A economia mundial enfrenta em 2014 delicadas transições. Apesar das favoráveis estimativas quanto a uma reaceleração do crescimento global, o fato é que há enormes desafios a serem superados em diversas regiões do planeta.
A economia americana terá de demonstrar resiliência ante a gradual retirada dos estímulos monetários. As maciças injeções de recursos, as compras de títulos de renda fixa e a derrubada dos juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, elevaram os preços desses títulos, das ações e dos imóveis, aumentando a riqueza, reativando o consumo e reduzindo a taxa de desemprego. A transição de uma recuperação cíclica para o crescimento sustentável nada tem de trivial.Os europeus continuam sua difícil travessia institucional de regimes fiscais nacionais embutidos em regime de moeda única supranacional. Enquanto o Fed infla os preços dos ativos, camufla as perdas com a farra do crédito e transfere para os contribuintes os custos das operações de salvamento financeiro, o Banco Central Europeu, sob influência alemã, tornou-se a “instância dominante” da teoria dos jogos, forçando os tesouros nacionais a apertar o cinto.
Por quanto tempo abusarão os americanos do direito de emitir a antiga moeda-reserva da economia mundial, o dólar? Por quanto tempo aguentarão os europeus a disciplina exigida pelo euro, candidato a futura moeda-reserva global?
Há também importantes transições ocorrendo na Ásia. Os alquimistas japoneses praticam agora o “Abenomics”, tentativa de transformar papel colorido em riqueza. Os primeiros efeitos são sempre agradáveis. Sobem as bolsas, aumentando a “riqueza”, a moeda se desvaloriza, estimulando as exportações. Nada melhor em meio à guerra mundial por empregos.
Os problemas estarão à frente, quando subirem a inflação e os juros, pois a dívida pública excede 200% do PIB. Já a China tem de transferir para seu mercado interno de consumo de massa o eixo de sua dinâmica de crescimento, hoje sustentada por forte ritmo de investimento em infraestrutura e pela fabulosa engrenagem de geração de empregos lubrificada pelas exportações.
E o Brasil? Nada trivial transformar em crescimento sustentável uma expansão cíclica à base de crédito e transferências de renda já em estágio de exaustão.
06 de janeiro de 2014
Paulo Guedes é economista.
O Globo
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