um jurista e o indicaram ao jovem para ser usado em trabalho acadêmico. O currículo do jurista acabou sendo divulgado e utilizado até para fundamentar decisão judicial.
A Wikipédia alega que possui milhares de artigos mantidos por voluntários, sendo que o único modo de identificar perfis e artigos falsos é checando as fontes, e isso não é feito de maneira ostensiva.
O jurista fake, Carlos Bandeirense Mirandópolis, aparecia como professor catedrático da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e que foi perseguido durante a ditadura militar e que, como outros intelectuais, exilou-se em Paris. Na Cidade Luz, Carlos Mirandópolis teria convivido com vários brasileiros também perseguidos, entre eles Chico Buarque, que teria se inspirado na vida do jurista para compor “Samba de Orly”, pois o personagem não queria gravar a sua própria canção para não perpetuar a tristeza do exílio.
Chico negou que conheceu o sujeito, a universidade declarou que ele, evidentemente, não foi professor na instituição e, com a divulgação do perfil falso, a Wikipédia o retirou na rede.
Mesmo sabedor que existem milhões de perfis falsos circulando por ai, fui buscar na biblioteca virtual – onde qualquer um pode publicar o que quiser e outros podem corrigir o texto - o perfil do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nosso estranho político que afirmou: “não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido”. Esta frase está na Wikipédia com destaque, além de relatar como o ex-presidente, sindicalista e pobre, assumiu a presidência da República, informando à Justiça Eleitoral um patrimônio de cerca de 840 mil reais amealhados após 61 anos de trabalho e atividade política.
Após a descrição da vida pregressa de Lula, vem o relato do período posterior ao exercício da presidência. Quem editou o texto deve estar desinformado sobre as atividades do ex-líder ao postar que Luiz Inácio dedicou-se, com rara desenvoltura, a palestrar em recintos fechados para algumas das mais importantes empreiteiras do país. Segundo o texto, Lula cobra entre R$200 mil e R$320 mil reais por suas palestras.
Afirma, ainda, que redes de televisão, rádios, jornais, blogs, sites, nacionais e internacionais divulgam investigações da Polícia Federal e do Ministério Público e do Poder Judiciário que implicariam o ex-presidente em atos ilícitos praticados por seus companheiros em cumplicidade com empresários, servidores públicos, parente consultor da Wiki, e até com o marqueteiro vendedor de ilusões.
Pela atualidade da letra, só faltou dizer que Lula colaborou com seu fã Chico no “Samba de Orly”: “Pede perdão/pela duração dessa temporada/Mas não diga nada/Que me viu chorando/E pros da pesada/Diz que vou levando/Vê como é que anda/Aquela vida à toa/ Se puder me manda uma notícia boa”.
Comparando as informações do passado e do presente publicadas na Wikipédia, creio que o perfil de Lula é falso.
25 de fevereiro de 2016
Paulo Castelo Branco
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