"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

PÉ NA AREIA x PÉ NA CADEIA



A escalada da corrupção se une à incompetência e forma sinergia com a desgovernança que assusta milhões de brasileiros. Um desemprego jamais visto, podendo chegar a 10 milhões, alta inflação e mais grave ainda o governo querendo no seu plano surrealista tomar o dinheiro do trabalhador como fez anteriormente no malsinado programa de capitalização do pré-sal. Bastou colocar o pé na areia para a suspeita do pé na cadeia, tamanha a promiscuidade entre o público e privado que se misturam e formam só um regime de tentar dissimular e confundir a opinião pública.

A prisão efetuada ligada a detentores de off shore  demonstra que a COAF ainda não tem a suficiente infraestrutura e também o Banco Central para coibirem a lavagem de dinheiro e o desvio que se torna uma rotina extremamente danosa aos cofres públicos. Todos sabemos que a contribuição feita à cooperativa nos individualiza uma cota na qualidade de cooperado e se a entidade fora declarada insolvente, quem contribuiu
também deve pagar a conta e não receber vantagens ou créditos.

Nada obstante o denuncismo prevalece e o entrechoque estabelecido pode fustigar ainda mais a fogueira das vaidades entre os poderes da republica. Agora que o Congresso retoma os trabalhos e também o Poder Judiciário, a sorte estará lançada, o impedimento perdeu força e a governabilidade continua sem qualquer credibilidade. Nossos homens públicos irresponsáveis jogaram a grande chance e a única oportunidade de colocar o Brasil entre as grandes potências, mas somente fizeram zika e emprestaram a bandeira do subdesenvolvimento, do atraso.

No entanto, jogam com o futebol patrocinado por banco público, com o carnaval por meio de investimentos a serem investigados, e na sempre toada da cerveja que empanturra a sede de milhões de brasileiros, carentes de remédios, saneamento, de transporte público. Nesse Brasil que é um retrocesso total, a vida é um risco diário, com a violência e seguidos tiroteios. Entre as cidades mais violentas do mundo temos 21 delas no Brasil, e se fala em jogos olímpicos se o governo fluminense alega não ter dinheiro para pagar servidores e quer tomar a grana emprestada para depois devolver, uma piada de muito mal gosto.

E assim caminha a sociedade brasileira entre a tragédia e a epopéia, entre o desgaste diário e o dia de ver nas urnas o desconforto de sua população. Basta vermos nos EUA quando as primárias colocam o candidato submetido à opinião pública, mas no País, de voto obrigatório, lançam nomes dos partidos e a população é obrigada a aceitar sem saber de nada, chegar nas urnas e votar.

Do que adianta mantermos uma urna eletrônica que representa o sistema mais moderno e avançado de se votar se não temos candidatos que possam, minimamente, olhar para a população e prestar contas. A cada ano que se passa faltam creches, escolas, remédios para a população, leitos hospitalares, e os preços administrados sobem acima da inflação e que se dane a população, pois os espertalhões estão sempre de plantão.

Embora não se vendam mais imóveis os preços nas alturas e as construtoras, favorecidos pelo faminto poder público, erguem espigões de tamanhos minúsculos, atrás somente do lucro fácil, sem qualidade e pessimamente localizado, no meio de casas sem arborização e espaço. Continuamos nosso atraso multisecular que se sustenta, o pé na areia de algo fantasmagórico de milhões, enquanto a maioria dos cooperados não viu a cor do dinheiro ou o apto comprado, e outros com receio do pé na cadeia confessam que a operação visava a blindar patrimônio de uma endividada que passou tudo para o nome de amiga.

Contam-se tantas estórias da carochinha que a opinião pública menos
arriscada e desavisada acaba acreditando que há almoço gratuito. Perderemos o trem do desenvolvimento. Aliás nunca ousamos construir ferrovias e os trajetos são tantos que se fossemos fazer teríamos pelo menos dez anos de obras. Mas não nos inquietamos, priorizamos os aeroportos inacabados, preços altos de passagens e aviões praticamente vazios. Somos o País no qual as empresas aéreas desfrutam do maior prejuízo, não apenas pelo preço do combustível querosene, mas da tributação e dos trechos pouco inteligentes cobertos.

O Brasil se destaca e radicaliza nos seus extremos. De um lado o pé na areia em local luxuoso, badalado e de frequencia seleta. Doutro o pé na cadeia daqueles que se travestiram de benfazejos e honestos senhores da constituição, mas lançaram o País na lama da corrupção e no mais grave momento de sua crise. E o governo parece dialogar como surdo mudo, não sabe a gravidade da situação, e tenta empurrar com a barriga e jogar no FGTS e no dinheiro dos bancos públicos a carta mágica.

No segundo semestre, após as Olimpíadas, quando o mosquito mostrar a sua cara, o Brasil precisará acordar desse sono profundo e irresponsável.

03 de fevereiro de 2016
Carlos Henrique Abrão, Doutor em Direito pela USP, é Desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo.

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