"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

"DILMA EM TRÂNSITO"

Viagens da presidente, para inaugurações comezinhas em diversos cantos do país, inscrevem-se na lógica eleitoral já utilizada por Lula
 

Por que não apostar no que dá certo? O governo Lula foi marcado pelas constantes viagens do presidente, a pretexto de inaugurações de obras e eventos nos mais diversos pontos do país.
 
O clima de permanente campanha eleitoral, alimentado por discursos ainda mais ziguezagueantes que seus deslocamentos, ajudou a manter a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo durante seus tempos de menor fausto.
 
Advertida, talvez, pelo brusco declínio de popularidade que se seguiu às manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff intensifica sua agenda de inaugurações pelo país. De 1º de janeiro a 15 de outubro deste ano, foram 51 dias de viagem, contra 36 no mesmo período de 2012 e 43 em 2011.
 
A praxe de comparecer a eventos festivos compõe a rotina de qualquer governante. A nota consternadora se faz sentir, contudo, tão logo surgem especificados os motivos oficiais de cada ocasião.
 
Fortaleza, Ceará, 3 de abril: "cerimônia de entrega de máquinas retroescavadeiras e motoniveladoras", informa o site da Presidência. João Pessoa, Paraíba, 4 de março: "cerimônia de entrega de 22 máquinas retroescavadeiras". Cascavel, Paraná, 4 de fevereiro: "cerimônia de entrega de 29 máquinas retroescavadeiras".
 
A pontualidade do Planalto nesse tipo de distribuição é impressionante. A menos que se trate de algum tipo de código para despistar os órgãos de espionagem americanos, tanta prioridade concedida ao maquinário de tração pesada parece denunciar a falta de coisa mais significativa a oferecer.
 
Um presidente brasileiro já declarou, no passado, que governar é construir estradas. Outros políticos dizem que o importante não é dar o peixe, mas ensinar a pescar.
 
Juntem-se os dois lemas e provavelmente se concluiria que governar não é mais construir estradas, mas dar motoniveladoras para que, nos municípios, cada qual encontre o seu próprio rumo.
 
A Presidência não se restringe, cabe reconhecer, ao interesse por tais equipamentos. O programa Minha Casa Minha Vida oferece ocasião para muitas outras solenidades --ainda que nem sempre à altura de uma das maiores economias do mundo, muito menos proporcionais à extensão das carências da população atendida.
 
Em Campinas, São Paulo, em 29 de agosto, a presidente esteve na entrega de 520 unidades habitacionais do programa. Anteontem, em Vitória da Conquista, Bahia, foram mais 1.740 casas.
 
A Copa do Mundo haverá de propiciar, sem dúvida, momentos mais grandiosos --enquanto investimentos realmente importantes em infraestrutura marcam passo há vários anos.
 
Mas o importante para Dilma Rousseff, agora, é o palanque: nenhuma obra se constrói tão rapidamente, em terreno já aplainado por seu antecessor.

17 de outubro de 2013
 Editorial da Folha

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