"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA HÉLIO FERNANDES


Muitas vezes exportar não é a solução, no caso do Brasil, quase sempre MALDIÇÃO. Até Rui Barbosa errou em 1889.

Rui Barbosa foi ministro da Fazenda da República que devia ser civil e PROMULGADA. Foi IMPLANTADA por dois marechais. Assim surgiu a República, militar, militarista e militarizada. Discurso de posse de Rui: “A Revolução Industrial da Inglaterra já tem mais de 100 anos, continuamos um país ESSENCIALMENTE AGRÍCOLA”.

Ele se referia a São Paulo, que vendia 92 por cento de todo o café bebido pelo mundo. O país inteiramente dominado pelos “barões do café”, que enriqueciam e eram potências com esse único produto. Não pensavam em mais nada.

Os paulistas ficaram apavorados, mas como romper com aquele que era chamado de “o maior brasileiro vivo”? Só que Rui errou completamente no curto prazo, o café era uma riqueza sólida e que parecia eterna.

Rui foi acertar no longo prazo, com a crise de Wall Street, em 1929. (10 anos depois de ter sido derrotado para a presidência por Epitácio Pessoa. E 6 anos depois de ter morrido, em 1923).

O ESTRONDO DO FIM DO CAFÉ

Só para dar ideia da importância do faturamento do café: o Espírito Santo e o Estado do Rio exportavam 2 por cento cada um, viviam felicíssimos. São Paulo plantava, cuidava, colhia, ensacava e exportava 92 por cento desse café. Mas temos que reconhecer: todo o lucro dessa “operação café” era nacional, ficava com brasileiros. E com o país.

Depois do discurso de Rui, os paulistas aproveitavam um pouco dessa fortuna e começaram a industrialização no estado. Só que surgiu a crise de 1929 (ruína de Wall Street), ninguém comprava mais café, não havia dinheiro, as exportações foram até o chão.

O ERRO PRIMÁRIO DE VARGAS

Com o café no chão, o ditador primário tentou salvar o que restou. Então queimavam café ou jogavam no mar, supostamente para manter os preços. Ora, como o que faltava era dinheiro, as vendas caíram ainda mais. O Brasil continuou a produzir 60 milhões de sacas, para um mercado que, no auge, absorvia 15 milhões.

Com isso estimularam “burramente” a produção de outros países. Colômbia, Costa do Marfim, Angola (depois de guerras civis terríveis) e até o Vietnã passou a produzir e a vender mais (com preços “convidativos”) do que o Brasil.

Na Tribuna impressa tratei do assunto intensamente, com o título geral: “Exportar é a maldição”. E continua sendo, porque por trás de tudo estão as multinacionais, que ficam com os lucros totais. Incluindo soja, minérios e carne de boi. Um massacre contra o interesse nacional.

A QUESTÃO DO PETRÓLEO: MENTIRA E IGNORÂNCIA

As duas palavras que coloquei no título não precisam ficar isoladas. Em matéria de interesse nacional, são sempre conjugadas, derrotadas, desorientadas. Dona Dilma que está discutindo com Dona Marina para ver “quem sabe mais ou quem ainda precisa aprender”, devia ficar em silêncio.
Primeiro que, como não sai da televisão, suas tolices são retumbadas e disparatadas. Começou dizendo, “estamos muito satisfeitos”. Ia dizer o quê, a verdade, “esperávamos mais”?

DILMA ERRA ATÉ NA CONTA

Meia hora depois, voltou, e ufanista, explicou: “Fazendo o cálculo que antigamente chamávamos de armazém, recebendo 900 BILHÕES em 35 anos, ficaremos por ano com 20 BILHÕES”. E olhou para os lados, eufórica e triunfante.

Dona Dilma, sem maquininha, sem cálculo de armazém, com os números que a senhora citou, não “receberemos” 20 BILHÕES POR ano, e sim 24 BILHÕES. Mais 4 BILHÕES para o governo.

Dona Dilma, tenho que comparar e fico até envergonhado. Entrarão 24 BILHÕES por ano, mas SAIRÃO, para amortizar os juros da dívida interna, 180 BILHÔES.

PAGAREMOS QUASE OITO VEZES MAIS

Com todo o estardalhaço e precisando até chamar o Exército para executar a partilha que já foi a leilão, e têm a audácia de mostrar ao país e ao mundo que tudo isso só renderá 24 bilhões a mais? E a Petrobras e o governo, que falavam em receber 15 BILHÕES só de bônus, agora têm que pagar 6 bilhões e receber nove. Portanto, na “conta do armazém”, sobrarão apenas 3 bilhões.

Dona Graça, que acreditou mesmo no que dizem essas revistas de “fofocas” financeiras, que “é a mulher mais poderosa do mundo”, não quer nem falar com jornalistas. Eles estão trabalhando. E ela? Só disse duas coisas: “Não haverá aumento de combustível, não precisamos”. 2 – “A Petrobras não tem problemas de caixa, podemos pagar imediatamente os 6 BILHÕES”.

Ela já sabia, é claro, que o Tesouro já depositara 20 BILHÕES no BNDES. “amarrados” na conta da Petrobras. Tesouro, União, governo, BNDES, Petrobras, é tudo a mesma coisa. A mulher mais importante do mundo não podia desconhecer nada disso.

