"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

EDUARDO CUNHA: O LYNDON JOHNSON SEM IDÉIAS


Ambos financiaram campanhas parlamentares de colegas e amealharam poder - mas as semelhanças acabam aí

Não há, para meu gosto, político mais fascinante do que Lyndon Johnson, presidente dos Estados Unidos de 1963 a 1968. Li os quatro volumes da magistral biografia escrita por Robert A. Caro, que está finalizando o quinto livro. Valem por um curso de barganha legislativa.

Quando o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começou a ganhar evidência, no segundo semestre de 2014, como possível presidente da Câmara dos Deputados, pensei em Johnson. Com uma presidente fraquíssima, incapaz de gerenciar sua coalizão, Cunha estaria em uma posição semelhante à de um Speaker norte-americano. 
Teria espaço para propor suas ideias e avançar uma agenda legislativa diferente da presidencial.

Lyndon Johnson nunca foi presidente da Câmara nem do Senado. Foi líder da maioria democrata por seis anos de seus mandatos como senador (1949-1961). 
Assim como Cunha, Johnson ganhou muito poder influenciando a eleição de alguns colegas. 
Recebia dinheiro das empresas petroleiras de Texas – como a Gulf Oil do lobista Claude Wilde Jr. – e repassava para candidatos democratas de outros estados.

Um caso citado por Robert Caro é o do deputado federal Earle Clements, eleito senador em 1952 com ajuda de Johnson. 
Clements conseguiu o cargo e depois coordenou a campanha de Johnson à vaga de candidato à presidência pelo Partido Democrata em 1960. (O também senador John F. Kennedy contou para seu amigo Ben Bradlee que Johnson nunca aceitaria a vice-presidência – mas ele acabou topando.)

Se Johnson usou o dinheiro do petróleo texano para angariar amigos no Senado, Eduardo Cunha também se beneficiou de recursos naturais. 
De acordo com esta reportagem da Agência Pública, 70% da campanha de Cunha foi financiada por empresas mineradoras. 
Em Brasília, é comum ouvir falar que o deputado financiou campanhas de vários outros parlamentares por baixo dos panos – daí seu imenso apoio.

Mas, ao contrário de nosso deputado carioca, não faltavam ideias para Lyndon Johnson. 
Ainda senador, foi crucial para a aprovação da lei que garantiu aos negros o efetivo direito ao voto em 1957. (Antes disso, era fácil impedir que negros tirassem título de eleitor, como mostra John Hersey em uma reportagem de seu ótimo “Life Sketches”.)

A maior ideia de Cunha? Implementar o “distritão” no Brasil. Sistema eleitoral do Japão entre 1947 e 1993, o “distritão” manteria nossos dois principais problemas de competição eleitoral: briga entre candidatos da mesma legenda e excesso de partidos com representação. 
A proposta foi rejeitada com 267 votos contrários, 210 favoráveis e cinco abstenções em maio do ano passado.

Lyndon Johnson e Eduardo Cunha souberam usar financiamento ilegal de campanha a seu favor. Tornaram-se influentes ajudando a eleição de outros parlamentares. (No caso de LBJ, apenas democratas.)

Mas Johnson usou seu poder parlamentar para melhorar a vida dos norte-americanos. Cunha, por sua vez, tinha como ambição fazer indicações políticas para a Receita Federal e acumular dólares na Suíça.

Merece a cassação.



05 de maio de 2016
Sérgio Praça

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