"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

MONÓLOGO INSOSSO PARA APASCENTAR BOVINOS

De alguns anos para cá, virou moda falar em "globalização". É chique dizer que "nosso planeta se transformou em uma aldeia global". Qualquer crítica a esta ideia é logo ignorada ou rotulada de "reacionarismo". Assim, considere-se um ser "globalizado"!

Será nesta qualidade - a de um ser "globalizado" - que aguarda-o sua primeira experiência: sair pelo mundo afora tentando ligar o carregador de sua filmadora em uma simples tomada elétrica. Você irá descobrir que o modelo brasileiro é incompatível com o argentino, que por sua vez difere do norte-americano, que não aceita o inglês, e daí em diante.

Em seguida, aproveite sua viagem para tentar adquirir alguma roupa ou calçado - e prepare-se para sofrer muito com a total falta de padrões que flagela os habitantes desta "aldeia global". A verdade é que dos calçados às tomadas elétricas, das medidas de peso e velocidade às roupas, muito pouco há de "globalizado" neste planeta.

O passo seguinte será procurar, pelo mundo afora, a contrapartida ao amplo "processo de globalização" pelo qual passou o Brasil. Nosso país, generosamente, abriu suas fronteiras e entregou à administração e exploração de estrangeiros atividades estratégicas e fundamentais para o desenvolvimento.

Assim, procure lá pela Europa, América do Norte ou Ásia algum lugar que tenha entregue o mesmo tanto de sua economia a brasileiros - ou mesmo a outro país. Curiosamente, será fácil perceber exatamente o oposto: uma sucessão de barreiras e entraves ao ingresso de estrangeiros que fariam corar de vergonha o "Muro de Berlim".

Prossiga na sua caminhada, e tenha muitas surpresas. Na Argentina, encontre postos com a nossa bandeira vendendo gasolina mais barata que aqui. No Chile, descubra carros fabricados no Brasil sendo vendidos a preços bem mais razoáveis que os daqui. No Japão, perceba que os preços dos automóveis também é menor, apesar de eles serem feitos com matéria-prima importada - quase sempre daqui.

Diante da confusão que a viagem por esta "aldeia global" seguramente está causando em sua cabeça, volte ao Brasil. E tente comprar, aqui, um daqueles produtos de alta tecnologia vistos durante sua viagem nas vitrines norte-americanas ou européias. Descubra, absolutamente perplexo, que em média eles só chegam ao Brasil entre um e seis anos após lançados "lá fora". Tradução: neste mundo globalizado, que se conforme o consumidor brasileiro em comprar quase sempre produtos obsoletos - e a "peso de ouro".

Entenda-se bem: sou contra o isolamento. Acredito no livre-comércio. Defendo a queda das barreiras comerciais. Sim, sou a favor disso tudo - desde que para todos. Porém, o que vejo é um Brasil se "globalizando" em um mundo a cada dia mais regionalizado. Causa-me revolta, enquanto brasileiro, ver nossa economia desnacionalizada às custas da ruína de muitas empresas genuinamente nacionais. Revolta-me o espírito ver algumas de nossas maiores riquezas não-renováveis e atividades mais importantes sendo exploradas por estrangeiros, sem que se tenha a menor notícia de alguma reciprocidade. O fato, esgotadas as boas intenções, é que esta "globalização tupiniquim" que nos empurraram pela goela abaixo mais parece - e perdoem-me o desabafo - monólogo insosso para apascentar bovinos. Ou, em bom português, "conversa mole para boi dormir".



22 de junho de 2015
Pedro Valls Feu Rosa

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