NINGUÉM ENTREGA SEU PETRÓLEO
Como tudo isso levará muitos anos para ser resolvido, estão tratando apenas da eleição de 2014, paremos por hoje. Apenas com a ressalva: petróleo não é para tratar da forma desprezível como estão fazendo.

Os maiores PRODUTORES de petróleo do mundo são também COMPRADORES. Incluindo os EUA, que invadem países para aumentar suas reservas.

Nós entregamos sorrateiramente o petróleo que nem sabemos quanto vale. Dizem que sabem, mas não provam. Começarão a receber a partir de 2020. E extração de petróleo acima de 1 milhão de barris, só depois de 2029. Esses números são oficiais e oficializados.

ANISTIA NO SUPREMO: A HORA DA VERDADE

O ministro Marco Aurélio está coberto de razão: “O tribunal, que já aprovou a anistia ampla, geral e irrestrita, pode mudar de posição”. Argumento indissolúvel do ministro que, em 2010, votou a favor da legitimidade dessa anistia.
Segundo ele, e no argumento com toda razão, “o Supremo que aprovou em 2010 não é mais o de hoje, 2013, ou o de amanhã, 2014”. Como fui o único que, 24 horas depois da absurda votação, critiquei, volto na mesma linha: não houve acordo algum, os que combateram, lutaram, protestaram, resistiram não foram consultados.

DISPLICÊNCIA DO SUPREMO
Mais grave ainda: essa “autoanistia”, além da impunidade, tinha o grande objetivo de criar a “transição indireta”, festival Wagner da iniquidade jurídica, política, eleitoral. Por causa desse ato de força militar (mais um), só houve eleição direta em 1989.

REABILITAÇÃO DO TRIBUNAL
Três dos que votaram a favor da anistia já foram para casa. Dois que estava em casa foram para o Supremo. E ministros como o próprio Marco Aurélio devem estar interessados em contrariar os generais complacentes.
É a oportunidade do tribunal votar com consciência. E a favor da comunidade. Não tenho dúvida: a anistia de 1979 será derrotada e considerada inconstitucional.

INVESTIGAÇÃO VEIO TARDE, NO MÍNIMO COM 30 ANOS DE ATRASO

A impunidade será eterna pela própria razão de ser. Com todos os generais S-A-B-I-A-M-E-N-T-E mortos, o crime de lesa-humanidade, que não prescreve, prescreveu. A Comissão da Verdade devia ter começado com os atos praticados pela ditadura, a partir de 1981. Dois anos depois da AUTOANISTIA.

No meu depoimento ao Senado, responsabilizei o general Otavio Medeiros por tudo o que estava sendo planejado para que a DITADURA NÃO SE ESGOTASSE.

Tinha duas “credenciais”, uma potência. 1 – Chefe do SNI, fábrica de “presidentes”. 2 – Se a ditadura continuasse, ele era o general da vez, nenhum “presidenciável” militar concorreria.
Contei tudo, só não podia “adivinhar” que eram insensatos a ponto de planejarem o Riocentro. Quase três meses depois, planejaram, articularam e executaram. O ato criminoso do Riocentro.

O ATENTADO GOLPISTA DO GENERAL MEDEIROS

O atentado contra a Tribuna, vingança, tentaram tudo contra mim, não conseguiram me intimidar nem fazer com que saísse do Brasil.
O quase massacre do Riocentro, o sonho que consideravam fácil de transformar em realidade, fracasso total.
Chefiado pelo mesmo general do SNI, e suposto sucessor de João Figueiredo. Mas com todos esses dados IRREFUTÁVEIS, como punir alguém? A melhor saída para esse grupo que desperdiça tempo e acumula impossibilidade é apenas uma: PEDIDO DE DEMISSÃO COLETIVO.

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 PS – O artigo de ontem de Carlos Lessa deve ser lido, relido, aplaudido e guardado, depois de exibido para amigos e companheiros. É um Tratado de talento, bom senso, brasilidade e defesa do interesse nacional.

PS2 – José Guilherme Schossland, desculpe, mas eu sei que a Comissão do Terror, na qual prestei meu depoimento, em março de 1981, era presidida pelo senador Mendes Canale, do Mato Grosso.

PS3 – Mas pela tradição dessas CPIs, (e continua sendo) o relator era mais atuante, participante e importante. E esse cargo foi ocupado por Franco Montoro, depois governador de São Paulo.

PS4 – Quanto ao desaparecimento do Amarildo, perdão, do meu depoimento, os suspeitos são muitos. Não é impossível localizar ou identificar os maiores culpados. São todos interessados no conteúdo do depoimento. Eu não fui a Brasília a passeio. Para investigar, só investigar, falta apenas boa vontade.

PS5 – O filme sobre Guimarães Rosa exalta a figura do diplomata e escritor durante a Segunda Guerra Mundial, quando servia na Alemanha. As filhas do escritor querem VETAR o filme.

PS6 – Guimarães Rosa não precisa de nenhum impulso, sua obra é representativa, vale qualquer filme. Mas se o filme não for exibido para o público (ontem, excepcionalmente, foi visto em SP por convidados), quem perde é o país.

PS7 – Alegação da família, a mesma insinuação “rústica”: preservar a intimidade. Que intimidade de um homem como Guimarães Rosa tem que se P-R-E-S-E-R-V-A-D-A.

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