Joseph Blatter, presidente da Fifa, trata o Brasil mais ou menos como os pais severos tratam os filhos indisciplinados, que precisam tanto de um estímulo como de um puxão de orelha, este antecedendo aquele, é lógico.
A imprensa brasileira está noticiando o que seria o recuo de Blatter, nessa sua relação de morde e assopra com as autoridades brasileiras. Bem, não há recuo nenhum, né? A velha raposa está apenas recorrendo à esperteza.
Blatter, como ele mesmo lembrou na entrevista em que criticou o atraso nas obras da Copa, é dirigente da entidade desde 1975. Sabe como são as coisas. Tem consciência de que uma entrevista sua será notícia no Brasil e no mundo inteiro. Se diz que nunca viu atraso igual ao do Brasil em quase 40 anos, é porque quer que o mundo saiba disso — e porque quer também que as autoridades brasileiras saibam que os outros sabem.
Agora, vem a público para afirmar o óbvio: tem confiança de que tudo será feito no prazo, que a disputa de 2014 será a Copa das Copas, que haverá recorde de público etc.
Recuo? Não. Ele não se desculpou. Ele não disse que sua avaliação estava errada. Ele não afirmou que trabalhava com dados falsos. Depois do alerta, para despertar os brios da brasileirada, expressou a sua confiança no evento.
Num dado momento, a Copa no Brasil chegou a corre riscos, sim. A Fifa pensou seriamente em mudar a sede da disputa em razão das trapalhadas oficiais. Considerou, depois, que seria um desgaste também para a entidade e preferiu manter a aposta no país, mas sempre com o pé atrás.
Blatter faz o que lhe cabe fazer. Parece que, a esta altura, está claro que a autoridades brasileiras só funcionam sob pressão. O preço do seu elogio é sempre um pito.
06 de janeiro de 2013
Reinaldo Azevedo
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