"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

LULA, QUE JÁ TRAIU DIRCEU, COMEÇA A TRAIR A COMPANHEIRA DILMA



Uma das características da política é sua relação com a arte do cinismo. O que vale não são propriamente os fatos, mas as versões e as aparências. Até a semana passada, por exemplo, o ex-presidente Lula da Silva e sua sucessora Dilma Rousseff faziam um esforço enorme para se suportarem em público, numa tentativa de transparecer que se dão bem e não nutrem o ódio que na verdade cada um sente pelo outro.
As matérias que a Tribuna da Internet vinha publicando desde o início de 2012, quando começaram os desentendimentos entre Lula e Dilma, eram menosprezadas por muitos comentaristas, alguns se recusavam a acreditar. E a pantomima dos dois dava resultado, muita gente ainda acreditava que eles se entendiam e até decidiam juntos as principais questões administrativas do governo, vejam quanta ingenuidade.
Mas o tempo passou e todas as nossas informações sobre os desentendimentos agora se confirmam, em função dos corrosivos ataques de Lula contra Dilma, em reportagem publicada sábado por O Globo e já analisada aqui na TI por nosso grande amigo Pedro do Coutto.
CONVIVÊNCIA DIFÍCIL
Como todos sabem, Lula jamais aceitou transferir o poder. Escolheu pessoalmente os ministros de Dilma e se metia em tudo no início do governo dela, que tinha de aceitar a situação, por motivos óbvios. Porém, estava contrafeita, por achar que poderia conduzir o governo sozinha.
No final de 2011, Lula teve então de fazer tratamento contra câncer, sumiu durante alguns meses, e a presidente aproveitou para ir se descolando dele.
Os primeiros desentendimentos graves ocorreram em meados de 2012, na mudança dos sete ministros acusados de corrupção. Dilma não aceitou algumas sugestões de Lula, o clima esquentou, o relacionamento já não era o mesmo, conforme noticiava a Tribuna da Internet, com absoluta exclusividade, e o ex-deputado mineiro Sylo Costa até comentou a respeito, em artigo publicado no jornal O Tempo, quando estranhou que a grande imprensa não apurasse as informações divulgadas apenas pela TI.
O CASO ROSEMARY
No final de 2012, surgiu o escândalo de Rosemary Noronha, tida como a segunda-primeira-dama, e Lula ficou enfraquecido, teve de se recolher e passou a fugir da imprensa. Dilma, então, se considerou com força suficiente para enfrentá-lo e passou a governar sozinha. Mas Lula não aceitou essa autonomia dela e os desentendimentos aumentaram, passando a haver uma briga feia entre os dois, embora em público ainda tentassem manter as aparências.
De lá para cá, Dilma governou sozinha, e sua maior preocupação passou a ser a reeleição. Lula queria ser candidato, mas ela não aceitou, aproximou-se das principais lideranças do PT, formou um núcleo duro com Aloizio Mercadante, Ricardo Berzoini, Miguel Rossetto, Miriam Belchior, Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann, Ideli Salvatti e Antonio Palocci, e passou a minar Lula de todas as formas possíveis.
A nomeação de Mercadante para a Casa Civil, em janeiro de 2014, foi o grito final de independência, pois ele é detestado por Lula.
E quando foi se fortalecendo o movimento “Volta, Lula”, Dilma passou a jogar sujo. Mandou o Planalto vazar para O Globo e para a Veja uma série de matérias contra Rosemary Noronha, reavivando o escândalo. E para fazer Lula enfim desistir da candidatura e mandar o PT aprovar a reeleição de Dilma, o Planalto ameaçou revelar os extratos do cartão corporativo de Rosemary Noronha, com as compras feitas no Brasil e no exterior, nas 32 viagens internacionais em que a segunda-dama acompanhara Lula, na ausência da primeira-dama Marisa Letícia.
LULA NÃO PASSOU RECIBO
Lula jogou a toalha, mas não passou recibo, continuou se comportando como se tudo estivesse bem entre ele e Dilma. Para não dar na vista, chegou até a participar da campanha dela, gravando mensagens para rádio e TV e comparecendo a um ou outro comício.
Dilma se elegeu com muita dificuldade, precisou de uma ajuda providencial da Justiça Federal (leia-se: Dias Toffoli) na apuração nacional e na votação em Minas, tudo acabou bem para o PT. Mas o prosseguimento do escândalo da Petrobras, a crise econômica e ética, a volta da inflação, as pedaladas fiscais e o ajuste fiscal se encarregaram de demolir o governo de Dilma, que teve de terceirizar a articulação política e o comando da economia.
MAIOR INIMIGO DE DILMA
É hora de Lula aproveitar. Com a entrevista ao Globo, ele mostra que agora passou a ser o maior inimigo de Dilma. Está traindo a correligionária, da mesma maneira que traiu Dirceu. Há dois meses, quando o ex-ministro tentou marcar um encontro com ele, Lula se recebeu a recebê-lo. Certamente esqueceu da ajuda que Dirceu lhe deu no escândalo de Rosemary, quando conduziu a contratação dos advogados de Rose e se reunia pessoalmente com eles, conforme a Tribuna da Internet também publicou à época, com exclusividade.
Agora, Lula diz que será a próxima vítima da Operação Lava Jato. Para se livrar, ele é capaz de tudo. Portanto, podemos aguardar novos ataques a Dilma, a Dirceu e ao próprio PT. Resta saber se Dilma vai usar as armas de que dispõe e revelar o cartão corporativo de Rose, e se Dirceu vai ser novamente condenado como chefe de uma quadrilha que na verdade era conduzida pessoalmente por Lula.

22 de junho de 2015
Deu na Folha

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