"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

FUTURO SEM PASSADO

 

Tom Jobim um dia fez um comentário preciso: no Brasil ninguém gosta de quem faz sucesso. Não sei se foram essas as palavras exatas, mas o sentido foi esse.

Vejo o caso do Pelé como exemplo. O cara foi eleito, mais de uma vez, O Atleta do Século, por revistas estrangeiras especializadas na área. Na Europa ele é idolatrado. Os maiores jogadores europeus rasgam elogios a ele e, no entanto, não é que de vez em quando leio um comentário dizendo que o crioulo não jogava nada? Que ele pensa que jogava?

Outro exemplo: o escritor Paulo Coelho. Seus livros, com 66 traduções, vendem uma barbaridade em 150 países. Foi escolhido Mensageiro da Paz pela ONU, tem uma carrada de prêmios internacionais, em qualquer site de citações lá está uma frase do Paulo Coelho mas, para nós, críticos literários natos, ele não escreve nada.

Ingratos, é o que somos.

Um amigo me enviou uma listinha curiosa. O que algumas celebridades falecidas faturaram nos EUA, em 2012, com livros, músicas, camisetas, fotos, tirinhas, DVDs, canecas, filmes, ou seja lá o que for que tenha citado as figuras.

• Michael Jackson – US$200 milhões
• Elvis Presley – US$60 milhões
• Charles Schulz – US$26 milhões
• John Lennon – US$15 milhões
• Albert Einstein – US$12 milhões


Isso é absolutamente razoável, dirá o brasileiro deslumbrado. É muito justo que eles, ou seus herdeiros, usufruam do fruto de suas obras. Michael Jackson era um fenômeno. Snoopy e seus amiguinhos são maravilhosos. E cantar ‘Imagine’, não faz um bem imenso à alma?




Será que pensam que isso tudo é do povo americano? Que quando compram um DVD para mostrar aos filhos quem foi o sensacional Elvis Presley só o Tio Sam lucra? Que quando vibram com a foto debochada do gênio que transformou o mundo, só quem ganha é o tesouro americano?

Santa patetice!

Se em vez de criar, escrever ou pintar o brasileiro investisse seu tempo e sua energia em comprar e vender ações da Bolsa de Valores, ou abrisse uma empresa para servir ao governo ou fundasse uma igreja, tudo bem que ganhasse fortunas e tivesse um apartamento em Paris ou Shangai. Mas quando ele lida com o abstrato, o intangível, o conhecimento, o que é de todos, é um absurdo que só ele lucre!

Uma das muitas diferenças entre os States, a Europa, a Ásia e EstePaís é essa: lá eles cultivam o sucesso no presente e no passado. Lá os governos investem na restauração de castelos, quadros, filmes, manuscritos, partituras e o povo não reclama: aquilo é seu passado, é o alicerce do futuro. Aqui queremos ter futuro sem passado.

O cultivar inclui, naturalmente, além de mil e um objetos e homenagens as mais diversas, biografias. Entre numa livraria no exterior e peça ao vendedor um livro sobre seu diretor de cinema ou seu atleta favorito, vivo ou morto. Terá dificuldade na escolha...

A pior morte, a definitiva, é o silêncio.

25 de outubro de 2013
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

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