O PT tem razão: o cerco está se fechando sobre Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo e cada vez mais perigosamente. O TCU deu a Dilma 30 dias para tentar escapar de um processo por crime de responsabilidade, que, em tese, pode lhe custar o mandato. E a PF prendeu, na fase Erga Omnes da Lava Jato, o presidente da maior empreiteira do País, Marcelo Odebrecht, que pode empurrar Lula para o olho do furacão.
Mesmo sem o processo contra Dilma e mesmo se a Odebrecht não chegar objetivamente a Lula, o desgaste político de ambos e do PT é gigantesco. Já teria enorme dramaticidade se a presidente tivesse índices pelo menos razoáveis nas pesquisas, as relações entre Executivo e Legislativo corressem dentro da normalidade, a economia fosse de vento em popa e a opinião pública estivesse acomodada. Ao contrário, o tranco ocorre quando a popularidade de Dilma é de dar dó e o ambiente é justamente o oposto.
Quanto mais frágeis a presidente e seu fiador, mais o País depende da liderança e da responsabilidade do seu Congresso e dos seus partidos políticos. Pois os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estão ambos sob investigação do Supremo Tribunal Federal, aliás, pela mesma Lava Jato que envolve Lula numa névoa de desconfiança.
Quanto mais Dilma e Lula perdem credibilidade e aura, mais desesperadamente precisam que a economia demonstre fôlego, mas, a cada dado, a recuperação parece ainda mais distante. A nova previsão de crescimento e os últimos indicadores de inflação e de emprego são de nocautear até os otimistas mais aguerridos. Recuamos 20 anos – sem falar de Petrobrás e do setor elétrico.
Por fim, quanto mais Dilma e Lula diminuem, mais aumenta o grau de participação da sociedade. Congressos, seminários e debates se multiplicam freneticamente pelo País, com as manifestações ainda fresquinhas na memória e a internet inundando a discussão de radicalização com viés anárquico – contra tudo, contra todos.
Além da irritação, o clima é de grande perplexidade mesmo em Brasília, onde habitam os mais experientes e frios observadores da cena nacional, sempre tão agitada, geralmente imprevisível, às vezes chocante. A diferença, desta vez, é que não há previsões, não se vê luz no fim do túnel, não se trabalha a convergência para uma saída segura.
As perguntas já pululavam quando Dilma queimou a largada do segundo mandato, mas agora elas pairam como fantasmas e se concentram, naturalmente, sobre quem está no poder: Lula escapa? Dilma tem condições de concluir o mandato? O que acontece se ela cair? E o que acontece se ela ficar? Como serão os próximos meses? E os próximos anos?
Assim com há as “dores do crescimento”, há a agonia dos estertores. A sensação, neste momento, é de que o País se sente num fim de ciclo, sufocado, sem entender direito o que se passa e sem ter a mínima ideia do que o espera ali na frente, a curto prazo, ou lá no horizonte, a longo prazo.
É como se o governo estivesse à deriva, ao sabor de ventos e marés nem sempre amistosos, às vezes cruéis, e sem líderes e partidos que possam assumir o leme. Há, assim, uma imobilidade perturbadora: a falta de liderança gera a falta de perspectiva, e a falta de perspectiva abala ainda mais as já anêmicas lideranças.
Dilma encerra o ciclo e o mundo político, em vez de buscar respostas e criar mutirões para a emergência, só pensa, come, dorme e sonha com 2018. Mas, como já lembrou machadianamente o petista José Guimarães, líder do governo na Câmara, “antes de 2018, tem 2015, 2016, 2017...”. Vale para o PT, mas que a oposição não se engane: vale também para todo o resto. Erga Omnes.
22 de junho de 2015
Eliane Cantanhede
Mesmo sem o processo contra Dilma e mesmo se a Odebrecht não chegar objetivamente a Lula, o desgaste político de ambos e do PT é gigantesco. Já teria enorme dramaticidade se a presidente tivesse índices pelo menos razoáveis nas pesquisas, as relações entre Executivo e Legislativo corressem dentro da normalidade, a economia fosse de vento em popa e a opinião pública estivesse acomodada. Ao contrário, o tranco ocorre quando a popularidade de Dilma é de dar dó e o ambiente é justamente o oposto.
Quanto mais frágeis a presidente e seu fiador, mais o País depende da liderança e da responsabilidade do seu Congresso e dos seus partidos políticos. Pois os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estão ambos sob investigação do Supremo Tribunal Federal, aliás, pela mesma Lava Jato que envolve Lula numa névoa de desconfiança.
Quanto mais Dilma e Lula perdem credibilidade e aura, mais desesperadamente precisam que a economia demonstre fôlego, mas, a cada dado, a recuperação parece ainda mais distante. A nova previsão de crescimento e os últimos indicadores de inflação e de emprego são de nocautear até os otimistas mais aguerridos. Recuamos 20 anos – sem falar de Petrobrás e do setor elétrico.
Por fim, quanto mais Dilma e Lula diminuem, mais aumenta o grau de participação da sociedade. Congressos, seminários e debates se multiplicam freneticamente pelo País, com as manifestações ainda fresquinhas na memória e a internet inundando a discussão de radicalização com viés anárquico – contra tudo, contra todos.
Além da irritação, o clima é de grande perplexidade mesmo em Brasília, onde habitam os mais experientes e frios observadores da cena nacional, sempre tão agitada, geralmente imprevisível, às vezes chocante. A diferença, desta vez, é que não há previsões, não se vê luz no fim do túnel, não se trabalha a convergência para uma saída segura.
As perguntas já pululavam quando Dilma queimou a largada do segundo mandato, mas agora elas pairam como fantasmas e se concentram, naturalmente, sobre quem está no poder: Lula escapa? Dilma tem condições de concluir o mandato? O que acontece se ela cair? E o que acontece se ela ficar? Como serão os próximos meses? E os próximos anos?
Assim com há as “dores do crescimento”, há a agonia dos estertores. A sensação, neste momento, é de que o País se sente num fim de ciclo, sufocado, sem entender direito o que se passa e sem ter a mínima ideia do que o espera ali na frente, a curto prazo, ou lá no horizonte, a longo prazo.
É como se o governo estivesse à deriva, ao sabor de ventos e marés nem sempre amistosos, às vezes cruéis, e sem líderes e partidos que possam assumir o leme. Há, assim, uma imobilidade perturbadora: a falta de liderança gera a falta de perspectiva, e a falta de perspectiva abala ainda mais as já anêmicas lideranças.
Dilma encerra o ciclo e o mundo político, em vez de buscar respostas e criar mutirões para a emergência, só pensa, come, dorme e sonha com 2018. Mas, como já lembrou machadianamente o petista José Guimarães, líder do governo na Câmara, “antes de 2018, tem 2015, 2016, 2017...”. Vale para o PT, mas que a oposição não se engane: vale também para todo o resto. Erga Omnes.
22 de junho de 2015
Eliane Cantanhede
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