"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

"FIM DE FESTA"

Arrecadação em queda leva governos a adotar medidas de austeridade fiscal; gasto de Estados com servidor se aproxima de limite legal
 

Os dados não deixam dúvida. Chegou ao fim o período de forte crescimento da arrecadação tributária. O Orçamento federal sofre conhecidas restrições, e pelo menos 20 governos estaduais passaram a adotar medidas de austeridade neste ano.
 
No conjunto dos Estados, cortes de gastos com serviços essenciais e investimentos, redução de salários no alto escalão, demissão de 4.000 funcionários e extinção de secretarias são algumas das medidas de enxugamento, que já atinge R$ 9,6 bilhões em 2013.
 
As razões para a penúria são o ritmo lento da economia --que freia a arrecadação de ICMS-- e as desonerações de impostos, especialmente do IPI (ambos os tributos alimentam os cofres estaduais). No nível federal, as receitas estão estagnadas em termos reais, e os repasses aos Estados diminuem.
 
Depois de anos de crescimento acelerado, fica evidente, como é tradição no Brasil, que parcela dos recursos adicionais destinou-se a inchar a máquina pública. Nos últimos quatro anos, as despesas com funcionalismo cresceram R$ 55,7 bilhões --um aumento de 44,2%, muito acima da inflação.
 
Como resultado, os Estados se aproximam perigosamente do limite de gastos de pessoal permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (49% da receita) --a média observada nos primeiros quatro meses de 2013 foi de 92% do teto.
 
O problema é que a estagnação das receitas não se traduz imediatamente no mesmo comportamento das despesas. Devido a promoções e incorporações de benefícios, a folha de pagamento tem crescimento natural de 2% a 3% ao ano. O peso maior do ajuste recai, pois, sobre despesas não carimbadas.
 
Do lado financeiro também se acumulam problemas. O endividamento dos Estados e municípios já é grande --a cidade de São Paulo, por exemplo, arca atualmente com juros reais (além do IGP-M) de 9% ao ano. Os gastos com juros sufocam o Orçamento.
 
Por outro lado, a busca por acelerar os investimentos em todo o país tem levado o governo federal a autorizar a contratação de mais dívidas. Com a anuência da União, os empréstimos externos para os Estados triplicaram desde 2011.
 
Trata-se, sem dúvida, de quadro fiscal preocupante. O superavit primário (antes das despesas de juros) de Estados e municípios tem caído --hoje está em 0,45% do PIB, contra meta de 0,95%. Nada recomenda, no atual cenário econômico, otimismo no curto prazo.
 
Governadores sabem que as recentes demandas por serviços públicos de qualidade permanecerão no ano que vem, por causa das eleições. A disputa pelos escassos recursos tende a acirrar a tensão entre as bancadas estaduais no Congresso e o governo federal.

22 de agosto de 2013
Editorial da Folha

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